Chapitre Sept

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Estar de volta na casa dos meus pais era tudo que eu precisava para tentar sobreviver a catástrofe que havia acontecido na minha vida.

Fui recebida pela minha mãe, que me abraçou antes mesmo que eu entrasse pela porta. Agarrou meu pescoço, e minha cabeça, dando um abraço tão apertado, mais tão apertado, que mais parecia uma tentativa de quebrar meus ossos. Jean demorou um pouco mais para aparecer, ele veio do jardim direto para a sala pela porta dos fundos, e a roupa quadriculada cinza, estava toda suja de terra.

Minha família paterna era dona de algumas floriculturas na cidade, e o meu pai era sócio do meu tio nos negócios. Enquanto meu tio Julien cuidava da parte administrativa, e mais empresarial, Jean era responsável por cuidar das estufas, fazer as germinações das plantas e garantir que todas elas tenham um alto padrão de qualidade.

Assim que me viu, ele bateu na roupa para ajeita-la e tirar um pouco da poeira, me encontrando para uma abraço cheio de ternura e carinho.

— Como ma princesse está? — Deixou um beijinho no topo da minha cabeça, e segurou meu rosto de modo que nos olhassemos no olho.

— Um pouco mal.

— O que houve? — Levantou as escuras e sarradas sobrancelhas. — Tem a ver com seu namorado?

Meus pais viviam alheios ao mundo tecnológico, se a noticia não passasse no jornal da noite, eles nunca iriam ficar sabendo. Sorte a deles.

— Sim. — Respirei fundo e tomei coragem antes de contar. — Marcel me traiu.

A boca de Jean formou um O perfeito, já minha mãe colocou as mãos na cintura e franziu o rosto.

— Ele fez o quê? — Paloma indagou com um olhar capaz de matar. Eu não queria estar na pele do Marcel caso encontrasse com ela. — Com quem ele te traiu? Você sabe?

— Sei, com a Sophie.

Nesse momento, achei que Jean fosse desmaiar. Os olhos dele se arregalaram e vi a incredulidade desenhada na sua face. Para o meu pai, era um absurdo gigantesco a garota que ele viu crescer ao meu lado ter feito algo assim.

Sua única reação foi me puxar de volta para o abraço, e envolver com meu corpo com seus braços, garantindo que me sentisse acolhida, segura. Igual como fazia quando eu ralava o joelho e saía chorando pela casa. Jean me segurava pela mão, me colocava sentada no seu joelho, e dizia que tudo ia ficar bem. E depois de alguns beijinhos na testa, ele me abraçava. E eu esquecia da dor.

Já a reação da minha mãe foi sair, ir direto para a horta — segundo Paloma para buscar as folhas de uma planta que ela disse ser ótima para anemia. O primeiro comentário que ela fez quando me viu, foi contestar que eu estava anêmica — E canalizar a vontade de ofender Marcel e Sophie em outra coisa.

Pude ouvir o som das pulseiras no seu pulso indo umas contra as outras enquanto ela picava as folhas. Ah, e também o som da faca contra a tábua de madeira.

(...)

Meu quarto estava do mesmo jeito desde os dezoito anos, algumas reformas mas nunca mudaram a cor das paredes — um tom de azul bebê — ou os móveis de lugar.

Eu arrumava minhas roupas no armário quando Paloma bateu na porta. Mal tive tempo de ir abrir, ela a empurrou e entrou com duas canecas de porcelana em mãos. Uma com café, e outra com o tal suco verde.

— Toma tudinho! — Me entregou a caneca e antes de tomar, cheirei o liquido verde e espesso. Um pouco viscoso também.

Bom, nenhuma surpresa, cheirava a mato. Mato velho. Pisoteado por uma vaca. Cuspido por um cavalo.

You're My Universe - Trevor ClevenotOnde histórias criam vida. Descubra agora