Passado e Futuro

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Patri ainda estava confuso, em sua frente estava um demônio que alegava ver o passado e o futuro dizendo que tudo em que ele acreditava estava errado, não satisfeito ainda perguntou algo que virou seu mundo de ponta cabeça embasando sua afirmação. O elfo podia odiar humanos mas até ele reconhece o quão forte era o laço entre os irmãos Silvamillion.

– Que... que tipo de história? – Perguntou o loiro ainda atônito.
– Quinhentos anos atrás havia um belo e jovem elfo. – Começou o demônio com sua voz grave sem tirar os olhos do elfo na sua frente. – Esse elfo foi agraciado com tudo que o mundo podia oferecer, ele era abençoado pela mana, tinha um grimório de trevo de quatro folhas com magia de espadas, era o amado lider de seu povo e até mesmo foi presenteado com o amor de uma princesa humana.
– Onde você quer chegar com essa história? – Perguntou Patri segurando as lágrimas por lembrar do único homem que amou mas não foi correspondido.
– A princesa humana tinha engravidado do elfo que amava e pretendiam se casar. – Continuou Asta sem se importar com o estado do elfo. – Infelizmente no dia do casamento o príncipe, irmão da noiva, foi convocado pelo seu pai, o rei, e se atrasaria para a cerimônia. Mas o que ninguém sabia era que tudo era uma armadilha.
– Sim, aquele príncipe revelou a nossa localização para aqueles nobres malditos e eles nos atacaram. – Falou Patri sem conseguir conter a raiva.
– Não, não foi ele. – Corrigiu o mascarado. – Quando o príncipe chegou na sala do trono para a reunião com o rei a única pessoa que ele viu era o conselheiro real. – Asta continuava encarando o elfo enquanto se aproximava do clímax da história. – O príncipe foi preso pela magia do conselheiro, esse por fim se revelou sendo um cadáver controlado por um demônio. – Nesse momento Patri arregalou seus olhos. – O demônio tinha vazado para o rei a localização dos elfos e sobre a cerimônia de casamento, não satisfeito ainda revelou para o rei sobre um artefato de transferência de mana que o príncipe tinha criado.
– Se o príncipe não tinha más intenções conosco então por que ele criou algo assim? – Perguntou o elfo ainda com medo do rumo da história.
– Não tenho certeza, provavelmente era ajudar as pessoas com pouca ou nenhuma mana pegando diretamente das zonas mágicas. – Respondeu o grisalho agora também curioso. – Para ter certeza só perguntando para ele. Continuando, o príncipe conseguiu escapar com o apoio de sua ajudante com magia de selamento, quando chegaram no local da cerimônia o massacre já tinha acabado e apenas o líder sobreviveu. – Continuou ele. – O elfo tinha um grimório em sua frente, mas ao contrário do belo e reluzente grimório de trevo de quatro folhas esse era negro, sujo, tinha um trevo de cinco folhas na capa e exalava uma aura sombria, em sua cabeça tinha uma magia proibida de ressurreição em andamento que o tornaria um demônio.
– Não, era uma magia de reencarnação. – Falou Patri ainda com a cabeça girando.
– Não, era ressurreição, o demônio por trás do massacre interferiu na magia. – Explicou Asta calmamente. – Porém antes do demônio conseguir o que desejava ele foi selado pela ajudante do príncipe, mas antes do selo se completar ele mudou a magia do elfo e a vinculou na sua prisão.
– O... que? – Perguntou o elfo ainda em choque.
– Antes de sair a ajudante do príncipe notou que a princesa estava viva, assim como apenas um dos bebês gêmeos que ela carregava no ventre. – Continuou ele ignorando a pergunta e o choque do loiro. – Selando o sangramento da princesa a ajudante conseguiu salvar a vida dela, porém não ficou tempo suficiente para ajudá-la, ela logo correu para ajudar o príncipe que lutava contra o demônio gigante que uma vez foi um amado amigo.
– Houve... houve sobreviventes? – Perguntou o usuário de magia de luz esperançosamente e recebendo um aceno de cabeça confirmando.
– Assim que o monstro foi derrotado e sabendo que o selo do demônio se romperia no futuro a ajudante do príncipe fez a única coisa que sabia ser o certo. – Continuou ele dando um choque de realidade no elfo. – Ela usou uma magia proibida para selar o príncipe na forma de uma estátua, como punição ela acabou por se tornar um anti-pássaro que está vivo até hoje, já o grimório do elfo se perdeu pelo mundo até recentemente, a ressurreição dos elfos trará aquele demônio de volta, fim da história.
– Espera! Você disse que ia falar sobre o futuro mas só falou do passado. – Começou o loiro entrando em desespero. – O que o demônio queria? O que aconteceu com o filho do Licht-Sama? Onde está o grimório dele? O que eu faço?

Uma gaveta ao lado da cama começou a soltar um brilho fraco e Asta supôs que era onde o grimório de Patri estava guardado, antes que o elfo pudesse reagir o demônio mascarado usou um abridor de cartas para perfurar a perna.

