A criatura estava mais vermelha que que o Leôncio do pica pau com alergia. Sério, era idêntico. Essa parte não me fez rir tanto, já que sei lá, Orfeu tava abraçando ela. Me senti meio "traída", não sei porque mais os seres humanos são assim.Quando começamos a gostar de alguém, há mecanismos psicológicos complexos em jogo que podem explicar por que nos sentimos traídos ao vê-los com outra pessoa
Não sou psicóloga, longe disso, mas tenho algumas experiências mais práticas. Para começar, o ato de gostar de alguém libera no nosso cérebro hormônios do vínculo como ocitocina e dopamina, que nos fazem sentir prazer e apego emocional em relação àquela pessoa - igual a mim com meus sonhos.
Nos apegamos à ideia de que somos correspondidos e de que eles deveriam retribuir esses sentimentos. Sendo que na verdade, eles as vezes nem sabem que você continua existindo.
Ao vermos a pessoa que a gente gosta, com outra, isso quebra as expectativas que criamos em nossas mentes. Pode despertar sentimentos primitivos de abandono, rejeição e traição que remontam aos nossos ancestrais, quando precisávamos formar vínculos sociais para sobreviver. Isso porque a rejeição ameaça nossa necessidade psicológica básica de pertencimento e aceitação no grupo. Pode ativar o sistema límbico, que processa emoções como raiva e tristeza. Ao mesmo tempo, há uma decepção cognitiva, pois não conseguimos conciliar a realidade que observamos com a imagem mental idealizada que criamos sobre aquela pessoa.
Embora não sejam sempre racionais, esses sentimentos de traição tendem a surgir de mecanismos naturais e adaptativos do cérebro que nos levam a buscar conexões sociais significativas.
Saber disso me ajudou a controlar melhor meus sentimentos, na verdade deu uma bloqueada boa neles. Mas infelizmente eu só fui saber disso depois. No momento em que vi ele abraçando ela, me senti um caco. Mesmo que no mesmo dia eu também tivesse escutado piadas dos amigos dela, dizendo que ele não fez nada a respeito do que fizeram com ela, como se ele fosse um "covarde".
Quando cheguei em casa naquele dia, estava exausta após mais uma série de aulas no colégio. Desci do ônibus e joguei minha mochila no sofá, ansiando por um momento de descanso. Fui até a cozinha buscar uma fruta, talvez aquilo me desse um gás e me afastasse dos pensamentos da escola. Peguei uma maçã vermelha e lustrosa, mordi com vontade, sentindo o doce suco inundar minha boca. Subi as escadas lentamente, ainda mastigando. Quando passei pelo quarto do meu irmão, notei que ele estava deitado, olhando fixo para o teto. Seu semblante denotava uma profunda reflexão, como se estivesse lidando com alguma questão íntima, tipo aquela doença que chamamos informalmente de paixão.
Cheguei no meu quarto e me joguei na cama, observando as manchas no teto como fazia quando era pequena. Será que estava na hora de encarar aquele sentimento desgraçado?
Muitas coisas vinham à minha mente, como o garoto bonito que eu vi a primeira ver em uma noite, o sorriso, ele me chamando de bonita. Mas bom, ele disse isso para o meu irmão, então poderia ser até mentira. E pensar nisso naquele momento não me ajudou em nada.
Peguei meu diário, na verdade uma filha dele, e desabafei tudo aquilo que estava sentindo, rabisquei vários nomes em letras caprichadas. Depois de esvaziar meus pensamentos no papel, principalmente sobre Orfeu, eu fui até a cozinha, peguei um esqueiro e fui para o quintal.
Em todos aqueles versos, dizendo coisas como: MEU DEUS PORQUE
Ou talvez outro: PORQUE AQUELA BARANGA E NÃO EU? ELA É TÃO INSUPORTÁVEL!
Eu pensava que se ele soubesse como ela realmente era ou como ela pelo menos me tratava e tratava minha amiga, que bom como ela tratava todo mundo quase, que não fosse amiga dela. Ele talvez veria ela com outros olhos e esses não gostariam em nada dela. Eu além de maluca era idiota. Outro ponto aqui à tarde de corpo de rosto também era mais agradável do que eu. Ela tinha seios, até umas pernas bonitas, só perdia mesmo no caráter.
Como por algum motivo desde criança eu sempre fui talvez orgulhosa ou simplesmente, nunca pensei que receberia nenhum tipo de afeto desse tipo. Eu só aceitei e o que eu tinha escrevido eu queimei. Peguei o isqueiro acendi e comecei a queimar como se fosse um ritual, onde tudo que aquilo era queimado eu esqueceria para sempre, e etária tudo bem. Me senti altamente forte e totalmente disposta e sentir que já tinha passado aquela paixonite de adolescente.
No dia seguinte durante a tarde na escola tudo foi bem, pelo menos até eu ver os sorriso dele.
Tá. Acho que queimar droga de um papl com algumas letras não tinha surtido efeito. Então durante aquele período do sétimo ano eu só tentei aceitar tudo que tava acontecendo.
E evitava ao máximo ver os dois juntos.
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Os primos de Lay
Novela JuvenilLay é uma garota muito tímida e introvertida, que acaba criando uma fobia de pessoas diante dos acontecimentos de sua infância e adolescência. Ela encontra na sua imaginação um meio de fugir do seu medo de ter relações sociais.