1 - Negócio Fechado

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- Um dia vão te achar enterrada sob uma pilha de papéis, Camila.

Levantei os olhos para a porta do meu escritório, ao meu redor, a típica montanha de processos descansava: um eterno lembrete de que eu sempre tinha trabalho a fazer.

Ela estava parado na porta, com alguma coisa escondida atrás do corpo. Seu paletó era bem cortado delineando seu corpo atlético. Seus cabelos negros eram longos e arrepiados de modo que ela sempre tinha que usar uma quantidade exagerada de gel para mantê-los comportados. Ela me encarou com seus olhos verdes inquisitivos.

Tinha vindo até aqui me provocar uma última vez. Isso era óbvio.

- Eu sempre mantenho meus prazos em Lauren. Não sou preguiçosa como
você. - sorri baixando os olhos de volta para os meus documentos - Os papéis nunca se acumulariam o suficiente para me enterrar.

Senti que ela tinha dado alguns passos para dentro do meu escritório, estava prestes a informá-la de que eu estava, obviamente, ocupada demais para o que quer que fosse e mandá-la dar o fora.

- Ouvi que você não vai poder ir hoje a noite.

- Para onde? - perguntei, sem levantar os olhos.

- Minha despedida. Hoje é o meu último dia, lembra?

Eu lembrava.

- Aleluia! - murmurei sorrindo - Não, não me lembrava, Lauren. Sua agenda não é o tipo de coisa que ocupa qualquer espaço em minha memória.

- Por que não vem, Camila? Não seria uma despedida apropriada sem você. - eu podia sentir o seu sorriso e o seu sarcasmo - Não acho que consigo ir embora sem ouvir um último comentário azedo e invejoso seu, sobre como eu não sou uma escolha adequada para o meu novo emprego.

- Eles são uns idiotas sem colhões que fingem ter princípios para ganhar dinheiro - a encarei - Você vai se encaixar perfeitamente bem.

Ela riu alto, estourando o champagne e servindo as duas taças.

- O que está fazendo? - quis saber - Você queria um último comentário azedo. Já o teve. Sai.

- Se você não vem até mim, hoje a noite, eu venho até você.

Irritante do jeito errado. Ela não ia perder a última oportunidade de regurgitar toda a sua recém-encontrada alegria na minha cara antes de ir embora.

- Não vou hoje a noite porque tenho trabalho a fazer. A audiência do caso Monroe é amanhã.

- Amanhã? Achei que essa audiência só seria daqui a dois meses... depois que você voltasse de férias.

Engoli em seco. A palavra férias me incomodava de um jeito estranho e inesperado.

- E desde quando você sabe o agendamento das audiências do meu cliente?

- Desde que ele era meu cliente. Antes de você roubá-lo, lembra?

- Somos uma equipe, Lo. - sorri - Não há isso de meu cliente ou seu cliente.

- Éramos uma equipe, Camz. - corrigiu - A partir de amanhã eu vou embora para bem longe de você e seu veneno. - ela me ofereceu uma taça.

- Aqui. - anunciei com um falso tom de diplomacia, levantando minha taça - Um brinde a você.

- Não esperava isso de você. - sorriu, me acompanhando no brinde - Vai ser clichê como os outros e dizer que não se importa que eu vá para longe desde que seja feliz?

- Vou dizer que não me importo se você será feliz desde que vá para longe. - confessei e bati meu copo contra o dela.

- Isso não está envenenado, está? - brinquei.

A Chantagem (Adaptação)                    [Em Correção Ortográfica]Onde histórias criam vida. Descubra agora