LAIANE

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Laiane

Hoje é o enterro do meu pai. Minha ficha ainda não caiu, sinceramente. Eu não queria ter que vê-lo num caixão, mas acho que é necessário para que eu caia na real e me conforme. Eu ainda não vi minha mãe, não dei um abraço nela. Só a vi dormindo mesmo. E eu sei que ela precisa muito de mim. Assim como eu também preciso dela!

Lipe: Tá pronta?-Assenti enquanto prendia meu cabelo. Meus olhos estavam inchados de tanto que chorei durante a madrugada. Eu não dormi a noite toda, não comi nada até agora. Até tentei, mas não desceu.

Laiane: Minha cabeça tá doendo.

Lipe: É que você não dormiu-Concordei. Botei meu chinelinho preto e deixei o celular no carregador.

Saí de casa com Lipe, trancamos tudo e eu entrei em um dos carros que era do meu pai. O do Lipe ficou totalmente destruído de tiros, sangue e massa cefálica espalhada. Sim, massa cefálica! Meu pai tomou um tiro na cabeça que estourou tudo. Eu não quero nem imaginar como aquilo ali ficou!

[...]

Laiane: Tem mais curioso do que amigo do meu pai aqui, que ódio.

Lorena: Até parece que você não sabia que isso aconteceria-Balancei a cabeça negativamente olhando pro pessoal.

Veio a porra do morro todinho, até gente que ele nunca falou na vida. Paula, uma das amantes dele, teve a cara e a coragem de aparecer na capela. Laís botou pra correr na base da porrada. Falta de respeito com a família, sabe? Todo mundo sabia que ela era amante dele também, não precisava aparecer aqui não! Respeita pelo menos a dor da minha mãe.

Fernanda, a amante fixa e mãe dos filhos não apareceu. Ouvi um buxixo de que ela não consegue nem levantar da cama desde que recebeu a notícia. Mas as filhas vieram. Elas já estavam sem a mãe ali pra abraçá-las naquele momento, e quase ninguém ia até elas pra dar uma palavra amiga, um aperto de mão. Tava só as duas abraçadas uma na outra. E, poxa, elas são tão filhas quanto eu. Tão filhas quanto Laís e Lorena. Mas como a minha mãe era a de fé, os baba ovo só fica em cima da gente. E eu tô odiando toda hora vindo um me abraçar!

Lipe: Quer água?-Se aproximou com uma garrafinha e eu peguei.

Laiane: Eu vou lá nelas.-Disse, e dei a garrafinha pra ele. Quando eu ia andar, Felipe segurou minha mão.

Lipe: Tu não vai arrumar confusão não, né cara?

Laiane: Claro que não!-Me soltei dele e caminhei até elas.

Beatriz tem minha idade, Rayane tem 14 e tem um menino de 11 anos também. Mas só as duas vieram. Elas estavam abraçadas e chorando horrores, principalmente a Beatriz. Me aproximei delas e não disse nada, só alisei o ombro das duas. Ambas me olharam surpresas, e eu abracei uma de cada vez. Eu sei como é tá na merda e não ter ninguém pra te dar um abraço. Eu sei! Fiquei ali com elas por um bom tempo, depois fui pra perto da minha mãe.

Lipe

Depois de deixar a Laiane com a Grazi, eu saí sem saber se voltaria. Por pouco não voltei! A voz do RN mandando eu ir na frente de moto não sai da minha cabeça, mermão.

~Flashback~

RN: Vai de moto na frente, neguin.-Disse entrando no banco traseiro do carro.