"Pelo primeiro nome"

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[ Dia seguinte ]

— Mãe, você está incrível! — Nicole diz atrás de mim no espelho.

— Nicole, pode tirar toda essa maquiagem e esses grampos do meu cabelo, eu não quero nada disso. — Digo irritada.

— É seu aniversário, deveria se arrumar para a festa.

— Nick, por favor. — Começo a implorar. — Eu não preciso de uma festa, eu só quero passar esse dia normalmente com vocês.

— Assim não tem graça!

— Não precisa ter. O importante é estar em família.

— Ao invés de dezoito, acho que você deveria estar fazendo oitenta e um. — Ela comenta me chamando de velha de um modo indireto.

Eu rio, é tudo o que posso fazer. Nicole é sempre o oposto de mim, e não imagino como seria minha vida sem ela.

A discussão termina por que eu ganho, pela primeira vez. Ela então diminui a quantidade de produtos em meu rosto e transforma minha pele com um designer mais natural.
Estou satisfeita com apenas uma trança pouco elaborada em meu cabelo e também feliz de poder usar uma simples blusa regata com meu shorts jeans.

Desço e o parabéns começa, ela canta com o bolo nas mãos, Olívia bate palmas e o pai de ambas apenas me observa descendo as escadas. No fim todos da escola que eu temia virem para o aniversário não apareceram e eu suspirei aliviada.

Desci as escadas correndo quando percebi que as velas já estavam quase derretendo sobre o bolo. Minha pressa fez com que eu escorregasse e para a minha sorte o senhor Villalobos estava ao final da escada para me pegar.

— Tudo bem?

— Estou sim. — Respondi escondendo a vontade de chorar porque torci o tornozelo.

Ele me deixou de apoiar e eu aguentando firme, sai em direção a Nicole para soprar as velas.

— Tem certeza de que está tudo bem, você ta mancando. — Diz minha amiga, interrompendo o parabéns que cantava.

— Não, não foi nada demais. — Garanto e ela, mentindo feio.

Assopro as velas, cortamos o bolo e passamos a tarde na sala assistindo e conversando.

O pai das meninas me pareceu ter tirado folga naquele dia, esteve em casa o dia todo.

De tarde, quando já pensava em por Olivia para dormir, alguém tocou a campainha. Eu pedi que Nicole abrisse a porta e para me fazer chorar, a pessoa que entrou na casa foi minha avó. Mais tarde ainda, sua cuidadora me contou que o senhor Villalobos teve a ideia de tirá-la da clínica por aquele dia para que eu pudesse passar com ela meu aniversário sem preocupações.

Eu o agradeci assim que soube, minha emoção foi tanta que na hora não me importei com limites. Ele estava de pé proximo ao sofá, e eu com Olívia adormecida em meus braços, levantei e o abracei pela cintura, terminando por acordar a bebê e causá-lo estranheza.

— Obrigada, obrigada, obrigada! — Era tudo o que eu podia dizer.

— Não precisa me agradecer.

— Claro que preciso. Trazer minha avó aqui significa muito. — Digo, e ele me encara olhando pra baixo.

— Você merece Eleonor.

— Só Elle, por favor.

— Então, me chama apenas de Oliver também. — Ele diz em resposta e eu me pego com vergonha.

Chamar alguém tão mais velho que eu pelo nome não parece certo. Minha mãe me tinha criado com base na hierarquia dos mais vividos, e pra mim eram sempre senhores e senhoras. Eu teria de enxergar o senhor Villalobos, apenas como Oliver e isso parecia ser muito íntimo.

— E então o que me diz?

— Oliver. — Pronuncio em voz alta.

— Elle. — Ele repete o apelido que a filha me deu.

— Até que não foi tão assustador assim… — Eu murmuro e percebo que ele ouve.

— É, não foi. — Oliver concorda.

𝑴𝒊𝒏𝒉𝒂 𝒆𝒔𝒑𝒐𝒔𝒂 𝒆́ 𝒖𝒎𝒂 𝑪𝑶𝑳𝑬𝑮𝑰𝑨𝑳 Onde histórias criam vida. Descubra agora