Primeiro dia de Trabalho

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POV'S: Demi

Eram exatamente seis e meia da manhã, eu já estava acordada bem antes disso com minha ansiedade para o meu primeiro dia no meu novo trabalho não me deixando dormir corretamente. Depois de ficar rolando de um lado para o outro na cama travando uma batalha com o travesseiro e cobertor em busca de uma posição que me propiciasse pregar os olhos, eu desisti de tentar descansar indo até a cozinha ao ser vencida pela insônia. Incomodada com o silêncio liguei o rádio no volume baixo em uma estação local que reproduzia somente músicas country naquele horário específico da madrugada, com a companhia de uma xícara de café fumegante que eu recém tinha preparado observei pela claridade da janela o nascer do dia. A cidade despertava aos poucos, com o barulho urbano corriqueiro e caótico de pessoas e veículos começando do lado de fora, me fazendo sentir falta da vida pacata que eu tinha no campo junto da minha família anos atrás. Naquela época em que eu vivia em contato com a natureza e animais tudo parecia tão mais fácil e simples do que as coisas são hoje em dia nessa selva de pedra, onde moramos em uma casa pequena demais para cinco pessoas, dois cachorros, uma iguana e alguns pássaros. Tudo aconteceu de forma tão inesperada que não tivemos tempo de pensar em conforto ou algo maior, em um dia estávamos vivendo na tranquilidade do rancho que pertencia ao meu padrasto e no outro tivemos que nos mudar de cidade e abrir mão de tudo que havia no pequeno terreno, usando o dinheiro da venda para o pagamento de dívidas. Essa mudança não planejada de ares afetou a todos nós, principalmente meu pai que deixou de trabalhar por conta própria para receber ordens na fazenda "Souvenir." No começo ele somente era mais um dos inúmeros funcionários que trabalhavam árduamente nos afazeres pesados do campo e cuidado dos animais, porém, graças ao seu comprometimento e dedicação de anos na prestação de um serviço exemplar, Eddie merecidamente foi promovido alguns meses atrás para ser o novo capataz da grandiosa "Souvenir." Recebendo a excelente notícia pela própria dona da fazenda, o que foi uma grande surpresa para ele já que a mulher não é muito sociável com seus empregados ditando suas ordens a eles através de terceiros. Nesse período em que tudo se encaminhava bem para meu pai as coisas foram desandando para mim, com o término do meu noivado após a descoberta de várias traições do homem que conheci na faculdade e estupidamente acreditei ser o amor da minha vida, eu também consequentemente perdi meu emprego no haras da família do meu ex noivo filho da puta. Não aguentando sua perseguição e insistência constante por perdão e mais uma chance no ambiente do nosso trabalho, eu pedi com dor no coração o desligamento das minhas funções no haras onde trabalhava como médica veterinária desde a minha graduação, rompendo em definitivo qualquer contato com ele e seus familiares. Meu amor por cavalos me levou a especialização de equinos e outros animais de grande porte, ter que me despedir dos primeiros cavalos que cuidei com devoção e carinho por mais de dois anos foi algo que me doeu muito e me fez odiar ainda mais Wilmer por tudo que o desgraçado me fez passar de ruim nesses últimos meses. Dizem que na vida quem perde o telhado ganha as estrelas. E olhando para mim agora e a oportunidade de ouro que consegui, era bem isso mesmo que estava acontecendo comigo. Graças a recomendação do meu pai para sua patroa, eu estava indo trabalhar em uma das maiores fazendas do país com somente dois anos de experiência no ramo e uma responsabilidade de milhões em minhas mãos.

-Bom dia! Caiu da cama, filha? - Eddie entrou na cozinha, me tirando dos meus devaneios matinais.

Ele sorriu para mim, beijando meus cabelos enquanto abotoava nos punhos a manga longa da camisa xadrez que usava, deixando seu inseparável chapéu em cima da mesa.

-Bom dia, pai. Eu estou uma pilha de nervos, tão apreensiva que não consegui dormir direito. - Confessei em um suspiro aflito, me reerguendo da cadeira.

Aproveitando que fiquei de pé levei a minha xícara até a pia e desliguei o rádio.

-Quer café? Eu fiz agora a pouco, não está tão bom quanto o dá mamãe, mas não ficou ruim. - O homem anuiu em confirmação, terminando de ajeitar a manga da sua camisa.

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