-Aqui, gelo vai ajudar.
Anne me alcançou um guardanapo que envolvia um cubo de gelo para que eu colocasse em meu nariz que agora não só não parava de sangrar, como também estava latejando e estava bem roxo, certeza que iria ficar torto. Meu nariz certamente ficaria torto depois do soco que Aberforth me dera no meio do funeral de nossa irmã.
-Obrigado, Anne. Muito obrigado.
Respondi erguendo a cabeça enquanto colocava o gelo no lado machucado do meu nariz, fechando os olhos com força, não me importando muito com as lágrimas que estavam caindo. Eu estava na sala e Aberforth na cozinha, virado de costas pra mim e chorando baixinho com a testa encostada na mesa.
-Eu não quero vc aqui, Albus. Eu quero que vc vá embora, entendeu?
Abaixei a cabeça arrependido e me virei na direção do mais novo, que agora estava se levantando da mesa e direcionando seu olhar irritado para mim.
-Eu vou pra Paris, Aberforth... Ficar na casa de um colega de estudo. Eu... Vou continuar te escrevendo.
-Mande quantas cartas quiser, eu não vou responder nenhuma delas. -Ele murmurou socando a mesa. -Eu não quero mais saber de vc!
-Abe, calma. -A garota o chamou, segurando em seu braço, tentando acalmá-lo.
-Ele está certo, Anne, eu arruinei tudo, eu tenho que ir embora. -Sussurrei vendo a loira me fitar com dúvida. -Eu vou te aparatar na Estação King's Cross amanhã e depois vou embora pra bem longe, se é isso que vc quer.
-Eu não preciso que vc me leve, Albus. Eu vou com os tios da Anne.
Concordei me levantando, subindo as escadas e entrando em meu quarto. Ainda chorando deixei o papel com gelo encima da minha mesa e peguei minha mala que costumava usar em Hogwarts, começando a tirar minhas roupas do armário, as colocando na mala. Peguei meus livros, algumas das poções que eu tinha em casa, minha varinha e meu cachecol vermelho e amarelo da Grifnória, o enrolando no pescoço.
-Nicolau Flamel. Paris, Rua dos Gritos - 167.
Peguei minha mala, saí do quarto e desci as escadas, encontrando Aberforth e Anne no sofá, com a garota passando a mão nas costas do meu irmão, que olhava pra baixo irritado. Mas assim que o mais novo me viu chegando no pé da escada, ele levantou num sobressalto, tirando a varinha do bolso e lançando um feitiço na minha direção, que não me acertou por pouco.
-Aberforth! -Gritei, tendo que me abaixar pra desviar de mais um feitiço. -Pare! Aberforth, pare!
-Sai da minha frente, Albus!
Ele gritou tentando me acertar novamente enquanto eu, desesperado, tirava a varinha do bolso, pegava na alça da mala e então aparatava pra calçada, fugindo de um último feitiço do meu irmão.
-Céus. -Falei assustado, me levantando e correndo até a casa da Sra.Bagshot. -Alohomora.
Pronunciei o feitiço, abrindo a porta da casa da historiadora, que naquele momento estava na casa de uma de suas amigas. Deixei minha mala em frente a lareira dela e foi apenas por desencargo de consciência que subi as escadas até o quarto de Gellert. Pra minha não tão surpresa, estava vazio e com tudo revirado, o loiro havia fugido às pressas na noite anterior, deixado algumas de nossas cartas na mesa e tudo bagunçado.
-Como eu sou idiota. -Afirmei pra mim mesmo enquanto descia as escadas. -É tudo culpa minha.
Peguei um pouco de pó de flu que estava em uma das cerâmicas na estante da lareira da casa, puxei minha mala com a outra mão e entrei na estrutura. Repeti o endereço do Nicolau Flamel alto e claro e logo fui transportado para outra lareira, na casa do francês, que estava na sua bancada repleta de tubos de ensaio.
