hellooooo
Antes mesmo de Hailee abrir os olhos, ela soube que não estava em seu quarto. O cheiro era estranho, o tecido do lençol onde dormia era estranho. Ao abrir os olhos, o teto do lugar onde estava era estranho.
Hailee sentou na cama visualizando o quarto desconhecido onde estava. Aos poucos, as lembranças daquela manhã voltavam à sua mente em um baque aterrorizante. Lembrava de acordar em sua cama, de se arrumar para levar Davi na escola e quando abrir a porta de seu quarto, dar de cara com Felipe.
Aquilo não fazia sentido. O que Felipe queria consigo?
Durante todo o dia, Hailee rodou aquele quarto como uma barata tonta. Era um cômodo minúsculo, com o mínimo de conforto, com apenas uma pequena janela que a permitia ver o sol. Como uma prisão.
Já era noite quando Felipe apareceu com uma refeição para que ela não morresse de fome. Ele apareceu abrindo a porta com um revolver em mãos deixando bem clara sua ameaça. Mas, ainda mais do que fugir, Hailee precisava desesperadamente entender.
- O que é isso? O que está acontecendo?
Ele não fez questão de responder, é claro, apenas deixou a comida e se foi. Hailee ficou ali, encarando o pedacinho de céu que conseguia ver.
No segundo dia, Hailee já não estava desesperada mais. Sabia que sairia dali ilesa. Cheri, Griffin e Henrique não permitiriam que fosse diferente, com certeza, mas a maior certeza de Hailee era Camila. Sabia que Camila não deixaria que nada acontecesse, sabia que Camila viraria a cidade de ponta cabeça se fosse preciso.
Sabia que Camila podia ter a abandonado, podia ter se afastado e as coisas entre as duas podiam até não estar nos melhores termos, mas os olhos dela jamais mentiram para Hailee: Camila a amava. Essa era a segurança de Hailee de que Camila jamais permitiria que algo acontecesse.
Mas então os dois dias viraram quatro. Depois viraram cinco. Seis. E então Hailee estava desesperada novamente. Por sua situação de completo abandono, sim, mas também porque aquilo lhe despertava o gatilho de uma lembrança que ela tentava todos os dias desesperadamente esconder.
Muito pior do que ser abandonada de uma vez é ser abandonada aos poucos.
Era mais uma noite em que Camila não atendia seu celular. Poucos meses depois de sua saída do Araguaia, as duas tinham um combinado não explícito de se falarem todas as noites. Fazia mais de quatro que Camila não atendia.
No começo, ela dizia que estava ocupada. Que estava cansada. Que estava com coisas demais na cabeça. Aos poucos, até as desculpas pararam de chegar. O costume que tinham de conversar foi desaparecendo.
Em questão de dias, as conversas que duravam o dia todo agora eram restritas a um período do dia, fossem cinco minutos a tarde, ou apenas o bom dia durante a manhã. No começo, Camila passava muito tempo detalhando como tinha sido seu dia ou como era a cidade onde agora morava, e então as respostas àquela pergunta se encurtaram.
Seus sentimentos também pareceram se encurtar. Aos poucos, era como se Camila fosse uma conhecida que passava muito tempo longe. O amor que compartilhavam, épico e sem precedentes no Araguaia, tinha ficado exatamente ali: restrito ao Araguaia.
Um dia, com os limites todos ultrapassados, Hailee apelou para Sara. A loira, muito leal, se recusou a dizer qualquer coisa, mas Hailee não precisava de muito para entender que Camila simplesmente não queria que ela soubesse o que estava acontecendo.
No desespero de saber, de entender, Hailee viajou. Dirigiu seu carro até o endereço que Camila havia lhe dado para o caso de emergências, apenas para descobrir que ela não morava mais ali. Ou nunca morou ali.
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Araguaia - Pt. 2
FanfictionSeis anos depois, Camila finalmente cumpre sua promessa de voltar ao Araguaia. Novamente seu destino é entrelaçado ao de Hailee e ambas precisam lidar com suas feridas do passado ou, pelo menos, conviver com elas. Nesse caminho, talvez as duas pudes...