XIV.

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ALGO GRITOU EM MINHA mente, berrando para que eu fugisse o mais rápido possível, mesmo que tivesse que deixar Rhysand para trás. Queimava meu peito como se estivesse disposto a tudo para nos impedir de adentrar este lugar esquecido pela própria Mãe.

A relíquia.

O colar em meus seios estava nos avisando que isso não seria fácil. Estava nos dizendo para ter cuidado, para desistir.

O amuleto pulsou novamente, parecendo quase tão ansioso quanto eu para acabar logo com tudo isso.
Eu rapidamente virei minha cabeça para Rhysand.

— Pode sentir isso? — Eu perguntei a ele.

Ele estava olhando para seus pés, que agora estavam cobertos pela água verde e cheia de musgos.

— O mal... — ele franziu a testa e apontou para baixo. — Não é esse o símbolo no amuleto?

Olhei confusa para ele, e ao me agachar ao seu lado, vi que, de fato, o eclipse solar e o olho estavam ali. Exatamente o mesmo símbolo do amuleto.

— O que você acha que isso significa? — perguntei.

Ele ficou quieto enquanto olhava para o símbolo, talvez tentando obter respostar que nem mesmo eu possuía.

— O que o amuleto...  — ele foi cortado quando toquei o símbolo, de repente movendo um tijolo um pouco, revelando uma entrada secreta.

— Pelo Caldeirão! — eu disse enquanto empurrava o tijolo para mais longe para abrir espaço para que pudesse entrar.

A magia era tão forte que eu mal conseguia movê-lo. Precisávamos que um poder tão forte quanto o que estas paredes possuíam, adentrasse as mesmas.  

— Deixe-me ajudá-la. — Rhysand disse enquanto se agachava também.

— Sim... — eu sussurrei enquanto pegava sua mão.

Rhysand ficou surpreso quando eu a segurei, mas eu sabia que ele entendia o porquê eu tinha feito aquilo.

Sua mão era áspera, mas de alguma forma, ainda macia. A primeira coisa que senti foi uma sensação de formigamento, o que assumi ser causada pela quantidade ridícula de poder que ele tinha. Mas... eu não queria pensar em como era bom segurar a mão dele.

Como tinha sido bom antes, quando eu estava a poucos centímetros de seu rosto, tocando sua bochecha, respirando seu cheiro, memorizando cada pequeno detalhe dele.

Concentre-se.

A única coisa que estava me permitindo mover o tijolo de lugar era o próprio amuleto. Eu podia sentir seu poder fluindo através de minhas mãos para a entrada recém descoberta, então usei o poder de Rhysand apenas para amplificar isso. Tentei fazer com que o amuleto absorvesse seu poder, e de alguma forma, isso me permitiu mover as pedras um pouco mais.

— Você acha que pode segurar a mente da Hidra e pará-la enquanto eu entro lá? — perguntei a ele enquanto continuava empurrando os tijolos.

Cheguei a algumas conclusões naquele momento:

1. A entrada se fecharia assim que eu parasse de tocá-la com o amuleto.
2. Não haveria como voltar depois que eu estivesse dentro.
3. Isso significava que eu tinha que dar o amuleto a Rhysand e ele tinha que segurar a porta aberta para mim, já que sua magia era claramente mais forte que a minha.
4. Esta missão nunca foi feita para uma só pessoa cumprir.

Eu aprendi isso do jeito ruim.
Se Kallias não estivesse lá quando entrei no ninho dos vermes de middengard...

— Eu não posso parar a hidra, não daqui. Talvez eu deva entrar. — disse Rhysand.

— Você não pode entrar. — eu disse a ele. — Eu não posso manter a porta aberta para você. Eu não sou tão poderosa quanto você, Grão-Senhor. Sua magia pode manter a porta aberta para mim, mas você nunca sairá de lá se for eu quem tentará abri-la. 

Nós nos encaramos em silêncio, verde contra violeta.

— Se a hidra estiver lá dentro, você pode morrer. — alertou.

Quando finalmente empurrei os tijolos o suficiente para me deixar entrar, olhei para ele. O oceano fez seus olhos brilharem ainda mais do que o normal. Uma visão tão bonita que eu quase me esqueci, mesmo que por um segundo, do porquê estávamos aqui.

Concentre-se em sua tarefa.

— Eu sei. — eu disse. — A questão é que estou disposta a correr esse risco para trazer de volta o que perdi. Não somos tão diferentes nesse aspecto, Rhysand.

Ele ficou quieto por um segundo enquanto olhava para mim, os lábios entreabertos. E então ele
realmente olhou para mim.

— A Hidra... Não será fácil derrotá-la por conta própria, mas você é uma daemeti, você certamente pode destruir sua mente quando a vir.

Eu balancei a cabeça, concordando.

Diga a ele que sua magia não funcionará lá dentro.

A noite explodiu ao nosso redor enquanto ele fazia meu traje desaparecer. Agora eu estava usando uma armadura de couro illyriano que lembrava a dele. A armadura parecia leve, confortável, e mais adequada para o que eu estava prestes a fazer do que um vestido.
Fazia tempo que eu não usava armadura...

— Obrigada, Rhysand.— eu sussurrei.

Ele assentiu.
Sem soltar os tijolos e a mão dele, comecei a forçar minhas pernas à entrarem. O templo estava cheio de água, então eu tinha que ser rápida ou a Hidra me mataria, ou eu simplesmente me afogaria.
Eu sabia que este não era um bom plano de forma alguma, mas não havia tempo para pensar em um melhor.

— Eu seguro a porta para você. Basta pegar a relíquia e sair de lá o mais rápido que puder. —  ele me disse enquanto me ajudava a descer um pouco mais.

Engoli em seco quando a metade inferior do meu corpo estava agora dentro do templo, a água gelada me causando arrepios.

— Você vai ter que tirar o amuleto de mim rapidamente e tocar o tijolo para manter a porta aberta.  — eu disse.

Ele assentiu.
Olhei para o fundo do templo, onde a escuridão me esperava.
Eu me virei para vê-lo.

— Apenas me prometa que não vai me deixar aqui dentro para me afogar e morrer.

Ele sorriu suavemente.

— Eu posso fazer melhor que isso.

Ele pegou meu braço com a outra mão e de repente uma lua crescente preta e pequena apareceu no meu pulso.

— O que é isso? — perguntei, surpresa e confusa.

— É como minha Corte faz promessas e acordos. Você voltará de lá viva e eu estarei aqui esperando. Não vou deixar nada acontecer com você.

Engoli em seco mais uma vez e olhei para ele.

''Pegue o amuleto, Rhysand'', eu disse dentro de sua cabeça.

Ele pegou o colar e rapidamente tocou os tijolos para manter a porta aberta. Eu soltei os tijolos e então sua mão era a única coisa que me mantinha parcialmente fora d'água.

''Se eu morrer, você terá que continuar com isso, não desista.'' pensei enquanto olhava para ele.
Ele pareceu entender.

— Não morra. — ele sussurrou.

Olhei para seus lindos olhos violeta. Se eu fosse morrer lá embaixo, seu rosto bonito e lindos olhos violeta seriam a última coisa boa que eu veria.
De alguma forma, isso era triste e reconfortante.

Eu soltei sua mão, afundando completamente nas águas escuras e densas.

𝐍𝐈𝐆𝐇𝐓𝐌𝐀𝐑𝐄𝐒 | ACOTAROnde histórias criam vida. Descubra agora