De volta aos sonhos.

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Os dias na escola foram normais, no caso, ruins como sempre, já que em toda a escola nós éramos as únicas três que não eram populares. Todo mundo falava e conhecia todo mundo, me dava até medo saber que em poucos meses já estavam tão integrados, mas acho que isso é o normal. Eu ser tão tímida e não ter muitos amigos, talvez me deixasse sem saber o que era ter uma vida, ter uma vida social de verdade.

Mas as tardes ruins foram passando, tomada banho as onze, terminava de me arrumar as onze e meia e almoçava. Quando dava doze horas eu ia pro ponto de ônibus, e sentava no banco sozinha, quando Cida em um dia resolveu sentar perto de mim, desde esse dia nós começamos a sentar juntas sempre, e também ficar perto da mesma cadeira na escola.
Ela não estava sentindo muita falta da Mari, até porquê, quem falava mais com ela era eu, quem realmente tinha criado um vínculo com ela e era, a sua grande amiga, Cida meio que estava lá por estar, pelo menos até Mari ir embora.

Três dias depois da nossa despedida, Luana, a irmã de Mari, que eu não via frequentemente mas que morava com ela, veio pra casa de uma amiga pra matar a saudade que já estava grande em apenas três dias. Eu logicamente aproveitei a notícia que meu pai tinha me dado, e junto com Cassandra, sim, eu ia com ela. Mesmo com nossas diferenças, a gente tinha algo em comum: gostar muito da Mari. Antes de chegar lá eu achava que ela também estaria, mas só estava sua irmã. Quando chegamos ela logo me entregou uma carta que Mari tinha escrevido, eu fiquei muito feliz em ver a folha do seu caderno com as bordas com flores, me lembrou uma vez que fizemos aviões de papel com as folhas dela. Cassandra entregou uma carta e eu de automático já tinha uma escrita, e levei, dei pra ela e também fiz um desenho de nós juntas.

Conversamos um pouco e depois fomos embora, eu esperei chegar em casa pra ler a carta. Quando abri, senti uma felicidade e uma tristeza, mas já estava mais acostumada sem sua presença, então eu comecei a ler. Não lembro exatamente como estava escrito, mas tenho uma breve edição na minha mente. A carta com a sua letra redondinha e tão pequena falava o seguinte:

"Oi, Lay, sabe quem é né? Acho que não preciso falar. Sua melhor e melhor amiga de todos os tempos passados e também os futuros. Estava aqui entrando na nova escola, e lembrei do meu primeiro dia de aula no quinto ano, quando nos conhecemos. Teve um bingo, lembra? Você me ensinou a como marcar os números de um bingo, literalmente eu não sabia fazer o básico de um ser normal, mas você nunca me julgou, lembro que eu e você nos olhamos e sorrimos. Dali em diante eu e você criamos uma relação inexplicável, e inesquecível. Eu queria que soubesse que do fundo do meu coração, você senhorita Lay, é a pessoa mais importante que eu conheci nesse lugar, e é a pessoa que eu quero levar pra sempre em tudo que eu for fazer, eu sinto muito a sua falta e das nossas loucuras, nós ainda vamos nos encontrar de novo, anote isso.
Espero que você me escreva de volta, com muito amor, Mari."

Doeu meus caros amigos, mas eu senti uma paz. Uma leveza que ajudou tanto e me deixou mais tranquila. Nunca tinha imaginado palavras assim saindo da boca dela, mas ela mandou tudo que sentia em uma carta, foi mágico. Eu já tinha mandado a minha, e esperei ansiosamente pra quando tivesse oportunidade, mandar outra. Infelizmente não tive, Luana nunca mais apareceu, as amigas dela é que iam a visitar, então eu fiquei sem notícias da Mari por muito tempo. Eu achava que era normal, alguns dias se passaram e eu comecei a ver que talvez, eu não ia conseguir manter contato, a distância era cruel, não adiantava. Eu eu era tão burra quem nem pedi o número da Luana pra tentar falar futuramente. Mas foi isso, eu perdi todos os possíveis de sinais de vida da Mari, e resolvi viver assim.

Alguns meses depois, quando estava perto das férias, Cida e eu precisávamos fazer um trabalho juntas, então teríamos que ir uma pra casa da outra, marcamos na casa dela, e essa seria a primeira vez que eu ia na sua casa. O trabalho era de história, o assunto era sobre a origem humana e sua evolução, aquilo do homem ter sido um macaco deixou minha mente meio confusa, eu acreditava fielmente da história da maça de Adão e Eva, tinha sido o que aprendi na igreja desde que eu comecei a ser gente. Então eu não estava levando esse trabalho muito a sério, com aquela vibe de religiosa chata que achava a ciência mentirosa. Infelizmente eu já fui esse tipo de pessoa, mas o bom, é que eu mudei.

Os primos de LayOnde histórias criam vida. Descubra agora