Ela partiu

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Após uma noite intensa, as duas mulheres acordam com a luz do sol escapando por uma das frestas da persiana da casa de Soraya. Dormiram além da conta, mas se sentiam revigoradas.

Simone foi a primeira a se levantar, dirigindo-se ao guarda roupa de sua vice.

– Será que eu vou encontrar algo que sirva em mim? – Simone puxa os pés de Soraya, que resmunga em resposta.

– Certamente não vai encontrar nenhuma cueca de algum namorado meu – Thronicke senta, cobrindo os seios com o lençol branco. Esfrega os olhos e pega seu celular.

Tebet sorri, mas mantém os olhos a procura de alguma camiseta, blusa ou qualquer coisa do tipo que não fosse do tamanho PP.

Ao acessar suas redes sociais, Thronicke percebe uma mensagem vinda de um número fora de sua lista de contatos. O número anônimo parecia ser internacional, já que tinham dígitos a mais que o de costume.

Ignorou, pensando ser spam. Não abriu a mensagem e seguiu respondendo os milhares de grupos em que estava, agradecendo a todos pelo apoio e acalmando as pessoas preocupadas com sua saúde. 

Apesar de se sentir bem, teria que passar mais uma semana no hospital para fazer uma série de exames. Ao lembrar disso, decidiu ver se seus médicos haviam entrado em contato com ela. 

Não pode deixar de sorrir ao ler a mensagem do Dr. Simão, agradecendo pela paciência durante as suas raras visitas. Soraya lembrava-se de quando o jovem médico amazonense ficou furioso por ver Tebet invadir seu quarto no CTI, usando uma cadeira de rodas.  Queria muito ter visto a cena, mas só de imaginar já sorria abertamente para a tela do celular.

Depois de conferir os grupos, Thronicke abandona o aparelho na cama e se levanta para trocar de roupa. Decide não usar nada de muito arrumado, já que voltaria a vestir a camisola azul do hospital.

Já Simone desistira de procurar por algo que a servisse, acabou vestindo a mesma camisa azul que usou no seu discurso da vitória.

Momentos após, Marcos bate na porta, mas percebe que ela não havia sido trancada. Empurra-a e dá de cara com Simone abraçada a Soraya.

– Eu atrapalho? – Marcos sorri, sem graça.

As duas se soltam como quem se queima em uma panela fervendo.

– Jamais, Marcos. Já estávamos indo. – Ambas se olham envergonhadas com a cena. Tebet sai primeiro enquanto Soraya tranca a sua casa. Ela havia separado alguns itens de higiene pessoal e algumas roupas mais leves para quando pudesse usar.

Em um ato de gentileza, Silveira carrega a mala da loira até o porta-malas e espera até que suas amigas se confortem no banco de trás.

Da janela, Soraya vê um dos assessores de Bolsonaro acenar para ela. Estava de pé do outro lado da calçada, visivelmente alegre. Tinha em mãos um celular, e acenava com ele para a loira.

– O que o Mourão tá fazendo ali?  Esses bolsonaristas são todos atoas? – Soraya franze o cenho.

Simone não a escuta porque está conversando seriamente com Marcos, que analisava o discurso dela na noite de ontem. Soraya se cala e decide pegar o celular.

Tudo começava a fazer sentido, seu ex-aliado estava rondando a sua casa, sorridente. Coisa boa não seria, já que a derrota de Bolsonaro foi proclamada nas urnas.

Tremendo, ela desbloqueia seu celular e lê a mensagem do número desconhecido. Não havia texto, apenas uma imagem nítida o suficiente dela seminua nos braços de Simone Tebet, a mais nova presidente do Brasil. 

Por um milésimo de segundo, Soraya desejou ter continuado cega. Tinham sido descobertas.

Em sua mente, ela tentava repassar os acontecimentos da noite. Saiu do hospital, entrou no carro de Marcos e foi se arrumar, logo após Simone chegou e abriu a porta de sua casa.

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