Capítulo 12

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O dia seguinte encontrou os dois nus no sofá, adormecidos, abraçados um ao outro sem cobertas. O primeiro a despertar foi Geraldo, que se levantou com cuidado, vestiu-se e foi preparar o café da manhã. Algum tempo depois, o cheiro da comida despertou Hélio, que vestiu a calça e foi atrás do parceiro, encontrando-o debruçado sobre uma frigideira onde preparava uma omelete.

- Bom dia. – Disse com um sorriso meio tímido.

- Bom dia. – Respondeu o outro indo em sua direção e beijando-o. – Estou preparando umas omeletes para o café da manhã, é só você ter um pouquinho de paciência que já nos serviremos. Mas já tem café, suco e frutas na mesa, se quiser pode se servir.

– Tudo muito gostoso, mas nada mais gostoso que esse corpinho aqui. – E deu um aperto na bunda dele. – Acho que agora exagerei na breguice, não?

- Não foi Fernando Pessoa que disse que todas as cartas de amor são ridículas, e não seriam cartas de amor se não fossem ridículas, mas mais ridículas são as pessoas que não as escrevem? Se você for brega, eu também sou, porque ouvir você dizendo isso é como música para os meus ouvidos. Agora vá se sentar que preciso terminar isso aqui. - E encaminhou-o novamente para a mesa.


Um pouco depois, os dois comiam juntos e Hélio observou:

- Impressionante como suas habilidades culinárias melhoraram com o tempo, Geraldo. Antes era duro você preparar algo que prestasse.

- Tive de aprender, em certos países restaurantes são caros. Aliás, Dalva insistiu para que tanto eu como os meninos soubéssemos nos virar na cozinha, ela dizia que era esposa e mãe, não empregada. – E percebendo que estava falando de alguém que, embora sem ter culpa, aprofundou a separação deles, acrescentou por reflexo. – Desculpe.

- Não precisa se desculpar, ela foi parte da sua vida, não é? Como ela era?

- Você se sente à vontade com isso? – Ele não queria provocar sofrimento no jornalista justo agora que eles haviam se reconciliado.

- Sinto sim, pode falar. – Pediu com um sorriso.

- Ela era uma mulher e tanto. Gentil, educada, mas firme. Muito religiosa e tinha jeito para decoração, quando percebi isso paguei um curso de decoradora para ela e ela fez muitos clientes entre colegas de profissão e artistas famosos. Também detestava palavrões e fez o possível para que pelo menos eu me controlasse mais nessa parte, em respeito às crianças. Tanto minha mãe quanto meus irmãos a adoravam.

- Desculpe perguntar, mas vocês eram bons "naquilo"? – Indagou com curiosidade meio mórbida.

Inicialmente Geraldo quis se recusar a responder, mas reconheceu que o parceiro merecia alguma satisfação, diante da covardia que fizera no passado. Assim, tomando certo cuidado para não ferir a memória dela, disse

- Eu não diria que éramos intensos, mas dava pro gasto. A verdade é que ela não era uma pessoa fogosa, eu diria mesmo que depois que as crianças começaram a crescer nossa atividade sexual diminuiu muito, talvez com o passar do tempo eu tenha me acostumado a vê-la mais como uma parceira de vida do que de cama. Mas nunca deixei de ser gentil e atencioso com ela, ela era o tipo de pessoa que despertava o melhor dos outros de tal forma que você se empenhava em ser bom por ela. E volto a dizer, nunca a traí nem me passou pela cabeça fazer isso.

- Entendo. – Respondeu meio envergonhado.

- Hélio, não precisa ter ciúmes. Sim, ela foi parte da minha vida, me fez feliz e me deu dois filhos maravilhosos, mas nunca foi como é com você. Você é o amor da minha vida, com você eu tenho uma sintonia que transcende qualquer coisa que vivi. Aliás, se fosse pra ter ciúmes eu é que teria esse direito, eu sei que você não foi nem um pouco casto nos últimos anos.

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