"Dividindo a coberta"

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— Ouvi da minha mãe que ouviu de minha avó.  — Digo enquanto troco a pequena de posição.

— Desculpa, eu a acordei.

— Não, tudo bem. — Digo, me levantando com a pequena.

Suas mãos me apoiam enquanto me levanto.

— Obrigada.

— Disponha. — Ele responde já de pé ao meu lado.

O peço para afastar o berço do centro do quarto. O móvel tem rodinhas com travas, então não é difícil fazê-lo. Com o espaço livre, tiro de dentro do baú próximo a parede leste do quarto, o tapete de atividades. E peço que Oliver busque uma manta mais grossa.

Quando ele volta com a mesma, a estico sobre o tapete emborrachado e jogo almofadas pelo espaço.

— Ela está hiperativa. Talvez durma, mas não será logo.

— Elle, não precisa passar a noite em claro por ela, eu posso cuidar da minha filha. — Ele me diz tentando pegar dos meus braços.

— Não é que eu discorde Oliver, mas está visivelmente cansado, parece sem paciência e ela no momento não está muito afim de você.

— Isso doeu no meu coração. — Ele disse rindo, mas eu realmente o tinha dito na cara que a filha não queria o pai e sim a mim. — Olha, eu entendo, mas não quero que Olívia ou Nicole sobrecarregue você.

— Não vão. — O asseguro.

Me deito com ela, cantarolo outras cinco músicas e a pequena caí no sono outra vez, seu corpinho está aninhado ao meu e não posso e nem quero me levantar para ir pra minha cama.

Minhas pálpebras estão tão cansadas que em algum momento eu caio no sono.

Quando desperto, ou melhor, quando sou despertada, Olívia ainda está dormindo entre meus braços, minha cabeça se move para cima e dou de cara com o rosto de Oliver adormecido.
Me lembro de ele ter sentado-se ao pé da manta, acompanhando para checar se a filha dormiria ou se eu precisaria de algo. Como o homem tinha terminado dormindo ao meu lado era um mistério.

Mas ao menos não acordei resfriada, esperava que ao dormir sem cobertas e acordaria fria, e não foi caso, já que seus grandes braços estavam um por debaixo do meu pescoço e outro envolto em minha cintura.

Eu me mexi, tentei mesmo, entrando os braços bem malhados de Oliver tornavam a tarefa complicada.

— Quer ajuda? — Escuto de repente.

Com o pouco que podia me mover, fiz um esforço por erguer a cabeça e percebi que sentada próximo do batente da porta estava minha querida amiga e futura inimiga, Nicole.

— Tira esse sorriso da cara e me ajuda Nick!

— Shiu! Vai acordar eles. — Ela diz, e eu a repreendo com olhar.

— Sabe que eu posso ser a madrasta má, não sabe? — A ameaço.

— Você não faria isso comigo.

— Me teste então.

Parecendo não querer correr o risco de perder meus bons cuidados, Nicole opta por me ajudar.

Ela segura o braço esquerdo do pai, enquanto eu tento tirar a bebê dos meus braços sem acordá-la. Quando consigo, rolo para longe e saio do quarto em silêncio com Nicole.

— Viu, trabalho em equipe! — Nicole faz um hi five para batermos as mãos, mãos eu não estou de humor.

— Agora não. — Caminho para o quarto dela.

— Poça mãe, você nunca acorda desanimada, o que foi?

— Filha, a mamãe não dormiu direito e está com fome. Que tal a gente só conversar depois do café da manhã?

— Olha, não sei se fico feliz por você estar aceitando a brincadeira, ou se devo me preocupar por que me respondeu dessa forma tão desanimada e irônica.

É, não era do meu feitio. Nicole só estava querendo perguntar como eu estava. Responder dessa forma não foi legal.

— Amiga, me desculpa tá. Acho que levantei com o pé esquerdo hoje.

— Não, tudo bem. Sei que às vezes brinco demais e hoje não será um dia fácil pra você também, é melhor eu parar de te zuar. — Ela já estava deixando de me seguir para descer as escadas quando eu a interrompi.

— Por que hoje será difícil pra mim? — Meus neurônios não estavam ligando as informações naquela manhã.

— O casamento, é hoje. Der! — Ela bateu a mão contra a testa me chamando de lesada.

𝑴𝒊𝒏𝒉𝒂 𝒆𝒔𝒑𝒐𝒔𝒂 𝒆́ 𝒖𝒎𝒂 𝑪𝑶𝑳𝑬𝑮𝑰𝑨𝑳 Onde histórias criam vida. Descubra agora