Zero

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Depois de manter um quadro estável, Thronicke foi transferida para o hospital em sua cidade natal, no Mato Grosso do Sul.

No primeiro final de semana internada no hospital, fez de tudo para poder acompanhar Tebet durante a votação. Fazia todas as refeições sem reclamar, deixava que fosse examinada e tinha o sono perturbado inúmeras vezes.

Dadas as suas condições de saúde, os médicos não deram autorização para sair do hospital.

Ficou triste e ressentida, mas esperou Tebet se pronunciar na TV. A candidata à presidência da república havia saído cedo do hospital e Soraya se lembra de ter dado-lhe um beijo tímido no rosto e desejado boa sorte.

Às nove da manhã, Tebet passava na programação da rede Globo. Soraya podia apenas ouvi-la e sonhava em ver novamente os seus ‘’sapatos do egito’’.

"Vamos vencer as eleições, vamos unir o Brasil novamente. O povo brasileiro sabe que eu tenho as melhores propostas para a reintegração do nosso país"

Em seguida sua fala é interrompida e o repórter torna a anunciar outras notícias do dia.

Soraya bufa e tira o lençol de seu corpo. Sentia seus cabelos emaranhados, mas nada podia fazer sobre isso.

Ela se levanta e acaba trombando com um dos carrinhos do médico, derrubando tudo no chão.

Merda! Até quando isso, meu Deus?

Não se acostumava com a cegueira. Sempre sofria acidentes no banheiro, batia os pés em quinas, além de ter que lidar com o vazio. Seu mundo estava resumido a vozes e toques.

Claro que o timbre favorito dela era o de Simone. Era diferente de tudo que já tinha ouvido e desde sua graduação sentia o poder que ela emanava. Um tom grave, mas suave ao mesmo tempo adentrava os ouvidos dela e a tirava do ar, consequentemente.

Entretanto, Soraya temia esquecer o rosto da mulher. Chorava noites a fio, escondido, por medo de não se recordar de Simone.
Tentava redesenhar os seus cabelos pretos curtos, os olhos arredondados e serenos. Fixava vários retratos dela em seus pensamentos. 
Seu rosto e seu sorriso eram as únicas imagens que gostaria de não esquecer.

Segundos depois de passar na emissora, Simone retorna ao hospital.

– Soraya, nem imagina a loucura que está lá fora! Agora entendo o porquê de não deixarem você sair para votar – Tebet para ao ver os itens espalhados no chão. Se assusta ao ver Thronicke chegar próxima de bater a cabeça em uma mesa de vidro.

Consegue impedir o acidente colocando a mão na quina, logo, Thronicke tem a testa amortecida pela mão de Simone.

– Mais um galo na minha cabeça e eu mesma passarei a usar um capacete! – Tebet sorri e Soraya se levanta com a ajuda dela.

Ambas se abraçam demoradamente e a loira sente as bochechas arderem.

– Imagino como deve ter sido desgastante, mas queria poder te dar o voto da vitória. – Elas se afastam, mas mantém as mãos dadas.

– Como você está vestida hoje? – Soraya encurta a distância entre elas e tateia os braços de Simone. – Acho que está de blazer, não é?

Todos os dias, ela perguntava à candidata o que estava vestindo, para que pudesse imaginar. Simone sempre a respondia pacientemente, nos mínimos detalhes.

– Sim! Estou usando um blazer preto que está aberto. Por baixo, visto uma camisa de botões rosa choque – Simone leva os dedos de Soraya até os botões de sua camisa. Sente os pelos da nuca se eriçarem com o toque, mas prossegue com a voz firme.

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