Décimo sexto conto: Homero

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HOMERO

Era verão, naquela tarde de domingo na cidade do Rio e Homero estava em casa, se preparando para ir à praia com os amigos. Estava bem ansioso, já que durante a semana toda, teve que trabalhar e estudar, além de cuidar dos irmãos pequenos.

Ultimamente, seu pai estava dando mais trabalho que sua irmãzinha de dois anos. Desde que perdeu o emprego, só pensava em descer o morro e se embriagar. Sempre voltava tarde e descontava toda sua frustração na mulher que, muitas vezes, voltava do trabalho de faxineira, exausta de tanto limpar as casas e apartamentos no centro.

Homero já estava farto de ver aquelas cenas se repetindo e não poder fazer mais pela mãe e seus irmãos.

- Tá! E aí, mano? Bora ir logo! A galera já tá reclamando, Prego! - Gritava, seu amigo Paulinho, através da janela aberta da cozinha.

- É o seguinte, cara. Tenho de levar o Tiquinho. Tô de babá dele, hoje. - Fez um muxoxo, apontando para o irmão de sete anos, que teimava em se agarrar nele, pela beira da camiseta.

Paulinho ficou encarando-o, sem acreditar. Mas no final das contas, Prego, como era conhecido Homero pelos amigos, sempre foi o que mais cuidava deles e ajudava com matemática, em dia de prova.

- Já é*! E os outros? - Disse, tentando olhar por sobre o ombro do amigo. - Não vão, né?

Homero riu, debochado. Pegou a mochila e segurou a mão do irmãozinho.

- Claro que não, palhaço! - Riu. - Estão na creche e a mãe vai pegar, quando sair do trampo*.

- Então, vamo logo, cara!

Desceram os três, pelas ruelas estreitas da comunidade. Homero, colocou seus fones e segurou firmemente a mão do irmão, enquanto seguia o amigo que ia mais à frente.

Algum tempo depois, se juntou com os demais, que estavam aguardando já impacientes.

Jonas estava em pé, chutando algo do chão, enquanto Ricardo e Wesley estavam sentados em restos de concretos de alguma obra, improvisados como banco, claramente contrariados quando viram Homero segurando a mão do irmãozinho.

- Era só que faltava, Prego! - Falou, Ricardo, cruzando os braços.

- Fica xiu*, Ricardinho! - Homero disse, sem se alterar. - Se reclamar, não ganha sorvete! Passou pelos amigos, rindo alto.

Todos acabaram rindo, indo na direção dele.

Uma coisa que raramente os amigos viam, era Homero se chatear ou se irritar com algo. Sempre tinha um sorriso, nas mais adversidades que a vida lhe mostrava. Por mais que a situação parecesse complicada, ele sempre tentava encontrar um jeito de resolver e amenizar. Não que fosse alguém alienado, mas acreditava que tudo tinha uma solução e se pudesse amenizar a dor com um sorriso, seja para se ajudar ou ajudar alguém, ele faria.

Assim, os seis garotos, estavam no ponto de ônibus, que os levaria para a praia, quando um carro branco com som alto, parou próximo deles. Dois homens ficaram encarando o grupo, sem nada dizer. Ficaram bem no ponto de ônibus.

- Ei, senhor! Não pode parar aqui, não. É ponto de ônibus. - Disse Jonas, apontando para a placa.

Os dois ocupantes do carro riram, saindo e estacionando mais adiante. Homero, por instinto, pegou o irmão no colo, como para protegê-lo de algum perigo iminente.

- Mano... Isto não tá certo. Vamos bora daqui? - Disse, num sussurro, para um dos amigos ao seu lado.

- Relaxa, Prego. São só dois nóia*! Nem esquenta*. - Respondeu com escárnio.

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