ㅤ━━━ Prólogo

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Qual o preço de uma vida? Cada pessoa pode atribuir um significado diferente a essa questão, e não existe uma resposta única ou universalmente válida. Para alguns, a vida é um bem inestimável, algo a ser protegido e preservado a qualquer custo. Para outros, especialmente aqueles que cresceram em meio à guerra, à morte e ao caos, a vida do próximo não vale mais do que uma moeda gasta.

Lutar, lutar, lutar.

Era essa a única palavra que estava impregnada na mente de Charlotte desde que se lembrava por gente. Lutar era essencial, seu único objetivo de vida. Cada amanhecer trazia consigo a promessa de uma nova batalha, cada pôr do sol era um lembrete das vidas que ela havia tomado. O som de tiros colidindo, os gritos dos feridos, e o cheiro metálico do sangue derramado estavam gravados em sua memória como cicatrizes invisíveis.

Quantas pessoas já tiveram suas vidas ceifadas por ela? Dezenas? Centenas? Milhares? Ela não sabia ao certo. O número exato se perdera nas brumas do tempo e do esquecimento, cada rosto se fundindo em uma massa indistinta de almas perdidas. Charlotte não se permitia pensar muito sobre isso. Pensar levava à culpa, e a culpa era um luxo que ela não podia se dar ao direito de ter.

Ela era uma máquina de guerra, treinada para combater desde que podia segurar uma espada. Seu corpo movia-se com a precisão de um autômato, seus músculos respondendo ao treinamento rigoroso que a moldara. Cada golpe desferido, cada defesa erguida, era uma extensão de seu ser, um reflexo de anos de prática incansável.

Porque, no fim das contas, lutar era essencial. Era a essência de quem ela era. E até que o último inimigo caísse, ela não pararia de lutar.

— Você está se contendo. — A voz dela cortou o ar, afirmando mais do que perguntando, enquanto encarava sua dupla com quem estava praticando combate corpo a corpo. Seus olhos estavam fixos em Jean, avaliando cada movimento e expressão com uma intensidade penetrante, como se pudesse ver através de suas almas.

Jean, o garoto cujo nome ela sempre esquecia, apenas sorriu de forma provocadora, jogando a faca de madeira para o alto antes de pegá-la novamente. Sua confiança parecia inabalável, refletida em seus olhos brilhantes e no sorriso desdenhoso. Charlotte, por outro lado, manteve-se imóvel, sua expressão séria e focada, como se estivesse se preparando para algo inevitável. Seu corpo estava relaxado, mas seus músculos tensionados traíam a prontidão para a ação.

— É claro que estou! — ele começou, seu tom cheio de arrogância e desprezo. — Não se deve machucar uma dama tão bonita e frágil como vo...

Antes que pudesse terminar a frase, um chute poderoso e preciso acertou seu abdômen, lançando-o a vários metros de distância. Ele caiu no chão com um baque pesado, o impacto ecoando pelo campo de treinamento. Jean tentou se levantar, mas a dor era evidente em seu rosto contorcido enquanto cuspia sangue e lutava para recuperar o fôlego. Os cadetes ao redor pararam, boquiabertos e em choque ao presenciar a cena, o silêncio pesado e carregado de tensão.

Charlotte permaneceu em sua posição de luta, seus braços protegendo o rosto, enquanto abaixava lentamente a perna que usara para chutar Jean. Seus olhos brilhavam com uma determinação feroz, refletindo uma força interna que superava qualquer barreira física. Ela não se moveu, mantendo sua guarda alta, pronta para qualquer retaliação.

Em apenas quatro anos, os mistérios à volta de Charlotte faziam qualquer um questionar várias coisas. Ninguém ali a conhecia, de fato, ela era uma garota sombria por conta de seu olhar frio e expressões sérias, contudo, encantadora por ter uma aparência bela que lembrava ironicamente uma pequena e frágil boneca de porcelana.

Mais "frágil" ao se referir a Charlotte era um grande erro.

Um pouco mais afastado, duas pessoas de nível superior observavam a cena com interesse. Seus braços estavam cruzados, e seus olhares fixos no campo de treinamento onde Charlotte acabara de demonstrar sua força. Eles raramente se envolviam diretamente no treinamento dos cadetes, preferindo delegar essas tarefas a instrutores mais experientes, mas algo naquele dia havia atraído sua atenção.

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