Décimo terceiro conto: Athena

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ATHENA

Logo que completou doze anos, Athena resolveu ir morar com o pai. Desde seus oito anos, que os pais haviam se separado e ela nunca havia se dado bem com o estilo de vida que sua mãe levava.

Sua decisão, não foi muito bem-aceita. Sua mãe protestou muito, já que perderia a única filha que fazia tudo dentro de casa, além de cuidar do seu irmão menor.

— Mãe! Pare de me azucrinar! Pelo amor... - Disse, colocando as mãos no rosto.

— Te azucrinar, Athena? Então te dar conselhos, agora é azucrinar? - Dona Laura, mãe da garota, gritava e gesticulava, enquanto tragava um cigarro barato, enchendo o ambiente com uma fumaça sufocante.

— Mãe? Acho que tá na hora cair na real, não? E para de fumar essa porcaria?

— AH! AGORA VOU TER QUE PARAR DE FUMAR TAMBÉM? E POR QUE TENHO QUE PARAR, SUA INGRATA? - Berrou.

— Não precisa gritar, ok? Seria por que a senhora tá grávida?

— O problema é meu, sua fedelha, mal criada!

— Se quiser encher seus pulmões de fumaça, beleza! Mas ao menos, respeita este bebe que nem ao menos sabe quem é o próprio pai!

A mulher foi até a menina e esbofeteou-a com tal violência, que cortou seu lábio, fazendo-a sangrar. O gesto foi tão impulsivo, que logo após, se arrependeu, abraçando a filha, que chorava convulsivamente.

— Perdão, filha! Eu não queria ter feito isto! - Falava, abraçada a filha.

— Mãe, tá tudo bem. Só vê se te cuida, tá? Não pode levar a vida como se fosse uma adolescente, mãe! Até quando vais viver à custa da vovó?

— E me abandonando acha que tá me ajudando? Preciso de você, aqui. Sabe que te amo! - Chorava.

— Mãe, olha só, mãe. A senhora só quer alguém pra cuidar do Aquiles. Não dá mais, mãe. Preciso estudar e ter amigos, como uma garota normal, poxa!

— Cê quer é andar agarrada nas meninas na rua, isso, sim!

Ao dizer isto, se afastou da filha, dando as costas. Odiava pensar que sua filha era "diferente" das outras meninas. Aquilo enchia seu coração de um rancor, como se Deus a estivesse culpando de algo.

— Vais morar com seu pai, porque ele é homem? Se identifica mais com ele, que comigo, ingrata? - Disse, acendendo outro cigarro.

Athena nada disse. Engoliu seco e pegou sua mochila, indo até o pequeno irmão, que dormia na cama de solteiro, que dividiam juntos. Se aproximou dele, beijando sua bochecha, vermelha, pelo calor do sono.

— Até a próxima, meu pequeno guerreiro. Cuida bem da mamãe e da vovó, ok? - Sussurrou, alisando os cabelos loiros do menino.

Ele se mexeu, passando a mãozinha nos olhos e chupando o polegar, em seguida. Ela sorriu, com a cena. Seu coração se encheu de um amor infinito. Ficou assim, parada, olhando-o dormir, alheio ao caos em que vivia. Ele era a única razão dela ainda não ter fugido de casa.

Antes de sair, olhou a mãe, que ficou de costas para a porta, olhando o movimento de carros, pela janela ampla da sala bem decorada.

— Até mãe. Vê se te cuida, tá? - Sentia um nó atravessado na garganta, mas não daria o gosto da sua mãe vê-la chorar, como antes.

— Athena? Se você sair por esta porta, nunca mais verá seu irmão. - Disse, sem se virar na direção da filha.

A menina, suspirando, abriu a porta que dava para ao corredor do prédio em que sempre viveu até o momento e encarou o corredor cinza chumbo à sua frente e foi até o elevador.

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