"A visita"

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- Nick, por favor, para. Ela acaba repetindo o que você fala. - Pedi a minha amiga, me sentindo estranha com Olívia me chamando daquela forma.

Nicole deu de ombros, achava engraçado a situação.
Na verdade, o senso de humor dela me assustava desde que nos conhecemos. E se havia algo notório eram suas mudanças de humor.

Eu sempre fui do tipo que esconde tudo por dentro, mas não ela, Nicole, diferente de mim despeja tudo para fora sem se importar com quem sai atingindo no caminho.
Isto me preocupa em minha amiga, ela não diz que odeia o pai, na realidade o ama, mas escondeu todas as fotos dele e da mãe na casa. Quando perguntei pela primeira vez sobre sua mãe, Nick inclusive me disse que vivia sozinha com sua irmã, dando a entender que eles as tinham abandonado.
Ela claramente estava magoada com o pai mas compreendia que o motivo dele trabalhar tanto pra fora, era que a empresa da família sustentavam várias outras famílias como a sua. Era tão madura a respeito disso, mas ainda sim se irritava com o pai em segredo. Isso me deixava confusa.

Penso que aceitar me casar com pai da minha melhor amiga é uma loucura total, mas foi Nicole quem mais me deu apoio quando minha mãe morreu, então eu realmente quero retribuir.

É só que... ser chamada de mãe por uma garota só seis meses mais nova que eu parece assustador.

Quero deixar de pensar nisso, então depois de colocar Olívia pra dormir, a deixo no berço de seu quarto no segundo andar da casa.
Ela dorme tranquila e a memória de meia hora mais cedo repassam em minha mente. Ela dizendo "mamãe tô com sono" com aquela voz tão fofa faz com que eu babe.

Mamãe sempre me disse que eu costumo ser muito mais velha do que minha idade biológica. Talvez, só talvez... eu posso cuidar de Olívia como uma mãe realmente faria. Afinal de contas, eu a assisti crescer, dar seu primeiro passo para o colo da irmã e também quando nasceram seus primeiros dentinhos.
Eu estive com ela desde seus primeiros meses de vida, ajudando Nicole a cuidar dela depois da aula. Então, de alguma forma, ouvi-la me chamar de mãe não parecia tão estranho levando tudo em consideração.
Ou talvez eu estivesse pensando demais...

- O quê é essa expressão?

- Não é nada filha. - Respondi brincando com a cara de Nicole.

Imaginei que ela fosse rir, mas ao invés disso, Nick escondeu a cara virando para o lado.

- O quê foi? O retiro o que disse, eu só estava seguindo a brincadeira com você Nick.

- Não, não é você. Não estou mal por ter me chamado de filha. - Disse, virando-se de frente pra mim novamente.

Nicole enxugou algumas lágrimas que escorreram por seu rosto e respirando fundo me abriu um sorriso.

- É que meus pais me tiveram aos dezoito, eram novos demais e o jeito como você falou agora. Mamãe falava da mesma forma comigo, quando estava pensativa e não queria que eu me preocupasse com ela. - Nick terminou de explicar, em seguida me dando um abraço.

- Está me su... fo...can... do. - Eu disse com dificuldades para respirar.

Minha amiga afrouxou o abraço e voltamos a sorrir uma para a outra.

- Não sou doida, sei que o que te pedi foi demais Elle, mas sempre pude contar com você, é a única em que pude pensar.

- Somos amigas, tenho certeza que faria o mesmo por mim...

- Ah, eu não sei, me casar com um idoso com duas filhas problemáticas. Eu não tenho certeza se poderia. - Nicole analisou tirando sarro.

- Em primeiro lugar: seu pai tem trinta e seis, não é um idoso. E em segundo: você e Olívia são as únicas pessoas que eu tenho além da vovô, e não são "problemáticas", apenas acho que você pode ser um pouquinho complicada.

- Um pouquinho? - Nicole gargalhou.

