"O pedido"

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- Sinto muito Eleonor, mas isto não é um centro de caridade, a mensalidade já está atrasada a três meses. - Dizia o Sr. Ericsson, administrador da casa de repouso.

Minha avó, Magda, era a única familiar que me restava, porém enferma pela idade e perdida em delírios do passado, poucas foram as vezes que eu a vi lúcida depois após ter começado o ensino médio.
Completariam dois anos e meio que a vovó não era a mesma.

Segurando as lágrimas que ameaçavam cair dos meus olhos, levantei o rosto e prometi ao Sr. Ericsson que se pudesse me dar mais duas semanas me esforçaria para conseguir o valor e acertar as mensalidades atrasadas. O mesmo me olhou de cima a baixo e riu.

- Criança, me diga uma coisa. Está atrás de algo errado?

- Mas é claro que não! - Me impus, me sentindo difamada.

- Então como pretende arranjar mais de cinco mil em duas semanas? Logo você, uma pobre estudante do ensino médio e menor de idade.

- Não devia julgar um livro pela capa Sr. Ericsson, logo vou fazer dezoito e poderei pegar um empréstimo com o banco para ajudar a colocar em dia as mensalidades da vovó.

- Não estou tentando te deixar pra baixo garota, mas já parou pra pensar que talvez eles não liberem um valor tão alto pra uma criança?

- Pensei sobre isso também. - Falei, ciente da possibilidade. - Mas prefiro pensar positivo. Em todo caso logo poderei trabalhar e sei que eu e a vovó poderemos seguir em frente.

- Tudo bem Eleonor, te darei mais duas semanas. - O administrador sedeu.

Abracei o Sr. Ericsson, feliz pela oportunidade e tão logo o soltei, optei por me despedir e não me demorar.

- Obrigada senhor e até mais. - Sacudi mão após já estar do lado de fora da grande casa.

O lugar tinha uma paz e lindos jardins, tirar a vovó de lá seria como matá-la.

Olhei para meu velho relógio de pulso, a única coisa que me lembrava a mamãe além da casa em que vivia. Minha mãe havia falecido no início daquele ano.
Visitávamos a vovó juntas todos os finais de semana, mas a cada dia a memória dela sobre nós se tornava cada vez menos recordada. Algo que parecia ser maravilhoso, já que por minha avó não se lembrar mais, também não notava a falta de sua filha.

O horário me dizia que eu estava atrasada meia hora para a escola, se contasse com o percurso demorado do ônibus, somariam uma hora e meia ou mais.

- Droga, como vou chegar? - Me perguntei, sentada no banco do ponto de ônibus.

Antes que eu pudesse lamentar por desistir de ir a aula, algo que eu odiava fazer, meu telefone toca no bolso da saia de meu uniforme.

- Alô?

- Elle, onde você tá? - Era a voz de Nicole, a única amiga que tive desde minha entrada no ensino médio.

Ambas chegamos uma semana depois de iniciarem as aulas, todos os outros alunos já tinham formado suas "gangues" e não nos encaixamos até conhecermos uma à outra. Desde então andamos juntas.

Nicole era herdeira de um multimilionário, e assim como eu, tinha perdido a mãe há algum tempo. Sua irmãzinha, Olívia, de dois anos e poucos meses era a única com quem minha amiga se dava bem na família, além de seu pai, o qual ela não convive há algum tempo por conta de seus trabalhos.

Atender a uma chamada sua sempre era um erro. Nicole tinha muito pra conversar e eu sempre pouca bateria. Então naquele momento em que atendi no ponto de ônibus, não foi diferente, a respondi avisando que estava com três por cento de bateria e que ela me desembuchasse logo o que queria.

- Então, Elle... - Ela enrolava com meu apelido.

Sempre fazia o mesmo quando estava querendo algo.

- Anda Nicole, pode me dizer... fale por favor!

- Elle, aceitaria ser a esposa do meu pai?

No mesmo instante em que pensei em pedi-la para repetir, minha bateria bateu as botas.

Eu realmente esperava ter ouvido coisas. Nicole nunca me pareceu uma garota muito racional, logo quando a conheci notei sua inclinação para maluquice, mas se ela havia mesmo feito tal pergunta, talvez já estivesse na hora de interna-la.

Tentando rir um pouco, depois de ter engolido em seco, pensei pelo lado positivo. Ao menos minha avó teria companhia. Tinha a certeza de que a vovó Magda e Nicole seriam amigas sem pensar duas vezes.

Meu ônibus já quase passava do ponto, quando dei a mão fazendo o motorista frear fora da marca de estacionamento dos transportes públicos.

Meus pensamentos estiveram alternando entre os assuntos de mais cedo e as preocupações em relação ao dinheiro.

Como eu arranjaria dinheiro? Por que Nicole tinha dito aquilo?
Sem resposta.

E permaneci com aquelas questões rodando minha mente até mais tarde naquele dia.

Eu saía da escola às treze da tarde quando a limusine dos Villalobos me interceptou no caminho.
Os vidros claramente blindados do carro se abaixaram e com uma voz de urgência Nicole me gritou para entrar.

- Vamos Elle!! - Ela insistiu, saindo do carro e dizendo para eu entrar.

Se fosse sincera, o tom da minha amiga me assustava, mas entrei no carro tão logo percebi Olívia chorando na cadeirinha no banco de trás.

- Não chora princesa. - A pedi tirando da cadeirinha.

O carro se colocou a caminho, um rumo que Nicole não se preocupou em me dizer qual era, mas que a julgar pela rota que usávamos, imaginei sua casa ser o destino.

- Por favor, faz ela parar! - Nicole me pedia parecendo extremamente atormentada.

Acalmei Oli, como todos chamavam a bebê, nos meus braços. A pequena não mais chorava, mas também não estava totalmente tranquila. Para ser sincera, até em mim a intranquilidade de Nicole estava chegando.

- Pode parar, respirar e me dizer por que está tão nervosa? Aconteceu alguma coisa com você hoje? Por que você faltou em todas as aulas?

Nicole respirou fundo como pedi, mas ao invés de responder as perguntas, devolveu-me uma outra.

- Quantos dias faltam para você fazer dezoito?

- Nove. Por que? - Respondi e voltei a perguntar-lá me preocupando com seus olhos vidrados em mim.

- Por que meu pai tem que se casar dentro de um mês. - Ela soltou o que guardava. Em seguida desabafou tudo enquanto chorava de raiva. - Eu tentei impedir implorando ao vovô, mas aquele velho chato insiste em que um casamento pode beneficiar a família com mais um herdeiro. O vovô quer um menino, ou vai tirar tudo que o papai conquistou e deixar para o meu Tio Octávio.

- Eu não quero soar insensível Nick, mas você está me assustando. O quê eu tenho a ver com tudo isso?

- Papai pediu ao advogado de confiança da família para encontrar uma esposa, aconteceu que a meia irmã da mamãe se ofereceu para casar com ele, e foi ela quem fez um inferno na minha vida quando era criança, plantando discórdia entre meus pais. Eu não quero que Olívia cresça com ela do lado. - Nicole explicou, parecendo estar se machucando por dentro com somente pensar na possibilidade.

- Então o que disse pelo telefone...

- Foi exatamente o que ouviu Elle. Estou te implorando para casar com meu pai.

𝑴𝒊𝒏𝒉𝒂 𝒆𝒔𝒑𝒐𝒔𝒂 𝒆́ 𝒖𝒎𝒂 𝑪𝑶𝑳𝑬𝑮𝑰𝑨𝑳 Onde histórias criam vida. Descubra agora