– Por... por que fez isso? – Perguntou o elfo entre gemidos de dor.
– Esqueça tudo e foque apenas na dor da ferida. – Mandou o pequeno ser. – Quando um usuário de grimório de trevo de quatro folhas cai em desespero nasce uma quinta folha. – Explicou ele.
– E qual a importância disso agora? – Perguntou Patri seguindo o conselho do ser na sua frente.
– Quando a quinta folha surge o grimório fica vinculado ao submundo e só pode ser usado por demônios. – Explicou o meio-elfo de forma paciente. – Foi isso que aconteceu com Licht, era isso que o demônio queria e é isso que quase aconteceu com você. – Falou ele apontando para a gaveta onde o brilho estava desaparecendo.

Com esse aviso o elfo correu para checar seu grimório, quando encarou a capa notou que a folha de baixo do trevo estava mais para o lado do que normalmente era. Asta tinha visto a capa de relance e, discretamente, suspirou de alívio por ter parado a tempo.

– Respondendo sua pergunta, Zagred queria um grimório para romper o limite que a Magia de Kotodama dele tinha. – Começou o Silvamillion. – O bebê nasceu e deu origem a raça dos meio-elfos vivendo em Hearth.
– Eu posso ir até lá? – Perguntou Patri com os olhos marejados.
– Tudo ao seu tempo. – Falou ele levantando a mão. – Continuando, o grimório agora abriga um demônio de anti-magia além de ter escolhido um mago sem mana que vai participar desse exame para cavaleiros mágicos.
– Como ele se atreve? – Perguntou Patri irritado. – Quando eu encontrá-lo eu vou recuperar o grimório do Licht-Sama e farei esse humano se arrepender do dia que nasceu.
– O grimório não é mais do Licht desde o momento que a quinta folha surgiu e não tem nada que você possa fazer a respeito. – Cortou Asta prevendo onde ia chegar. – Agora que terminamos de falar do passado é hora de falar do futuro.
– Vai me dizer o que fazer? – Perguntou o elfo de maneira sarcástica.
– Não, eu vou dizer o que você fez. – Respondeu o grisalho recebendo um olhar confuso do elfo. – Esqueceu que eu disse ter visto o futuro?

Com essa frase Asta começou a explicar os detalhes que ele conhecia dos ataques terroristas do olho do sol da meia-noite, a destruição e mortes causadas pelos elfos revividos, a luta contra o demônio e o final do feitiço de reencarnação além das consequências para os humanos que foram possuídos.

– Me falou tudo isso apenas para que eu me sentisse culpado pelas mortes de seres de uma raça inferior? – Perguntou Patri sarcástico fazendo o demônio rir, a risada era grave e assustadora.
– Eu não pediria algo tão bom para alguém cego pelo ódio e vingança. – Falou Indra quando parou de rir. – O que eu quero de você é uma aliança que será benéfica para nós dois.
– Quais os termos? – Perguntou o elfo desconfiado.
– Eu ajudo os elfos com a ressurreição e resolvo o problema com o Zagred em troca vocês farão duas coisinhas por mim. – Falou ele, mas continuou antes do elfo poder falar algo. – Primeiramente não derramem uma gota de sangue humano sequer e ajudem a raça humana com o problema que está por vir.
– Eu vejo o benefício para os elfos, os humanos mas não para você. – Falou Patri desconfiado. – Por que eu deveria aceitar um acordo assim?
– Aproximadamente daqui a dois anos o inferno cairá sobre esse planeta, literalmente. – Falou o grisalho para o choque do loiro. – Eu posso ser um demônio pacifista, mas eles não são, um grupo de idiotas vão abrir os portões do submundo, se todas as raças e reinos não se unirem então minha visão vai se tornar realidade e toda a vida no planeta vai ser dizimada.
– Então por que não evita a abertura das portas do submundo matando esse grupo? – Perguntou o elfo transtornado.
– O demônio por trás desse plano tem magia temporal, então qualquer mudança brusca no futuro que ele previu pode nos tirar o elemento surpresa. – Explicou Asta. – Além do mais é a chance perfeita de renovar o submundo matando todos os demônios que saírem. Eu não espero que me dê uma resposta agora, já está tarde então troque com seu hospedeiro para ele descansar para o trabalho amanhã enquanto você pensa. – Falou o demônio se levantando. – Se preferir peça conselho para o Rhya – Se preferir peça conselho para o Rhya, afinal ele é o único dos três que não foi mentalmente afetado.

Enquanto falava Asta apontou com a bengala para a base da parede mais próxima, uma energia sombria se estendeu do bastão até o lugar apontado, do ponto de encontro começou a brotar rachaduras e o som de vidro quebrando, quando todas as paredes estavam rachadas uma fina camada de vidro que cobria o quarto inteiro se despedaçou, porém os fragmentos desapareceram antes de tocar o chão.

– O que você fez? – Perguntou Patri ainda em transe pela cena.
– Quando cheguei aqui eu levantei uma barreira a prova de som para ninguém atrapalhar a nossa conversa. – Explicou ele. Com uma pequena reverência e um leve toque na cartola, no estilo dos nobres, o demônio se despediu. – Nos vemos novamente amanhã de noite,  quando eu vier buscar sua resposta.

Antes mesmo que o elfo pudesse dizer alguma coisa o demônio desapareceu em meio às trevas, e ele estava sozinho encarando a cadeira vazia, não demorou muito para William tomar o controle do corpo novamente e se arrumasse para tentar voltar a dormir, mas a memória da conversa de seu hóspede com o estranho ser ainda rondava sua mente, seja qual for a decisão final deles o resultado seria o mesmo: o caos.

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