Recuperação

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POV'S: Demi

Recobrando os sentidos algumas vezes na mata e abrindo os olhos por poucos segundos outras duas vezes dentro do que me pareceu ser um veículo, talvez uma ambulância, eu pude ouvir o quanto as pessoas a minha volta estavam desesperadas, preocupadas em demasia com Nicholas e comigo. Selena o tempo todo falava coisas para mim, ela estava apavorada e pedia incessantemente mesmo sem ter certeza alguma de que eu a ouviria ou não para que eu não a deixasse sozinha também. O medo era perceptível em seus sussurros de voz trêmula ao meu lado quando fui tirada dos braços do meu pai para ser colocada em uma maca, a sombra do seu passado estava ali em seu presente trazendo de volta seus velhos traumas ao me ver recebendo os primeiros socorros dos paramédicos, com o flash de memória da tragédia que a fazendeira viveu com sua falecida esposa vindo a cada minuto, acionando gatilhos, gritando alto em sua cabeça. Quando apaguei de novo e voltei a acordar eu já estava me sentindo bem melhor do que anteriormente e menos fraca também, confusa por não reconhecer o local que eu estava franzi a testa ao escutar um ruído semelhante a uma máquina apitando ou coisa assim. Apertando os olhos pisquei algumas vezes enxergando de início tudo desfocado, identificando depois de um tempo um teto branco de luzes e paredes igualmentes claras. Sem me mexer muito observei com o olhar o ambiente silencioso a minha volta que cheirava a remédio, menos sonolenta acabei percebendo se tratar de uma unidade hospitalar notando também Selena junto ao meu leito debruçada sobre a beirada da cama de hospital. Gomez dormia sentada em uma cadeira, com a cabeça apoiada em um dos seus braços enquanto segurava levemente a minha mão com a sua, o seu rosto estava escondido pelos seus longos cabelos de fios soltos e hidratados, que se esparramavam no colchão de lençóis brancos. Naturalmente dei um sorriso modesto com a cena adorável de atitude louvável da fazendeira em fazer questão de permanecer junto a mim em um quarto de hospital, não me deixando por um segundo sequer sem a sua companhia desde que nos reencontramos naquela mata.

-Selena... - Desfazendo com calma o contato das nossas mãos toquei seus cabelos macios chamando por ela suavemente.

Eu não queria interromper seu sono, mas era preciso. Primeiro: que adormecer assim não era nada confortável para ela podendo inclusive lhe causar dores e segundo: eu precisava perguntar para a fazendeira sobre Nicholas, só de pensar no garoto me dava uma grande angústia no peito por não ter nenhuma notícia sobre seu estado de saúde. Mais dois murmúrios meus chamando gentilmente por seu nome foram dados sendo suficientes para despertar a morena adormecida, se remexendo desconfortável no assento da cadeira pela posição torta que havia ficado por tempo não calculado, Selena resmungou baixinho contorcendo a face em uma careta desgostosa ao recompor a postura ereta do corpo.

-Você acordou, sunshine! - Afirmou a mais velha com o tom de voz sonolento e um pouco mais rouco que o normal.

-Como está se sentindo? Desculpa, eu acabei pegando no sono esperando você acordar. - Disse ela me encarando envergonhada esfregando uma das mãos na cara amassada, retirando do rosto o cabelo bagunçado.

-Eu estou bem e você não precisa se desculpar por isso. - Selena sorriu agradávelmente para mim
soltando um bocejo, apoiando logo em seguida as costas no encosto da cadeira.

Gomez aparentava estar sem energia, seu semblante estava cansado e o rosto abatido como se ela não dormisse bem a várias noites.

-Desculpa. - A fazendeira pediu mais uma vez acanhada pelo bocejo indesejado.

-Vem cá, amor. - Sorrindo leve estendi meu braço na sua direção em um convite para ela se aproximar mais e segurar a minha mão com a sua novamente.

Selena assim o fez deixando um beijo carinhoso em meu dorso ao entrelaçar os nossos dedos e levantar da cadeira, colocando o seu chapéu preto que se encontrava em seu colo no assento da peça de mobília, tomando cuidado ao me tocar por conta do acesso da hidratação endovenosa que eu recebia para repor rapidamente os fluidos e eletrólitos do organismo, com a agulha longa presa por esparadrapos no meu braço esticado ao lado do meu corpo.

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