Toda tempestade tem seu início.

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3 meses e 15 dias atrás...

-Como ela passou o fim de semana?- Matilda perguntou assim que chegou na casa de Zayn e (Sn) depois do seu dia de folga ter acabado. Estava extremamente preocupada com tudo que estava acontecendo com sua menina que não demonstrava sinais de melhora mesmo depois de tanto tempo.

Zayn também não parecia nada bem, estava com olheiras profundas e mais magro do que o normal. Apesar de estar sempre animado quando estava perto da esposa, era nítido que se esforçava para não se deixar abalar pela descoberta de que não seria pai e ainda suportar toda a depressão que sua esposa vivenciava. (Sn) não era mais a mesma. Desde que descobriu que não poderia ser mãe, mergulhou em uma profunda tristeza, permanecendo calada quase todo o tempo com os pensamentos distantes e cada vez mais fria, desistindo dos projetos de caridade que estava empenhada em fazer e do seu trabalho como pediatra, o qual tanto se dedicava. Já não se importava tanto em se arrumar ou comer, parando de se importar em passar mais tempo perto da família. amigos e até do marido. Mas sempre que era questionada sobre seu estado e sobre como se sentia com tudo aquilo, dizia a mesma coisa:

"Estou bem. Vou superar".

Mas ninguém tinha tanta certeza sobre isso.

(Sn) Havia se trancado na própria solidão. E não pretendia sair de lá tão cedo.

-Na mesma..- respondeu desanimado, apoiando a cabeça na mesa da cozinha onde comia seu café da manhã.

-Tenho certeza que ela estará muito melhor hoje. Farei bolo de chocolate para o café da manhã dela. Já acordou?

-Não, ela tomou de novo aqueles remédios para dormir e não acorda desde ontem à tarde. Não sei se esses remédios são bons para a saúde dela.

-Devíamos levar ela a um médico, Zayn.- a senhora tentou dizer com calma. Mesmo estando extremamente preocupada com o estado da patroa, não queria colocar mais lenha na fogueira. Nervosismo nessas horas nunca é bom.

-Eu já tentei um milhão de vezes, Mat, mas ela se recusa. Quando está limpa de remédios e consegue falar comigo formando frases coerentes sempre me diz que não irá a lugar algum e que está ótima. Não posso levá-la a força, você se lembra o que aconteceu da última vez que tentei fazer isso.

É claro que ela se lembrava, jamais conseguiria esquecer a raiva cega que viu nos olhos sempre doces de (Sn) quando descobriu que havia sido enganada e levada para o psiquiatra sem o seu consentimento. Estava tão descontrolada que havia agredido Matilda verbalmente e fisicamente, louca de ódio.

-E o que iremos fazer? Ela não aceita que está doente, não quer se tratar mas precisa antes que aconteça uma tragédia que não poderemos consertar.

-Tragédia?- perguntou assustado como se essa possibilidade nunca tivesse passado pela sua cabeça. Que tipo de tragédia poderia acontecer?

-Ora, Zayn, a maioria das vítimas que cometem suicídio tem depressão, fora as que se machucam e machucam os outros. Depressão é algo extremamente perigoso para a integridade física do doente e das pessoas que rodeiam ele.

-Suicídio? É claro que não, (Sn) sempre foi cheia de vida, jamais pensaria em se matar. A minha (Sn) jamais cometeria suicídio.

-Talvez a (Sn) que nós conhecemos jamais cometa suicídio, mas essa (Sn) que está dormindo no seu quarto nesse exato momento se parece ao menos um pouco com a sua (Sn)?

-Não, mas..

-Entenda uma coisa, Zayn, essa (Sn) não é a nossa. Pela nossa eu boto a mão na fogo que ela jamais faria algo assim, mas por essa eu não garanto nada. Nada, entende?

AishaOnde histórias criam vida. Descubra agora