Chapitre Douze

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Uma das maiores ironias da minha vida — se não a maior —, era a de ser a garota que nasceu e cresceu em uma cidade litorânea, mas morre de medo do mar.

Só para esclarecer, nem sempre foi assim.

Quando eu era criança, meus pais me levavam todo domingo à praia. Jean nunca marcava nenhum outro compromisso para esse dia, ele esperava mamãe e eu sairmos da igreja, e íamos.

Eu gostava de brincar na areia, correr de um lado para o outro, fazer castelinhos. E aos poucos, ganhava confiança para entrar na água. Paloma sempre ia comigo, em alguns dias eu só molhava os pés, e em outros, ela me levava até a parte um pouco mais funda.

Não me lembro exatamente como aconteceu, eu tinha só seis anos e no geral, esse dia é um imenso borrão para mim, mas  meu tio decidiu ir conosco também. Segundo minha mãe, eu brincava com meu primo quando Julien achou que seria uma brilhante ideia entrar na água comigo, apesar de estar um pouquinho alterado.

Eu era uma criança insegura, muito insegura. Meus pais tentavam me ensinar a nadar aos poucos, com paciência, mas pro meu tio, terapia de choque seria mil vezes mais eficaz. E assim ele fez.

Jean notou que eu não estava mais na faixa de areia, e olhou para água, e logo me encontrou, imergindo na água, balançando os braços sem parar.

Jean conseguiu me tirar de lá, e ficou três meses sem falar com o irmão.

Depois daquele dia, eu nunca mais entrei na água. Quando Trevor e eu nos tornamos amigos, ele passou a nos acompanhar nas idas a praia, e as vezes, eu ia junto com a família dele.

Mas era incapaz de sair da beirada. Sophie e Trevor iam na água, e eu ficava sozinha, brincando com a areia. No decorrer do meses, Clevenot começou a passar mais tempo ali comigo.

Ele dizia que faríamos o maior castelo de areia já visto em Royan. Na França toda.

Os anos foram passando, e na adolescência, ele continuava ali comigo. Mesmo podendo ir pra água com os nossos amigos.

Ele sempre estava ali.

E agora estava à minha frente, pacientemente folheando o cardápio.

Dizer que o restaurante ficava à beira mar foi um belo eufemismo da parte do Trevor. O salão era montado sobre um dique, cuja pilastras que iam até o fundo do mar eram feitas de ferro, e o piso de madeira. Tão falhado que eu podia ver as ondas quebrarem sob meus pés.

Evitei ao máximo olhar para baixo, queria não ficar enjoada enquanto comia, e não pensar que aquelas ripas, e até mesmo as bases ferrosas, pareciam fracas demais para aguentar toda aquela estrutura.

Será que alguém mergulhava para fazer a manutenção? Será que não estava tudo enferrujado?

Senti uma pressão no peito, e um receio imenso. A vista era linda — isso não podia contestar —, e servia como uma boa distração olhar para o céu limpo, sem uma única nuvem, e para a maré tranquila.

Trevor tinha razão sobre o mar calmo, apesar das ondas grandes surgirem no horizonte, elas chegavam à costa como leves e tranquilos remansos.

Parecia ser um bom lugar para nadar.

— Já sabe o que vai pedir? — Trevor levantou o olhar do cardápio, para mim, e me fez parar de encarar meus pés.

Eu não tinha visto todas as opções, mas já tinha um palpite do que pedir. Logo que chegamos, um garçom nos acompanhou até nossa mesa, e não pude evitar de olhar para o prato que chegava à mesa ao lado: lagosta.

Lagosta amanteigada acompanhada por purê de batatas e vinho. No mesmo instante salivei.

— Lagosta.

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⏰ Última atualização: Dec 22, 2022 ⏰

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