Entrei No Jogo

Desconfiança

O restante daquele dia se passou calmamente e antes que a noite chegasse, Jean fez um breve passeio pela cidade. Até passou na taverna Presente dos Anjos antes de ir para casa, mas não encontrou ninguém além de pessoas comuns.

Charles, o barman chegou a comentar daquela anormalidade, mas não deu muita atenção àquilo.

Dia após dia a nova Jean foi se acostumando com a rotina e procurando melhorias para seu trabalho e duas semanas mais tarde, Lisa tentava discutir sobre uma ideia que a amiga teve.

— Eu não entendo, você sempre brigou para manter essa menina longe do QG e agora você quer contratar? — A morena estava juntando as sobrancelhas de tanto que estranhava a situação.

— Eu sei, mas a situação está cada vez pior, e eu não quero morrer de tanta exaustão. — Jean observava uma ficha em sua mão. — Noelle é perfeita.

— Ok... hmmm... — Lisa ainda custava um pouco a acreditar. — Estagiária, certo?

— É, meio período já será o suficiente.

— Tudo bem então.

Lisa saiu do escritório de Jean decidida a ter uma conversa séria com a única pessoa que pareceu perceber algo estranho na Jean.

— Posso entrar? — Ela perguntou depois de bater na porta do capitão dos cavaleiros de Favonius.

— Hmmm isso é incomum... claro, entre. — Kaeya se levantou de seu lugar para receber Lisa.

Quando ela fechou a porta, deixou claro que a conversa ali seria um assunto sério.

Depois de certo tempo conversando, os dois chegaram à conclusão de que Jean realmente estava diferente.

— Realmente, uma pessoa não pode mudar tanto assim de um dia para o outro. — Kaeya fixou o olhar na morena.

— Eu tenho certa desconfiança... sobre tudo isso. — Lisa recordou uma conversa que teve com Jean a muito tempo. — Às vezes pode ser que Jean quis isso.

— Como assim?

— Uma vez Jean me procurou querendo testar uma magia do Abismo. Achei aquilo estranho, mesmo ela falando que era para saber da capacidade do inimigo. Enfim eu até fui ver o que era, mas quando Jean me disse que eu testaria nela, achei um absurdo e até discuti com ela...

— E sobre o que era a magia?

— Transferência de alma para outro mundo.

— Hmm... transferência de alma. — O moreno levantou dando alguns passos pela sala, com os dedos no queixo, pensando a fundo naquilo. — Certo... acha que ela fez esse teste com outro bruxo?

— Eu acho que é a opção mais clara por causa do que ocorreu, mas não podemos descartar que outra pessoa pode ter feito isso com ela.

— Ok, então levando em consideração a primeira hipótese, porque acha que a Jean iria arriscar a própria vida para fazer algo assim?

— Bom, todos sabemos que a vida de Jean é a síndrome de burnout pura. — Lisa ergueu as mãos e balançou a cabeça. — Você e eu somos as pessoas que mais escrevem para o Varka voltar, porque isso está acabando com ela, mas não temos o retorno dele.

— De fato, isso faz sentido. — Kaeya assentiu. — Mas a questão agora é, o que faremos?

***

"Bárbara ainda não tomou uma decisão e eu estou fazendo algo um tanto radical aqui" de certa forma Jean estava preocupada, mas ao mesmo tempo aliviada em conseguir agir por si própria. "Não estou aguentando mais essa coisa de ficar fingindo... eu não fiz nada de errado, foi ela quem me pôs aqui... apesar de sem querer" era confuso.