"Familia é algo complicado"

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Ao entrar em seu quarto, dei de cara com Olivia tentando sair do berço, colocando sua perna por cima da grade de madeira.

Observei-a para ver se a garotinha se daria bem com sua fuga, mas tive de impedi-la quando notei que a mesma escorregaria de costas e poderia se machucar.

— Você é muito esperta. — Disse a abraçando apertado.

A grade de segurança do berço era bem alta para seu tamanho e apesar de saber que crianças de tão só um ano e meio já conseguiam burlar seus berços, aquela proeza para uma garotinha tão pequena, parecia incrível.

— Vamos descer e encontrar com o vovô?

— Vovô?

— Isso mesmo, o vovô tá lá embaixo esperando pra te ver. — Falei, tirando alguns fios de cabelo do rosto da pequena.

Olívia estava animada. E não era para menos se levasse em consideração que ela não levava muito tempo que ela não via o avô ou o pai. Parecia que a bebê em especial, se animava muito para conhecer gente nova.

Desci as escadarias com ela no colo, segurando-a encaixada na minha cintura enquanto puxava um pouco do vestido para não tropeçar na barra.

Ao fim da escada, percebi a porta de entrada se abrindo e pelo horário imaginei ser Nicole chegando das aulas de tênis. Nunca faltava das aulas de sábado, e eu bem sabia que não era por interesse no esporte, mas sim no professor gatinho que a treinava.

— Oi mãe! O que tem pra comer?! — Ela perguntava animada da entrada.

Olhando-me confuso, o velho senhor parecia achar inusitado que a neta me chamasse daquele modo.

Eu terminei de descer as escadas, saindo para a sala em direção ao avô das meninas.

— Nick, tem visita. — Me resumi a dizer, sabendo que o humor dela pioraria assim que o visse.

— Quem… é? — Ela se interrompeu na pergunta, avistando o velho senhor na sala. — Por que está aqui? — Questionava ao avô.

— Quis conhecer a futura esposa do seu pai. — Ele a respondeu, ignorando a infeliz expressão dela em vê-lo.

— Agora que já a viu, acho que deve ir. Daqui a pouco o papai vai chegar e espero que ele não encontre o senhor aqui. — Ela disse, claramente o pedindo para ir embora.

— Eu já estava de saída, só gostaria de passar um momento com sua irmã.

— Olívia é só um bebê, não faz diferença se o senhor a dá atenção agora ou não, ela não vai se lembrar quando crescer.

— Tudo bem, de qualquer forma me dê alguns minutos e prometo que vou embora.

— De acordo, mas se eu souber que provocou Elle ou minha irmã…

— Vou me comportar. — O velho garantiu uma última vez, antes de Nicole desaparecer para o segundo andar.

O rosto do Sr. Brandon Villalobos permanecia neutro, e se não fosse por estar tão perto, poderia acreditar que o velho possuía um coração de pedra. Isso explicaria porque inclusive o próprio filho não o suportava.
Mas não era o caso. A dor visível em seus olhos indicavam que o senhor queria estar perto da família, porém preferia ter suas vontades impostas do que respeitadas e isto o afastava de seus seres amados.

Para desfazer o momento tão tenso, perguntei a ele, se gostaria de segurar sua neta.

— Eu posso?

— Claro. — Respondi, ajeitando Oli em seu colo.

Ela imediatamente se interessou pela barba farta do avô.

Ele passou algum tempo entretendo a pequena e a si próprio, apenas depois se lembrando de que eu ainda estava ali.

— Parece ter uma relação boa com as meninas. — Ele comentou.

— Sim, gosto muito das duas.

— Não deixei de notar o quanto parece jovem. E mais cedo Nicole a chamou de mãe, como se sente com isso?

— Nicole me chama assim como brincadeira, mas quando vêm de Olívia, me balança um pouco. — Eu disse, me dando conta de que abria-me demasiado com aquele senhor.

— Olívia também?

— Bem… ela escuta a irmã me chamar assim e repete.

Claramente curioso a respeito, o senhor fez um teste com a neta mais nova em seu colo.

— Quem é essa? — Ele perguntou a Olívia, enquanto apontava para mim.

A pequena sorriu e disse:

— Mamãe!

Se dissesse que quase chorei neste instante seria ser mole demais?
Por que eu devo admitir, essa fofurinha realmente mexe comigo.

O começo da tarde se passou muito rápido, a presença do avô de Olívia não parecia tão ruim quanto seu filho e sua neta fizeram parecer.
Eu gostei de conversar com aquele senhor muito mais do que um pré julgamento em minha cabeça foi capaz de prever.

Brandon Villalobos, definitivamente é uma ótima companhia.
Isto até Oliver chegar.

— Eleonor? — Ele me olhou com uma interrogação nos olhos.

Eu estava rindo de algo que o mais velho tinha dito e naquele instante meu "marido" adentrou a sala de jantar despreparado para a visita.

— Eleonor, pegue Olívia e suba.

— Mas nós…

— Não me desobedeça. — Ele disse em um tom autoritário que me feriu.

No mesmo instante me calei, eu não rebati.
Peguei a pequena dos braços do avô e acenei com a cabeça para o mesmo, me despedindo.

Subir as escadarias com a bebê gritando querer o vovô me deixou ainda mais irritada.
Oliver, como adulto deveria saber separar as coisas. Eu pelo menos eu pensava assim.
Podia ser que Brandon não fosse um bom pai, ou um bom avô para Nicole, porém suas intenções com Olívia se notavam puras.

A criança já não tinha a mãe, nem tão pouco um pai presente, ao menos o avô sendo um aposentado poderia lhe dedicar algum tempo. Bem, estava na cara que seu filho não pensava assim.

Eu não quis escutar a discussão de qualquer forma, então me dirigi ao quarto de Nicole.
Já no andar de cima pedi permissão para entrar em seu quarto batendo três vezes na porta antes de girar a maçaneta. Quando entrei por mim, minha amiga estava deitada em sua cama, vestindo o pijama do Stitch, o alienígena fofo dos filmes infantis.

Eu sabia que ela vestia aquela roupa sempre que estava depressiva e não queria falar.

— Princesinha, vai lá animar sua irmã um pouquinho. — Peço a Olívia, e deixo a bebê na cama sobre a irmã mais velha.

Isso irrita Nicole, mas logo que a irmã a fez rir com suas gracinhas, a cara antes fechada, agora se desabrocha em lindo sorriso.

— Amiga, não fica assim, sabe que sempre estou do seu lado, não é? — Digo a Nicole.

— Eu sei.

𝑴𝒊𝒏𝒉𝒂 𝒆𝒔𝒑𝒐𝒔𝒂 𝒆́ 𝒖𝒎𝒂 𝑪𝑶𝑳𝑬𝑮𝑰𝑨𝑳 Onde histórias criam vida. Descubra agora