Epílogo

345 32 19
                                    

Cantor francês Eugene Dumont, namorado de Marcos

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Cantor francês Eugene Dumont, namorado de Marcos

- Geraldo, nunca vi a sede do São Bernardo Futebol Clube decorada com tanto esmero. Mas enfim, não é toda noite que o técnico do time se casa, não é? – Perguntou a apresentadora Juliana Torres ao belo homem maduro, vestido com smoking branco, posicionado diante do altar improvisado no gramado onde ocorriam os treinos, onde um juiz de paz e o padre Ernesto Inocêncio Leal, jesuíta, um velho amigo seu que morava no Rio, estavam estrategicamente posicionados.

- Com certeza, no nosso negócio valorizar a imagem é muito importante, especialmente quando se trata de divulgar uma boa causa. – Respondeu o técnico olhando para os convidados, sentados nas cadeiras posicionadas diante dele. Era um público diversificado, composto de jogadores, ex-jogadores, dirigentes do São Bernardo, profissionais da imprensa e familiares dele e de Hélio, mas todos vestidos com apuro. Seus filhos estavam ao seu lado, como seus padrinhos, e seus irmãos acomodados nas cadeiras reservadas mas, como era de se esperar, sua mãe não comparecera, embora a tivesse convidado por educação. De qualquer forma, quem perdia era ela.

- Quais suas expectativas para esta cerimônia?

- Somente que seja uma noite para celebrar o amor, com toda a beleza possível. E não se esqueça de falar da comida, quem está responsável pelo buffet é uma jovem de Minas, Lígia Flores. Ela é muito talentosa e tem um futuro excepcional nessa área. – Com efeito, ao conhecer a irmã do seu goleiro e provar de alguns dos pratos dela, numa ocasião em que o time foi jogar em Belo Horizonte, achou que ela merecia um incentivo e contratou-a para comandar os comes e bebes, esperando que aquilo alavancasse a carreira dela.

Enquanto conversavam, refletia sobre quantas coisas haviam acontecido naqueles meses. A "saída do armário tripla", justo após dois dos que se assumiram terem ganhado um importante campeonato, causou muita polêmica e repercutiu tanto na imprensa quanto entre os torcedores (e sim, foi publicada no "The New York Times"), mas a maior parte do público, dos jornalistas e principalmente das famílias deles os apoiaram. Especialmente quando, alguns meses depois, o time finalmente ganhou a Libertadores da América, colocando mais uma conquista no currículo de Geraldo e Marcos. Depois dessa, a diretoria deu carta branca para os dois, e eles passaram a usar sua fama para promover a luta contra a discriminação e o preconceito. E sem descansar, pois além do Brasileirão também haveria a Copa Mundial de Clubes.

A carreira de Hélio também ia bem, ele continuou com sua coluna e suas colaborações habituais na TV, mas agora também contribuía para blogs e canais do Youtube com conteúdo gay. Inclusive, estava escrevendo um livro contando sua história e a do futuro marido, a ser lançado em breve.

Um barulho de flashes se fez ouvir, e a jornalista pediu licença ao técnico para se dirigir até o recém-chegado Marcos Flores, que vinha de braços dados com o seu novo namorado, o cantor francês Eugene Dumont, que conhecera na sua temporada no país e a quem decidira dar uma chance. Os dois faziam um contraste interessante, ambos altos, musculosos e bonitos, um branco e outro negro, e a relação estava tão boa que o cantor marcara algumas apresentações em casas noturnas do Rio, São Paulo e Brasília, e estava aprendendo o português para poder ter mais proximidade com os brasileiros.

- E então, Marcos? Feliz com o novo relacionamento? – Perguntou ao goleiro.

- Felicíssimo. Eugene é tudo o que eu sempre sonhei, mesmo que eu tenha demorado um pouco para reconhecer isso. – Disse sorrindo, quando viu que não tinha mesmo chances com Hélio decidiu finalmente aceitar o convite que o francês lhe fizera para sair e, para sua surpresa, os dois combinaram maravilhosamente. Tanto que estava pensando seriamente em se casar com ele.

- As campanhas publicitárias continuam bem, você já pensou em ser ator quando pendurar as chuteiras?

- No momento acho pouco provável, mas quem sabe? Como dizem, o futuro a Deus pertence. Agora com licença, darei um pouco de atenção ao meu negro gato, não se deixa um homem como ele dando sopa. – E falou brevemente com ele em francês.

- Não o julgo, no seu lugar faria o mesmo. – E observou enquanto os dois se acomodavam.

Ela ainda gastou algum tempo falando com Murilo Garcia e Diogo Ramos, os padrinhos de Hélio, que relembraram sua própria história de amor e reforçaram o quanto era importante um clube de futebol sediar um casamento gay, quando avisaram que estava tudo pronto, e, ao som de "Céu de Santo Amaro" cantada por um quarteto de cordas e um barítono (apenas com uma alteração na letra feita especialmente para eles, mudando"nós somos rainha e rei" para "nós somos senhor e rei"), Hélio entrou no gramado de braços dados com a mãe, num smoking também branco, e foi até a direção de Geraldo. Quando chegou diante dele, soltou-se do braço da mãe e o abraçou.

- E então, pronto para encarar essa nova jogada? – Perguntou ao homem que, entre trancos e barrancos, nunca deixara de amar.

- Agora sim, finalmente pronto. Obrigado por ter me perdoado e nunca desistir de mim. – Falou o técnico, ciente do quanto tiveram de lutar para chegar àquele momento.

- Não há o que perdoar, Geraldo, não seríamos as pessoas que somos se não tivéssemos vivido tudo o que vivemos, e isso inclui os equívocos. Porque se você não tivesse se casado com a Dalva, você não teria seus filhos. – Disse com um olhar carinhoso para os enteados.

- Verdade. Mas agora estamos juntos, e o futuro é nosso. – E de mãos dadas para o altar, sacramentaram uma união que pode ter sido oculta durante anos, mas nunca deixou de ser verdadeira, diante dos sorrisos de todos os que se importavam com eles.

Pessoal, chegamos ao fim dessa aventura. Mais uma vez, peço perdão pela demora, pelas postagens irregulares, por eventuais erros ou discrepâncias que possa ter cometido nesse trabalho. Mas como disse o poeta, "tudo vale a pena quando a alma não é pequena". Espero que essa história tenha contribuído de forma positiva em suas vidas.

Continuem acompanhando e, se acharem que vale a pena, divulguem essa e minhas demais histórias.

Jogadas e equívocosOnde histórias criam vida. Descubra agora