Capítulo 28

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Era uma noite quente. O calor judiava o Araguaia, mesmo que o sol não estivesse dando as caras. Próximo a mata, estava Cauã. Estava com os olhos marejados, mais uma vez as lembranças, as memórias, eram suas piores inimigas. Cenas iam e voltavam, sempre fazendo questão de lhe mostrar tudo que aquela terra que ele tanto amava havia lhe tirado.

De repente as lágrimas se misturaram com pingos de chuva. Não que Cauã se importasse com aquilo, mas a chuva fria misturada com o clima quente era predisposição para uma gripo, e com isso ele se importava. Por isso saiu pela mata, o arco resvalando em suas costas junto com a aljava cheia de flechas, as únicas lembranças que ele mantinha de sua tribo.

Quando percebeu estava nas terras dos Steinfeld. Não sabia em que momento tinha desviado de seu caminho até ali, mas sentia uma satisfação esquisita. Caminhou por toda a extensão de pasto até chegar a sede. Não tinha movimentação, talvez Hailee e Griffin não estivessem ali.

Ele sentou em um dos bancos de madeira que tinham ali pela escuridão, com a certeza de que ninguém o veria. Viu quando o último funcionário saiu da casa, viu quando Cheri chegou, viu quando Pete saiu uma última vez para revisar seu gado e também viu quando todas as luzes foram apagadas.

Se levantou de supetão quando viu Pete voltando para casa. Não estava pensando direito, a única coisa que via a sua frente era sua filha sendo sequestrada, a mulher que amava sendo obrigada a fugir do Araguaia, e sua enteada sofrendo nas mãos dele.

Sem saber direito o que estava acontecendo, puxou uma flecha e a encaixou no arco. Sem pensar duas vezes, direcionou a flecha para o lugar o qual saberia que não teria volta e soltou. Não ficou ali pra ver o resultado, assim que tomou consciência do que tinha feito, correu para a mata novamente.

Hailee tinha o olhar desfocado, cheio de lágrimas. Em sua cabeça ela tentava juntar algumas peças que pareciam simplesmente não encaixar. Se sentia em desespero. Uma coisa era seu pai morrer em um acidente no pasto, outra era ter o assassino dele ali tão perto.

- Eu não...

- Por favor, me perdoa, menina. – ele disse, seus olhos também lacrimejando. – Foi um momento de desespero, eu nunca quis machucar ninguém.

Hailee não respondeu, simplesmente ficou ali olhando para ele sem saber o que pensar, sem saber o que sentir. Camila percebeu sua confusão e resolveu tomar a frente.

- Vamos deixar a Hailee sozinha um pouco, Cauã. Não deve ser fácil ouvir isso.

Camila estava encaminhando Cauã para fora quando ouviu a voz chorosa de Hailee.

- Amor. Fica.

Ela então pediu que Cauã saísse e voltou para perto de Hailee. Segurou as mãos dela contra as duas e as trouxe para seu peito, e a veterinária finalmente se deixou chorar. Hailee desabou no peito de Camila, em um choro sofrido como se estivesse passando pela morte do pai mais uma vez. Camila a abraçou, sofrendo junto.

- Será que algum dia eu vou parar de desenterrar coisas do passado? Será que um dia a gente vai ser feliz sem esses fantasmas?

- Meu amor, é claro que sim. – Camila disse tentando mostrar o máximo de segurança (que ela não tinha). – Estamos em uma turbulência, mas isso vai passar. Nós vamos ficar bem. Você me prometeu isso, não prometeu?

Hailee suspirou insatisfeita.

- Mas agora eu nem sei se...

- Então sou eu a fazer a promessa. Olhe pra mim. – ela ergueu a cabeça de Hailee pelo queixo e sorriu tranquila. – Nós vamos ficar bem. Eu prometo.

Araguaia - Pt. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora