3 - Qual o problema desse cara?

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Bora ler o terceiro capítulo cedo que é pra todo mundo votar sem medo de ser feliz... 😉
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Meu corpo dói e eu ainda estou quentinho no meu casulo, mas sinto falta de algo, e abro os olhos. Estou no pequeno abrigo, sozinho. Céus! Eu estou sozinho! Ele me deixou aqui, me abandonou! Ele me largou a mercê das feras que habitam essa mata densa?

Me dispo do saco de dormir, com pressa e raiva. Como ele teve coragem? Depois de todo aquele papo de "Vou nos manter vivos até o resgate!", ele simplesmente me deixou aqui sozinho!!! O senhor "carinho nos cabelos para fazer ele calar a boca e dormir", se foi!

Esqueço o medo e me concentro na raiva, porque me faz sentir o adulto que sou e não um menino apavorado e com vontade de chorar, com medo de morrer…

Saio me arrastando dali e percebo quão minúsculo é esse abrigo de folhas e pedacinhos de madeira. Acho que eu mesmo faria isso… se não estivesse tão descompensado.

Mato e mato ao meu redor… Que ódio!

Penso em gritar o nome dele a plenos pulmões, mas fico me perguntando se essa selva tem eco e vou me assustar se minha voz reverberar.

Estou em minhas divagações quando vejo um movimento e ele surge do nada, como uma visão do inferno no céu. Aquela sua roupa preta, suja de subir e descer em árvores cheias de limo e madeira descascando, o rosto um pouco amarronzado do mesmo processo, mas algumas coisas penduradas nos ombros e em suas mãos.

_ Você me deixou aqui sozinho, me abandonou, eu fiquei à mercê da própria sorte. E se um animal me comesse? _ eu tento ser educado, na minha revolta, e não elevo o tom da minha voz.

Ele pisca algumas vezes, como se tentasse entender o que eu estou dizendo. Eu vou ter que desenhar um leão me mastigando?

_ Eu tive que voltar ao helicóptero…_ ele diz. _ Trouxe a mochila do Stuart e, adivinhe… ele tinha trazido o jantar _ continua. _ Então, temos café da manhã com frango e batatas _ ele sorri levemente e eu posso dizer que seu sorriso, mesmo que pequeno, o deixa mais bonito ainda.

_ Eu não gosto muito de frango…_ resumo meu entusiasmo nulo em cinco palavras, que arrancam o sorriso do seu rosto, imediatamente.

_ Sinto muito, mas seria bom que comesse mesmo assim… porque não temos muito… _ ele passa por mim e deixa as coisas na frente do abrigo, entra, com certa dificuldade no espaço apertado e pequeno. Ele podia ter feito um abrigo maiorzinho…

Sei que pareço um chato, mas eu sou assim mesmo quando acordo… Basta ter um pouco de paciência e eu fico bem, ou não.

Ele sai lá de dentro com sua mochila e o saco de dormir, que dobra novamente e o enfia na bolsa, sem ao menos perguntar se eu não ia voltar a usar. E se eu quiser voltar a dormir mais um pouco?

_ Eu preciso de água para me lavar _ aviso e ele me estende uma pequena garrafa d'água, a qual olho com desdém e o encaro. Ele acha mesmo que vou me lavar só com isso? _ Preciso escovar os dentes… _ bufo.

_ É o que posso oferecer agora. Assim que chegarmos ao rio, teremos água sobrando _ ele usa um tom calmo, mas eu sei que não está muito feliz comigo. Cara, eu acabei de acordar e estou no meio da selva, só me dê um desconto!!

Me aproximo. _ Eu ainda acho que devemos permanecer o mais perto possível do helicóptero para facilitar o resgate _ dou a minha opinião. Eu não gosto da ideia de ir para longe.

Alec solta o ar dos pulmões, então junta todas as coisas, e aí estão a sua mochila e a de Stuart - que ele furtou - e outras coisa, que parece um saco, se vira e sai andando, no sentido distinto do que veio.

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