Pela noite a vovó já estava quase adormecendo sentada frente a TV da sala.
Assim como uma vez presumi, ela e Nicole se deram muito bem. Ambas são piradas e parecem curtir os mesmos gostos.Minha avó apesar de ultimamente estar com a perda de memória muito mais avançada, recobra algum nível de lucidez em algum momento e me vendo conversar com o pai das meninas, ela presume que estou casada porque vê a aliança em meu dedo.
Não era um bom momento, Oliver havia acabado de me dar a jóia mais cara e significativa da família. Ele também me havia informado que nos casaríamos no dia seguinte. No entanto, as situações da vida não esperam você se recuperar e já vem outras para roubar sua atenção.
— Na minha época Eleonor, as pessoas se casavam e depois tinham filhos. Como é que vocês foram esperar tanto pra se casar. A menina já tem dois anos, pode praticamente ser a dama de honra da mãe.
— Não vó, mas não é como a senhora pensa. — Tento me explicar.
— Não precisa dizer nada, apesar de tudo vou morrer conhecendo uma bisneta, eu já cumpri minha missão na terra. — Ela insiste e dá de ombros.
Sem poder me conter eu despejo risadas, ela parece voltar a se concentrar na TV e eu em Oliver.
— Além deste anel, quero te entregar mais uma coisa. — O maior volta a dizer e eu já espero por outra aflição.
— Acho que já ganhei coisas demais por um dia. Não posso retribuir por tudo.
— E não precisa. Faço porque é o justo.
Em minhas mãos, são entregues comprovantes de pagamento das mensalidades atrasadas da casa de repouso da minha avó.
— O que significa isto?
— Quitei o que está em atraso na clínica, deixei um ano pago por adiantado também. Dentro de dois dias mandarei emitirem seus novos documentos e cartões de crédito. Vou abrir em seu nome uma conta onde mês a mês será depositado uma quantia fixa para que você possa bancar seus estudos e o que mais quiser quando nos divorciamos dentro de um ano. — Oliver diz tudo como se já fossem fatos e quando termina, não me dá a chance de contestar.
— É o justo. — Nicole diz, ela escutou do alto da escada e parece concordar com a posição do pai.
— Não me levem a mau, porém eu não preciso de tudo isso e quero me virar sozinha. — Digo angustiada pela situação.
Sempre fomos eu e a mamãe. Sem ajuda, apenas nós duas contra tudo e, de repente, ter uma família com um apoio financeiro tão grande me assusta. Não parece certo.
— Papai faz muitas doações aos fundos de bolsa estudantil. Pense como se você fosse outra dessas meninas que tiveram a chance de serem contempladas. — Nicole tenta me ludibriar e pela cara de ambos, pai e filha se sentiriam piores se eu não aceitasse.
Assenti com a cabeça confirmando aos dois que estava de acordo, mas eu realmente não estaria bem se gastasse um valor que jamais trabalhei para ganhar. Então o deixaria depositar na conta e devolveria ao final do divórcio.
Como quem já adivinhava minhas intenções, Nicole voltou a dizer:
— E não aceitamos devolução.
— Tudo bem, tudo bem. — Me dou por vencida. — Obrigada novamente Oliver. — Digo olhando-o nos olhos.
— Humm, já até o chama pelo primeiro nome… — Nicole diz nos deixando sem graça.
Na sala de estar, a cuidadora já se prepara para voltar com minha avó para a casa de repouso. É difícil deixá-la voltar depois de ter passado uma tarde tão gostosa com ela ao meu lado.
As acompanho até a porta, trago comigo Olívia nos braços e antes de que ela vá embora, nos despedimos com um abraço.
— Vovó, vou me casar amanhã, então espero que possa vir e se lembrar de mim.
— Como não me lembraria de você, querida? — Ela me pergunta, esquecendo-se de que se esquece.
É um paradoxo engraçado e cruel também.
Não digo nada, explicar para alguém que se esquecera em cinco minutos não é algo que valha a pena. Era melhor deixá-la partir sorrindo.
— Te vejo a amanhã vovó, durma bem.
— E você também. — Ela deseja sorridente.
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𝑴𝒊𝒏𝒉𝒂 𝒆𝒔𝒑𝒐𝒔𝒂 𝒆́ 𝒖𝒎𝒂 𝑪𝑶𝑳𝑬𝑮𝑰𝑨𝑳
Romance𝑪𝒐𝒎 𝒖𝒎𝒂 𝒑𝒆𝒓𝒔𝒐𝒏𝒂𝒍𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒐𝒕𝒊𝒎𝒊𝒔𝒕𝒂 𝒆 𝒔𝒊𝒎𝒑𝒍𝒐́𝒓𝒊𝒂, 𝒂 𝒆𝒔𝒕𝒖𝒅𝒂𝒏𝒕𝒆 𝒅𝒆 𝒆𝒏𝒔𝒊𝒏𝒐 𝒎𝒆́𝒅𝒊𝒐, 𝑬𝒍𝒆𝒐𝒏𝒐𝒓 𝑪𝒂𝒔𝒕𝒊𝒍𝒍𝒐, 𝒔𝒐𝒃𝒓𝒆𝒗𝒊𝒗𝒆 𝒊𝒏𝒅𝒆𝒑𝒆𝒏𝒅𝒆𝒏𝒕𝒆𝒎𝒆𝒏𝒕𝒆. 𝑺𝒖𝒂 𝒎𝒂̃𝒆 𝒉𝒂𝒗𝒊�...