Lençóis

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Em um sábado ensolarado de abril, Simone organizava a sua sala presidencial. Teve ajuda de alguns assistentes, logo conseguiu mudar a decoração e deixar o espaço mais aconchegante.

Após uma hora mudando caixas e móveis de lugar, ela dispensa e agradece a colaboração dos jovens estagiários, ficando só em sua sala.

Aproveitou a privacidade para colocar algumas fotos que tinha com Marcos em sua prateleira, sentia-se triste por ter perdido seu melhor amigo. As lembranças em sua memória voltavam como fantasmas sem rumo e tudo que ela podia fazer era tomar uma forte dose de café para tentar recobrar a atenção.

Além das fotos, Tebet havia trazido do Mato Grosso do Sul muitos livros que estavam guardados. Enquanto os outros políticos tinham um sábado de descanso, Simone passou horas dentro de sua sala, organizando a estante. A maior parte dos livros tinha a temática política, mas a presidente também havia levado para o congresso alguns clássicos da literatura.

Ao retirar da caixa livros antigos da sua época como professora, Tebet encontra um dos presentes que a sua ex-aluna havia dado a ela. Não era fã de poesias, mas lembrava de ter dado uma chance a essa leitura.

Passou o restante da tarde relendo alguns dos versos e decidiu que entregaria o livro de volta à ela.

Deixou a sala presidencial e saiu para o gabinete de sua vice-presidente. No corredor vazio do congresso, Simone podia ouvir seus saltos ecoarem mais alto que as batidas do seu coração. Mesmo com muito medo, andava confiante.

Bateu na porta de vidro e esperou ser atendida. Todas as vezes que iria falar com ela, era assim. Sentia um desconforto enorme no estômago, seu coração acelerava e batia tão alto que ela mal podia ouvir suas próprias palavras. Sua respiração saía fora do ritmo e ela precisava se policiar para não gaguejar constantemente.

— Entre. – Soraya diz. Estava sentada numa cadeira rústica, suas mãos procuravam habilidosamente um contrato por entre toda a papelada. Sua atenção saiu dos papéis por um instante, mas sequer ergueu a cabeça. Soraya sabia que quem estava a entrar na sua sala era Simone somente pelo seu perfume e pelo barulho dos seus saltos.

— Boa tarde, Soraya. Trouxe alguns livros para você estudar. – Tebet coloca uma pilha de livros em cima de sua mesa. Thronicke finalmente encontra os olhos de Tebet, ávidos por um contato mais profundo. A loira desvia sua atenção para os papéis a sua frente e murmura um ‘’está bem’’.

Tebet fica parada sem saber como reagir. Soraya ergue os olhos novamente, tentando não parecer frágil na presença dela. Há uma tensão evidente entre as duas e a ex-professora tenta amenizar o desconforto.

– Não precisa ter pressa para ler. – Simone diz, se aproximando dela. Soraya se levanta, um pouco desastrada.

— Obrigada. Aceita um café? — Soraya coloca as mãos na frente do corpo.

— Não, já estou de saída. — Tebet estende a mão para ela, sem jeito. Soraya a cumprimenta, sentindo o calor de seus dedos. Ela, por sua vez, tem a mão suada devido ao nervosismo.

– Desculpe, é o calor. — Thronicke seca as mãos na roupa.

— Eu entendo, hoje está muito quente mesmo. — Tebet sorri, tímida.

Ficam alguns segundos em silêncio e se encarando, mas logo são interrompidas pelo celular de Thronicke.

— Vou deixar você trabalhar. Desculpe o incômodo. — Simone sai em direção a porta.

— Você nunca incomoda. — Thronicke responde, oferecendo um sorriso sincero a ela. Tebet consegue se virar a tempo de ver a cena, mas logo sai de volta a sua sala.
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