-Sr.Flamel? - Perguntei para o bruxo que estava de costas pra mim, enquanto adentrava na casa. -Me desculpe por entrar assim, Sr.Flamel, eu... Eu vim às pressas. Devia ter mandado uma carta, me desculpe.
-Albus! -Ele disse assim que se virou, esboçando um sorriso animado. -Que bobagem, meu melhor aluno pode entrar na minha casa quando quiser.
Eu não era aluno dele propriamente falando. Havíamos conversado por apenas uma semana no início do meu 7° ano em Hogwarts e eu havia fornecido algumas informações de grande valia para uma de suas pesquisas, e era apenas isso. Mas eu não podia negar que havíamos virado amigos depois disso e continuamos a trocar algumas cartas durante aquele ano.
O mais velho logo notou que eu estava entristecido e tratou de fechar o sorriso no mesmo instante, agora adquirindo uma feição mais preocupada.
-Albus? O que foi que aconteceu, jovem? E... O que houve com seu nariz?
Deixei a mala do lado do sofá e fui pra mais perto do bruxo, colocando as mãos nos bolsos e abaixando a cabeça derrotado.
-É uma longa história, Sr.Flamel, mas... Minha irmã, Ariana, faleceu e eu fui expulso de casa por meu irmão, Aberforth.
Eu passei os próximos 15min explicando ao alquimista tudo que havia acontecido durante o verão, mas omiti a parte de que eu e Gellert tivemos um relacionamento. Ele derrubou lágrimas comigo, me abraçou e disse que eu poderia ficar em sua casa o tempo que fosse necessário.
-Eu posso lhe ajudar com suas pesquisas, Sr.Flamel, posso ser seu assistente. -Sugeri enquanto entrava no quarto de hóspedes que ele havia me levado.
-Eu iria adorar ter sua ajuda. Estou começando um estudo que talvez lhe chame a atenção. Estou tentando descobrir possíveis usos de sangue de dragão.
-Isso é interessante. -Respondi me sentando na cama. -Aposto que ter grandes avanços.
-Acredito que sim, mas agora descanse, Albus. Tome um banho e daqui a pouco irei preparar o jantar e então te chamo.
-Muito obrigado, Sr.Flamel, eu nem sei como retribuir.
-Não precisa retribuir. -O mais velho respondeu saindo do quarto. -Estou aqui pra conversar caso vc queira desabafar. É isso que amigos fazem, ajudam um ao outro, dão apoio.
-Obrigado. -Falei levantando o rosto. -Obrigado por ser meu amigo.
-Eu sabia que depois de 550 anos eu ainda seria o popular. -Franzi o cenho com a frase, vendo o mais velho sair.
"Bom, ele não aparenta ter mais que 375 anos."
Me levantei de volta, colocando a mala sobre a cama e tirando um pijama e uma toalha e indo para o banheiro do quarto.
Minha vida agora seria diferente de tudo que eu havia planejado, tanto antes de voltar a Godrics Hollow, como enquanto estava com Gellert. Meu irmão me odiava, eu havia destruído minha família, falhado como homem da casa, falhado como amigo, falhado como pessoa. Eu havia me iludido tanto com Gellert que havia deixado minha melhor amizade, Elifas Doge, de lado. Havia deixado tudo que realmente importava de lado por um rapaz que só me usou desde o início.
Eu havia entregado de bandeja todos os registros, dicas, feitiços e mapas para a Varinha das Varinhas ao possível maior bruxo maléfico que meu mundo iria conhecer daqui uns anos. O pior, eu havia feito um pacto de sangue com o esse bruxo maléfico, era incapaz de lutar com ele, e a culpa era toda minha. O mundo trouxa entraria em ruínas e a culpa ia ser minha.
"A culpa é minha."
Eu sou uma péssima pessoa.
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Grindeldore - My Gift and My Curse
FanficA única coisa que lhe peço, é que vc nunca se esqueça disso: Não importa qual caminho vamos seguir. Não importa se vamos discordar. Não importa o que aconteça conosco. Mesmo separados, nós ainda estaremos juntos. Você é o meu primeiro e único amor...