Desirrê

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POV'S: Demi

Selena retornou ao quarto e eu cantei, um pouco constrangida a pedido da própria fazendeira o restante da música antes sussurrada em harmonia somente para mim, para ela também ouvir. Por um instante fui relembrando daquele sonho inocente de adolescente do colegial em ser uma super estrela, que foi deixado há tempos guardado em uma prateleira. Com a canção ressaltando na letra entre outras coisas importantes, que era necessário dar um passo para trás e permitir que tudo acontecesse no seu próprio ritmo. Às vezes, a gente se amarra em dores que parecem nunca ter fim e ninguém além de você pode se curar de si mesma e se livrar do seu suplício diário. Selena estava em um processo de reconstrução de viver uma vida sem sentido algum para ela, após perder a esposa e o filho, os medos ocuparam espaços no seu coração. Fragmentada por uma culpa imaginária, Gomez passou oito anos se escondendo nos escombros desta terrível tragédia, repetindo um ciclo torturante que se perpetua até que seja quebrado. Ela estava começando agora a reconstruir tudo de novo, acreditando que era possível poder recomeçar. Selena era como as águas do oceano, às vezes calma, outras vezes com muita intensidade. A fazendeira precisava de apoio e compreensão, de alguém ao seu lado que saberia enfrentar as dificuldades temporárias com ela, respeitando o seu tempo, o seu processo e a sua capacidade de cura. Aonde isso vai nos levar, não me importa, eu quero ser alguém para ela, mas não alguém que a conheça como os outros conhecem. Eu quero ser aquela pessoa que conhece o seu mais profundo, que esqueça seus defeitos e aumente suas qualidades, alguém que a escute e tente de todas as formas possíveis compreendê-la, alguém que a faça se sentir bem, que a faça sorrir sem motivos especiais, alguém com quem a fazendeira possa compartilhar o que pensa e dizer coisas das quais ela não fala com mais ninguém, quero realmente fazê-la se sentir livre e viva novamente.

-Você ficou triste ou chateada comigo por eu não estar pronta para falar sobre amor ainda? - Selena soltou de repente, enquanto eu guardava despreocupada o meu violão no lugar dele.

O som da sua voz suave e duvidosa adentrou meus ouvidos em uma sonoridade angustiante que me fez virar com o cenho franzido para encarar seu rosto, já que antes do seu questionamento vago eu estava de costas para o canto do quarto colocando o instrumento no suporte na parede.

-Por que está me fazendo essa pergunta? - Num ato ambíguo, Gomez encolheu os ombros abaixando brevemente a cabeça por algo impreciso.

Em um curto silêncio e clima inicialmente ruim, a fazendeira pareceu se encontrar em uma situação vulnerável ali de pé olhando para suas mãos antes de prosseguir.

-Me desculpe, eu não quero que se sinta rejeitada, sunshine. - Selena iniciou sua explicação inexata, voltando a reerguer o olhar temeroso até meu rosto de expressão incerta.

-Os sinais estão confusos para mim, mas isso não significa que eu não sinta sentimentos verdadeiros por você. - Sem interrupção, ela concluiu aflita e receosa sua fala branda.

Com mais exatidão da sua parte pude compreender melhor o que se passava de fato com a morena. Embasada em nada, e na sua suposição imaginada, a fazendeira mais uma vez estava deixando que seus medos e inseguranças falassem mais alto que ela.

-Eu sei, amor. Está tudo bem, são seus sentimentos, suas emoções e você pode expressá-las quando quiser e da maneira que achar mais adequada. - Sorri para tranquiliza-la, caminhando em sua direção.

Dizer “eu te amo” primeiro e não ouvir de volta é provavelmente o maior pesadelo de qualquer pessoa. No entanto, no nosso caso é diferente pela carga emocional que essas três palavras não declaradas traziam para ela de coisas positivas e negativas já vividas.

-Demi, eu quero continuar o que temos. Você é uma mulher gentil, inteligente, engraçada e com quem adoro passar cada minuto do meu dia. - Gomez murmurou ainda assombrada pelo pressuposto sentimento de rejeição.

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