Sétimo conto: Luzia

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LUZIA

 Fazia muito calor naquele dia de verão em Lamas¹, Peru. Os termômetros marcaram 35°C e as crianças do Orfanato Santa Carmelita brincavam com mangueiras d'água que as freiras liberaram, pois sempre em setembro, os dias eram os mais quentes, mas aquele estava além do normal, que raramente ultrapassava os 33°C.

Entre as crianças estava Luzia. Uma menina alegre e gentil, que praticamente nasceu na instituição de crianças órfãs da pequena cidade.

As freiras nunca entenderam porque ela nunca fora dotada, pois entre todas as meninas da idade dela, era a mais alta e solicita, além de ter lindos olhos esverdeados e infelizmente isso contava como padrão de beleza.

Luzia, chegou lá, com apenas alguns dias de nascida e recebeu este nome em homenagem a santa católica Santa Luzia², pois tinha belos olhos esverdeados, que contrastavam com sua pele morena, por esta razão, as religiosas deram-lhe este nome.

Agora com 16 anos, a menina via a idade máxima de ficar no orfanato se aproximar e, temia ter que ir embora. Para ela, ali era seu lar e as religiosas e as outras crianças, sua família. Via crianças que chegavam e iam embora com "seus novos pais". No início, ansiava com o dia que a chamariam na sala da madre superiora e lá dentro, um casal sorridente, de braços abertos e sorridentes, apenas esperando para levá-la pra casa, onde teria seu quarto rosa, com uma janela grande e um jardim florido.

Mas o tempo foi passando e ela foi ficando para trás, assim como seus sonhos de menina. Agora, já não conseguia sequer imaginar fora dos portões de ferro branco do orfanato. Até já cogitava a possibilidade de entrar para o sacerdócio e se tornar uma noviça.

— Luzia! Luzia, venha cá, filha!  — Gritava a irmã Lurdes, que acenava no meio dos degraus que dava para o interior da residência.

A menina olhou na direção da voz, largando a mangueira, correndo na direção. Imaginou que poderiam precisar dela na cozinha, então se apressou-se para prender seus longos cabelos negros, mesmo estando encharcada, tentou secar as mãos na barra do vestido bege de tecido simples.

— Irmã Lurdes! Precisam de minha ajuda? — Sorriu, alegremente.

— Não, meu bem. Parece que temos um casal da Itália que adoraria adotar uma jovenzinha. Eles estão entre você e Melinda. — Falou, empolgada — Não é uma benção?

— Ó, sim, sim! Preciso me secar e estar apresentável, não? — Disse, tremendo de emoção.

— Vá para o dormitório, onde Melinda já está se vestindo. — Disse, retirando o avental molhada e as sandálias de couro, da menina. — Agora vá! Ajude Melinda a se vestir, por gentileza?

— Será um prazer, irmã! — Falou, já correndo pelo corredor encerado do orfanato.

Ao entrar, fechou a porta atrás de si e foi até a colega, que era mais jovem, mas por causa da poliomielite, tinha dificuldade em andar, sem ajuda de muletas.

Gentilmente Luzia vestiu a outra menina, penteando seus cabelos negros, enfeitando com uma tiara cor-de-rosa, que há muito tempo havia ganho de aniversário das freiras e nunca usou, já que seus cabelos eram ondulados e nada parecia ficar bonito neles.

— Deixe-me vê-la, Melinda. — Falou, se afastando para ver como ficara. — Estás parecendo uma princesa, Mel!

— Será que irão me achar hermosa* mesmo? — Disse, timidamente.

— Mas é claro! — Disse, sorrindo — És a mais bonita de todas as niñas* del* mundo, Mel!

— Princesas não usam muletas, Lu... — Falou Melinda, quase chorando.

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