"A curiosidade matou o gato"

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Eu quis abrir a porta da limusine e pular fora, mas o fato de Olívia estar tão agarrada a mim e Nicole parecer tão desesperada não me deixou fazê-lo.

Não demorou muito mais do que quinze minutos para que chegássemos ao lado "classe A" da cidade. As mansões ficavam umas distantes das outras, mas ao mesmo tempo interligadas pelos jardins abertos, separados apenas por arbustos bem aparados e suas cercas brancas. 

Quando o chofer estacionou próximo a entrada da casa, fechei os olhos torcendo para que somente tivesse de conversar com o Sr. Villalobos e resolver de uma vez a questão.

Já havia falado com o mesmo por telefone anteriormente. Nicole tinha tido uma crise de ansiedade depois de uma semana em que o professor de história pegou pesado dizendo que provavelmente ela se tornaria uma ótima dona de casa, já que não se esforçava nos estudos.
Ser do lar não era nenhuma vergonha, porém os professores da escola de Brendtonn, diziam sempre o mesmo aos alunos pouco empenhados, como se apenas os estudos te tornassem uma pessoa digna de respeito e status.

Em resumo, Nicole passou dias acreditando ser inferior aos outros estudantes, pois não conseguia se manter acordada nas aulas de história e literatura.

A verdade era que os professores daquela escola em especial, tinham como principal objetivo garantir que alunos passassem em universidades reconhecidas mundialmente. Os não dotados, não tinham vez e em sua maioria eram automaticamente excluídos.

Ao meu favor sempre tive minha memória fotográfica, podia estudar o tópico apenas uma vez e seria mais que suficiente. Porém minha amiga não nasceu com a mesma sorte, e acabou sendo demais para seu cérebro lidar.

Mas voltando ao assunto, o pai de Nicole não era um simples diretor de escola.

Com o Sr. Brown, o diretor da escola, eu normalmente usaria meu histórico exemplar para apoiar minha opinião e bastaria. Com o Sr. Villalobos, eu poderia ser proibida de falar com sua filha, de visitá-las e até mesmo transferida de sala para exilar qualquer chance de topar com Nicole.
Não era simplesmente chegar e falar com ele. Eu teria de me posicionar como a adulta que eu ainda não sou, para conseguir ter sua atenção.

Nós entramos na casa, Olívia se recusando a sair do meu colo.

— Princesa, mesmo com dois anos você pesa muito. — Disse rindo da bonequinha em meus braços.

— Não está nervosa? — Nicole me perguntava, olhando para mim e então para a porta que fechava o escritório de seu pai.

— Por que eu estaria? — Dei de ombros não querendo confessar que na verdade eu tinha pavor de encontrar com seu pai pessoalmente.

Na vez passada em que havíamos conversado pelo telefone, eu o dei uma lição e desliguei em sua cara.

Apesar de ter passado uma semana em sua casa, aguardando que ele voltasse para que eu falasse por minha amiga frente a frente, ainda sim nunca soube de nenhuma reprimenda dele contra mim.
Era algo bom, poderia significar um ponto a meu favor.

— Eu vou bater na porta pra você… — Nicole declarou indo em frente.

Eu nem mesmo estava preparada ou tinha concordado, no entanto, impedi-la foi em vão.
Quando disse a ela para não fazê-lo, sua mão já havia dado três toques na porta do escritório.

— Boa sorte Elle, minha vida e a da minha irmã estão nas suas mãos.

— Volte aqui! — Gritei, mas outra vez Nicole era mais rápida.

Quando o Sr. Villalobos abriu a porta do escritório, a filha mais velha já tinha dado no pé e eu estava carregando a mais nova em meus braços.

— Entre.  — Foi a única palavra que saiu de sua boca.

Pelas fotos se notava extremamente bonito e elegante. Pessoalmente, em uma escala de um a dez, o Sr. Villalobos encantava com um onze.

Pele levemente bronzeada juntamente a  um físico de academia. Seu rosto exibia um maxilar quadrado, barba por fazer e longos cabelos penteados para trás com uns fios rebeldes se derretendo para frente. Os lábios do homem eram…

Aham? Por que estou pensando em sua boca. Foco.

— Não precisa se sentir intimidada, srta. Eleonor. — Oliver Villalobos disse, enquanto se afastava um pouco mais, parecendo temer não ter dado espaço o suficiente para que eu passe pela porta.

— Esta apreensiva?

— Não, eu não. — Neguei firmemente, piscando algumas vezes para me tirar do transe em que fiquei por encará-lo nos olhos.

Deixando de bancar a embasbacada, adentrei o escritório e parei frente a escrivaninha, o esperando se sentar atrás dela novamente.
O Sr. Villalobos não o fez, fechou a porta me fazendo tremer com o estrondo que fez mesmo sem nenhum esforço para  empurrar para que ela se fechasse. Ele então caminhou para a área dos sofás, um pouco afastado das escrivaninhas e fez um gesto com as mãos para que eu me sentasse nos bancos à sua frente.

Mudando Olívia de um braço para outro no percurso, o senhor me perguntou por que eu não a colocava no chão.

A pequena estava pesando, então eu tentei, mas tão pronto seu choro voltou, eu a puxei de volta para o meu colo.

— Tudo bem, tudo bem. — Garanti, beijando a testa de Olivia e a abraçando contra mim.

— Leva jeito com ela. — O pai da garotinha dizia, mas em seguida encerrou com: — Mas a mimam demais. Ela não é de açúcar, pode deixá-la chorar em alguns casos.

Assenti com a cabeça, mas não tentei colocá-la no chão outra vez. Me concentrei em sentá-la no sofá comigo e fazê-la se entreter com algo antes de começar a conversar com o Sr. Villalobos outra vez.
Concluído, eu estava enrolando.

— Senhor, sei que não sou da família para me intrometer. Mas Nicole me buscou na escola, angustiada e preocupada com a questão de seu casamento obrigatório.

— Então realmente vocês conversam sobre tudo. — Oliver Villalobos adotou uma expressão neutra, mas assustadora.

— Sim. E ela também me disse que a tia delas se ofereceu para casar com o senhor. — Eu cheguei ao ponto em que não sabia mais o que dizer a partir daqui, então o questionei. — Pretende se casar com ela?

— Sim. — Ele disse em seguida, sem pestanejar. no entanto, dando uma novo sentido a afirmação. — Sim, tem razão. Você não faz parte da família e deveria se abster de interferir por minha filha.

— Senhor, não posso deixar isso acontecer, muito menos me calar e assistir. Nicole me disse que esta mulher tentou separar o seu casamento com a mãe dela contando mentiras. Se ela fez isso uma vez e nunca se aproximou das sobrinhas, coisas boas provavelmente não virão dela agora. — Tentei argumentar.

— Estou fazendo isto também pelas meninas, não posso deixar que o avô delas arranque este legado por puro capricho.

— Estou de acordo nisto, mas não há outras opções? Tenho certeza de que há muitas mulheres interessadas no senhor.

— Não dentro dos padrões impostos pelo meu pai.

— E quais são? — Chutei o balde da curiosidade.

𝑴𝒊𝒏𝒉𝒂 𝒆𝒔𝒑𝒐𝒔𝒂 𝒆́ 𝒖𝒎𝒂 𝑪𝑶𝑳𝑬𝑮𝑰𝑨𝑳 Onde histórias criam vida. Descubra agora