A Fazendeira

Noite Inusitada

POV'S: Demi

Nós três ficamos estáticas, paradas como estátuas por alguns segundos na rua, o clima mudou drasticamente, e é muito provável que tenha mudado para pior. Pelo menos para mim que encarava Desirrê, a jovem francesa estendia os cantos dos lábios os tensionando para cima em diferentes direções, mas a parte superior do seu rosto permanecia praticamente imóvel. Assim como ela, exibi um sorriso falso muito bem treinado em sua direção, desviando os meus olhos dela logo em seguida intercalei o olhar até a fazendeira, mas, o meu olhar não a enganava, transmitindo o sinal de desgosto que eu sentia no momento. Tentando encontrar uma saída para tornar o ambiente mais confortável para ambas, Selena puxou assunto, perguntando para mim se iríamos até a praça caminhando, com um aceno de cabeça assenti em confirmação ao seu questionamento, a praça ficava a poucas quadras da casa dos meus pais por isso não tinha a necessidade dela ir dirigindo até lá. Ao ter a minha confirmação para a sua pergunta, Gomez pegou seus pertences no veículo, após trancar o carro e ligar o alarme, a morena elegante voltou até mim com o intuito de segurar minha mão com a sua. Em uma postura defensiva que demostrava resistência eu não deixei o contato entre nossos dedos acontecer, desviando do seu toque coloquei os braços para frente do meu corpo mantendo minhas mãos baixas com as palmas juntas, claramente eu estava estressada agora, e a mais velha rapidamente teve essa percepção no meu gesto de autoproteção. Era como lembrar-se de como você se sentia segura na infância quando andava de mãos dadas com sua mãe, a criança cresce, mas os reflexos permanecem. Selena prestou especial atenção às mudanças dos meus comportamentos preventivos e reativos, sem interações indesejadas seguimos lado a lado até a praça com Desirrê em nosso encalço. Por Deus, como essa mulher falava muito e com desembaraço, ela não calou a boca um minuto sequer até a praça, continuando à vontade com o seu falatório enquanto andávamos pelo lugar de clima romântico a noite, iluminado e tranquilo, perfeito para dar uma volta no final de tarde ou em qualquer outro horário com a família, amigos e claro em casal. Passeando pela calçada da praça, observamos o coreto e vários bancos para descanso, nos finais de semana a banda country antiga da cidade fazia shows ao vivo para as pessoas movimentando o comércio todo ao redor, onde continha boas opções de restaurante, cafeteria, bares e sorveteria por perto. Cafés costumam ter um ambiente acolhedor e são ótimos para conversar, pensando nisso Selena sugeriu que fossemos até o estabelecimento de letreiro piscante evendeciando o nome do local em uma grande placa luminosa do outro lado da rua. Aliás, no cardápio tinha um bolo de frutas vermelhas muito gostoso ao qual a fazendeira sugeriu que nós duas dividíssemos um pedaço quando garanti a ela que estava sem fome e por isso não iria querer nada. Comigo sendo voto vencido, cruzamos a rua entrando no comércio com cheiro de creme e café filtrado. Atrapalhada como somente eu sabia ser, acabei tropeçando em um dos pés de uma das cadeiras do estabelecimento e por pouco não cai no chão da cafeteria. Como minha salvadora, Gomez me segurou pela cintura impedindo minha queda e um constrangimento ainda maior. Houveram uns risos dos poucos clientes que ali estavam, deixando minhas bochechas coradas e quentes, uma risadinha da parte de Desirrê também foi ouvida por mim e Selena, mas o olhar de reprovação da fazendeira a fez retroceder. "Desajeitada," essa foi a palavra que a francesa murmurou para si mesma em julgamento ao meu pequeno acidente, me olhando com superioridade antes de ficar em silêncio indo se sentar em uma mesa, se locomovendo com elegância exibindo uma linguagem corporal confiante e graciosidade nos movimentos. Das várias mesas vazias, a estrangeira escolheu uma perto da saída e de frente para uma das janelas para se acomodar. Fazer o quê? Eu era assim meio fora do lugar mesmo, desastrada e muitas vezes sem graça. Cada um tem os seus próprios jeitos e eu sou assim... é nessa minha bagunça que eu me acho, que eu me gosto e sou feliz. Devido ao ocorrido embaraçoso de minutos, meu lado introvertido e inseguro falou mais alto. Interagindo pouco, eu assumi no decorrer da noite que até o momento resultou em um desastre, o papel de observadora. Selena e Desirrê comentavam sobre viagens enquanto esperávamos os pedidos ficarem prontos, com a francesa mencionando como as experiências de viagem têm moldado sua carreira, refletindo sobre como conhecer outros países e exposição a diferentes culturas, ambientes e desafios ao redor do mundo concedeu a ela a capacidade de pensar de forma mais ampla e inovadora no meio profissional.