Capítulo 23

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Ava.

Desde que aquele pesadelo começara, Ava tinha pedido ao seu chefe para trabalhar de casa, onde podia ficar próxima de seus familiares. Não era difícil pra ela conseguir algo dentro daquela empresa sendo literalmente a mente pensante por trás da arquitetura da cidade. A única empresa de arquitetos da cidade tinha sorte de tê-la.

Por isso naquele dia, Ava trabalhava na sala. Mexia em seu computador concentrada, enganando quem pudesse estar vendo a pensar que ela estava totalmente imersa naquilo. Pelo canto do olho, a loira via Sofia dentro do escritório. Sentada na cadeira e debruçada sobre um novo desenho, a menina parecia demais com Camila – talvez mais do que nunca, pelo menos para Ava.

Portanto mesmo fechando um novo projeto, Ava cuidava Sofia, como planejado por Dinah. Apesar de ser tão parecida com Camila, Sofia era uma adolescente tranquila, e isso deixava Ava infinitamente mais tranquila também. Não tinha problemas em ficar assim, todos os dias, observando seu comportamento e quem se aproximava dela. Gostava de estar em volta daquele respiro de vida que ela era.

Ava estava cansada daquele drama todo, por isso a presença de Sofia era tão boa. Estava cansada havia mais de seis anos, aquilo parecia um ciclo sem fim. Estavam nessa posição de pressão e desespero por muito tempo, não adiantava mais fingirem que não estavam simplesmente exaustas.

Não via a hora daquele pesadelo todo acabar e ela, junto com as pessoas que amava, terem paz. Não via a hora de poder finalmente pedir em casamento a mulher que amava.

Sara.

Em cima da égua Bishop, Sara coordenava os trabalhos dos outros peões da estância, os orientando a separarem as reis que precisariam da atenção de Hailee naquela semana. Diferente do seu costume de trabalho, ela estava parada, sem se envolver diretamente. Seu olhar corria longe no horizonte, a posição alta permitindo que ela visse o que acontecia na propriedade ao lado.

Era complicado ter que vigiar Sinu. Mesmo que não tivessem convivido por muito tempo e que não tivessem uma relação direta propriamente, elas ocupavam uma posição parecida na vida de alguém. Não que o vínculo de Sara pudesse ser comparado ao vínculo da maternidade, mas tudo o que a loira tinha vivido ao lado de Camila lhe dava a possibilidade de ter um vínculo comparativo.

Sara cuidou de Camila. Por muito tempo foram apenas as duas, crianças cuidando uma da outra. Por isso quando algo ameaçava a segurança de sua amiga, Sara se colocava na posição de mãe.

Inclusive contra a mãe de sangue de Camila.

Até mesmo por esse motivo, ela ficava ali, dividindo atenção com seu serviço para vigiar em segredo o que a mulher fazia no orfanato. Aparentemente não era nada demais: ela brincava com as crianças, lia para elas, ajudava a preparar as refeições. O maior problema eram as pessoas que passavam por ali; e eram muitas. Muita gente passava por ali o dia todo e ficava muito difícil para Sara filtrar quem falava sobre as crianças e quem poderia ser aliado de Felipe.

Sara era dedicada, porém. Guardava ao máximo cada rosto que via, muitos deles conhecidos. Anotava os nomes de quem conhecia, e os detalhes marcantes de quem não conhecia – sabendo que algo ali podia mudar o rumo da história que viviam no momento.

Ela sorriu ao ter a atenção desviada para seu celular quando Ava mandou mensagem falando sobre Sofia. Aquela menina ganhava seu coração a cada dia; Sara a protegeria como fizera por tantos anos com sua irmã mais velha.

Dinah e Elmo.

O garoto digitava em alta velocidade em seu computador, a prática o permitia a rapidez. Com a tela dividida, ele fazia um rastreio de um lado enquanto as câmeras de segurança exibiam a movimentação nas ruas. A delegacia, seu foco principal, estava tranquila naquele momento, sem muita movimentação. Apesar de ver praticamente tudo na rua, Elmo não conseguia ver Dinah.

Araguaia - Pt. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora