A floresta

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Já eram mais de três da manhã quando Simone está parada em frente a porteira do sítio.

Diferente da tarde, a temperatura da madrugada estava abaixo dos 20° e o farol do carro era a única fonte de luz do local.

A candidata à presidência da república havia descido do veículo para abrir a porteira e se deparou com sua vice-presidente descendo o morro até ela.

Seu coração estava disparado e ela sentia que ali as coisas poderiam ser trágicas.

Que diabos ela estava fazendo ali uma hora dessas? Como sabia que eu chegaria a essa hora?

- Soraya, o que faz aqui? - Simone se aproxima.

Enquanto as duas falam, é possível perceber uma fumaça pairando no ar, devido ao frio.

- Eu que te pergunto, Simone. Amanhã será um dia histórico para o Brasil e ao invés de estar preparando o seu discurso, você estava turistando por aí!

- Tem razão, desculpe. Não pude deixar de conhecer a cidade. - Simone empurra a porteira com toda força e retorna ao carro.

Soraya revira os olhos e entra no banco da frente, percebe que se sentou em cima de algo.

Era o óculos de Janja.

Ela sabia que não podia cobrar nenhuma satisfação a Simone, já que elas não tinham nada.

Eram mulheres solteiras e desimpedidas, unidas apenas por um bem maior: a política brasileira.

Mesmo assim, sentia raiva e rancor ao se lembrar da cena de Tebet com a vice de Lula.

Instantaneamente seus pensamentos voltaram a Esmeralda, a mulher com quem passara a noite.

Como sou hipócrita.

Não sabia desde quando sentia tanto interesse em mulheres, mas tinha certeza de que Simone tinha grande culpa.

- E como foi o passeio? - Thronicke pergunta fingindo interesse.

- Foi ótimo. Eu... fui com a Janja - Simone diz o nome da mulher com muita cautela e começa a manobrar o carro, girando o volante.

O silêncio toma conta do ambiente. Só é possível ouvir os sapos e os grilos bem distantes do carro.

Permanecem assim até que Tebet estaciona o veículo perto de uma árvore frutífera. Ela puxa o freio de mão e com muito receio, encara Soraya.

- Você não costuma ser quieta assim. Quando era minha aluna vivia de conversa com os outros colegas...

- Isso já passou, Simone. Agora sou outra pessoa - Soraya sai do carro e bate a porta.

Apressada, Tebet sai atrás dela.

- Ei! O que aconteceu?

Soraya a ignora e continua andando rumo a casa.

- Soraya!?

- Nada, Simone! Nada! - Thronicke abre a porta da casa e entra. Outras pessoas do partido também estão dividindo o sítio, logo elas cessam a discussão para não acordarem ninguém.

Para a tristeza de Soraya, as duas iriam compartilhar o mesmo quarto, mas em camas separadas. Não suportava sequer ouvir a respiração de Tebet.

Algo que antes era prazeroso, estava virando o seu maior pesadelo.

Ambas passam por corredores e chegam até o quarto. Sabendo que não poderia dormir tranquilamente sem desabafar, Tebet inicia a conversa.

- Me perdoe, Soraya. Acho que tenho errado muito com você - Simone passa a mão nos cabelos, preocupada.

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