Um novo amigo.

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-Caralho, caralho, caralho, caralho!-(Sn) vociferou para si mesma enquanto agarrava os cabelos com força e escondia seu rosto molhado entre seus joelhos completamente transtornada. Sua situação não poderia estar pior: descobriu que não podia realizar seu maior sonho há poucos meses, e quando tentava se recuperar do choque brutal que sofreu e da profunda tristeza que assolou seu ser, descobriu que seu marido não a aceitava do jeito que era. 


Infertil.


Era um pouco ridículo pensar que ele não a queria ou a desprezava por um motivo desse, mas a menina que agora estava em sua casa com seu marido enquanto ela estava sozinha em um parque na praça comprovava o quão verdadeira era a rejeição que sofria. Em seu íntimo, (Sn) desejava que ele não enxergasse o que estava fazendo com a esposa, que todo aquele sofrimento não fosse proposital e que o fato dele sequer esperar para tentar substituir o filho inexistente deles sem conversar com ela, como se ela não fosse parte do processo ou importante o suficiente para ser informada, não significasse nada, mas ela sabia que significava tudo. Sabia que dali, não tinha para onde ir. Não tinha um caminho para percorrer e salvar seu casamento. Ela havia sido substituída, humilhada, seus sentimentos foram ignorados e pisoteados e agora, não serviam para mais nada.


O tão temido fim do seu casamento havia chegado.


-(Sn)?- escutou uma voz levemente rouca pronunciar seu nome e levantou a cabeça a tempo de ver Jake, o seu ex futuro psiquiatra, encará-la claramente confuso com a situação. 


-Oi- acenou timidamente tentando esboçar um sorriso.


-O que está fazendo ai, sentada no chão e sozinha?


-Eu...- tentou procurar uma resposta olhando para os lados, bufando quando percebeu o quão patética estava- eu não faço ideia do que estou fazendo- confessou por fim, sentindo-se exausta de toda aquela carga de problemas e coisas a serem resolvidas, pensadas e tratadas. Ela só queria voltar no tempo e tentar evitar aquilo de alguma forma.


-Quer conversar?


-Ah, não precisa se preocupar, doutor. Estou...vou ficar bem.


-Chama-me apenas de Jake, por favor- sentou-se no chão ao lado de (Sn), que o encarou confusa com sua atitude- vamos conversar apenas como amigos. Não quer ser minha amiga?


-Acho que não serei uma boa amiga.


-Pois eu tenho certeza do contrário- sorriu confiante virando a cabeça de lado quando conseguiu arrancar um pequeno sorriso tímido da mulher- que tal tomarmos um café no meu consultório? A essa hora está vazio e podemos conversar com calma.


-Não sei, acho melhor não...


-Ora, eu faço o melhor café de Londres, você precisa experimentar- levantou-se, estendendo a mão para que (Sn) se levantasse- vamos?


[...]


-Café preto?- Jake perguntou e (Sn) apenas assentiu enquanto olhava para o consultório ricamente decorado em branco e dourado, com pequenas plantas espalhadas pelos cantos e um grande divã vermelho chamando atenção no local. Estava claramente acanhada e se sentia presa por algo que estranhamente não sabia o que era.- não precisa ficar nervosa. Estamos aqui como amigos.

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