Primeira amizade

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"Queria pedir pra ir no banheiro, mas todos iam notar minha presença, e eu estaria chamando atenção. Com todo mundo dentro daquela sala, o professor explicando a matéria e todos os olhares em sua direção, levantar a mão não era uma boa, realmente precisava me controlar e aguentar até a hora do intervalo. Imaginar que todos estão prestando atenção em você o tempo inteiro não é nada fácil, imagina passar a vida toda assim".

Olá, gostaria de avisar que caso as esses capítulos pareçam bagunçados e sem sentido, quero que continue lendo. Tudo vai começar a se encaixar do capítulo cinco pra frente.

"Tenha uma boa leitura, pois é com o treinamento da mente que se forma a alma".

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Eu estava perto de um fogão, que estáva do lado de fora da minha casa, nem me pergunte o motivo de ter um fogão do lado de fora, coisas do meu pai. Não me recordo bem o que estava fazendo lá, só me lembro de uma menina com uma boneca de plástico na mão me chamar e se aproximar de mim.

Era a neta da minha vizinha, ela se chamava Isabel e tinha os cabelos lisos e pretos, junto aos seus grandes olhos esbugalhados e suas unhas todas ruidas, estava brincando no quintal da sua casa que era do lado da minha. Quando eu a vi ela me chamou e me convidou para brincar com ela, e eu aceitei. A boneca dela era linda, me lembro dos olhos azuis, e o rostinho de bebê bem realista, parecia realmente um recém-nascido. Deus me livre de ter uma dessas em casa hoje em dia, muitos menos um bebê de verdade. Era uma daquelas bonecas baby alive com cheirinho de fruta, que tinha sempre uma propaganda passando na televisão.

A gente passou a manhã brincando con a boneca e depois ela foi pra casa. Eu fui almoçar, acho que era um feriado ou final de semana já que não estava na escola e estudava pela manhã. Eu me lembro de me sentir diferente naquele dia, com o primeiro contato com outro humano mais próximo além dos meus pais e meu irmão. Acho que eu tinha uns sete ou oito anos, minha memória infelizmente se tornou bem falha com o passar do tempo, tanto que tudo que lembro é bem borrado na mente, eu torço para lembrar a cena com mais detalhes e é quase impossível. As vezes acho que esse cenário foi o mais próximo que minha mente conseguiu criar, até hoje não tenho certeza se realmente aconteceu assim, e nessa ordem.

Mas todo mundo precisa de uma história não é? A história de como conheceu sua primeira amiga ou amigo, a primeira amizade a gente nunca esquece, o primeiro ser humano que você considera ser seu confidente é alguém que não se arranca nem quando o tempo passa, nem quando essa pessoa vai embora, se afasta ou te decepciona.

Infelizmente tudo isso sempre aconteceu comigo, seja por obra do destino, minha ou das pessoas que eu sempre considerei diferentes de mim. Não me sentindo superior é claro, mas sempre me senti errada e inferior, cheia de inseguranças. Mas os sonhos sempre nos ajudam, a música sempre ajuda, um filme que pra você é especial, uma palavra, um abraço, um gesto de carinho e atenção. Tudo ajuda.

A esperança criada durante a infância e a vida em várias situações é necessária e sempre tentei mante-la viva dentro de mim, como algo fiel e que eu tivesse o tempo todo. Mas infelizmente ela não te acompanha a vida inteira. Em algum momento você vai se sentir só, a solidão vai aparecer, as decepções afetivas, profissionais, amorosas, as discussões, a prova que você zerou, a conta que você não conseguiu pagar, problemas como esse crianças jamais pensariam em passar.

Eu fui uma criança, eu vivi a minha infância (até fiz uma rima) com traumas, mas vivi. Eu até hoje sinto minha vida sendo destruída aos poucos por escolhas não feitas por mim, meus pais e quem podia impedir que eu virasse alguém que não sabe viver nesse mundo caótico. Uma menina assustada, traumatizada com pessoas que gritaram, zombaram, e julgaram. Eu sempre tive medo de falar e me expressar por que algo me bloqueia, algo que aconteceu quando eu ainda era uma menina.

Os primos de LayOnde histórias criam vida. Descubra agora