- Xiu! - Tampei sua boca. - Vai acordar sua irmã. - A adverti.

- Ta bom mãe, eu já estou indo pro meu quarto. - Ela ironizava outra vez.

Não adiantava pedir para ela parar, Nicole Villalobos sempre agia conforme o contrário. Eu deveria usar psicologia reversa para ver se surtiria efeito?

[ Nove dias depois ]

Os dias em casa tiveram fim na última semana, o Sr. Villalobos disse que infelizmente eu teria de viver na mansão com eles.

Eu adorava minha mãe e foi difícil me despedir da velha casa, mas dividir o quarto com Nicole, foi uma experiência muito mais divertida do que imaginei.

Apesar de eu estar para me tornar esposa do pai dela, ele continuava a me tratar da mesma forma que fazia com a filha mais velha.

Tomávamos os cafés da manhã juntos, Nicole e Olívia me pareciam muito mais radiantes do que em tempos atrás.
Apenas duas coisa complicou a convivência, hoje acordei cedo e me deparei com um senhor na sala de estar. Apenas pelas características faciais, eu já presumia saber quem era.

- É um prazer conhecê-lo, Sr. Brandon. - Cumplimentei o pai de Oliver.

Eu já havia aprendido alguns truques com a minha recém inscrição nas aulas de teatro extracurriculares da escola.
A primeira delas era: jamais aparentar nervosismo.

Para a minha sorte, acredito, naquela manhã eu vestia vestido longo até os pés calçados com rasteirinhas, além de meus os cabelos soltos na altura da cintura, disfarçando meus traços adolescentes. Minha aparência jovem não seria tão notada, pois sempre fui comprida para a média das garotas na minha idade.
Eu assim esperava.

Me aproximei do velho no sofá da sala, enquanto nos cumprimentavamos.

- Por acaso a senhorita é minha nova nora?

- Por enquanto estou noiva de seu filho. Mas em breve serei. - Respondi como a atriz de um drama chinês que assisti na TV.

- Que sorte a minha, ganhar uma filha tão bonita para a família. - O senhor comentou me elogiando.

Mentalmente eu também comentava: "Mal sabe o senhor que tenho idade para ser sua neta ao invés de sua filha".

- E então, me fale o pouco de você querida.

- Bom... - Eu começava sem saber de onde partir. - Sou Eleonor Castillo. Nasci em Madrid, mas me mudei quando pequena com minha mãe e minha avó para este país.

- Que interessante. - O senhor me prestava total atenção.

- Conheci seu filho depois de conhecer Nicole e Olívia no primeiro ano do ensino médio.

- Oh, então já o conhece há tempos.

- Sim. - Me resumi a dizer, com problemas para pensar no que continuar a dizer.

Notando a falta de assunto, o Sr. Brandon seguiu com algumas perguntas a fim de nos conhecermos melhor.
Meu nervosismo deste ponto, alcança onze na escala de um a dez.

- É formada? Gosta de crianças? Quantos anos tem mesmo? - O velho praticamente me interrogava.

- Pretendo me especializar em pediatria em um futuro próximo. - Respondo, omitindo o fato de que ainda faltavam quatro meses para me formar o ensino médio. - E sim, amo crianças.... - Admiti esta parte sem esforço.

Mas o que me faria quebrar seria lhe dizer minha idade. Por isso quando a babá eletrônica aptou sobre a mesa, senti que o universo estava do meu lado.

- Subirei para pegar Olívia, desço em um minuto. Tudo bem?

- Claro querida, vá. - O mais velho disse com um sorriso gentil.

Significava um bom sinal.
Meu "sogro" não desconfiava do que eu escondia.

𝑴𝒊𝒏𝒉𝒂 𝒆𝒔𝒑𝒐𝒔𝒂 𝒆́ 𝒖𝒎𝒂 𝑪𝑶𝑳𝑬𝑮𝑰𝑨𝑳 Onde histórias criam vida. Descubra agora