Chapitre Neuf

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AGOSTO DE 2012, ROYAN.

- Emily, Emily! - Essa era a décima quinta vez que eu sentia o gelado do metal na parte superior do lápis do Trevor nas minhas costas. Ele não parou de me chamar desde o início da aula de química orgânica.

- O que foi? - Não me virei para trás. Continuei escrevendo e falando baixo, a professora detestava que a gente conversasse durante a aula. Uma ditadura.

- O que é um aldeído?

- É um composto que possui o carbono da extremidade da cadeia realizando ligação dupla com um oxigênio, ou seja, carbonila, e uma ligação com um hidrogênio.

Eu nem precisava olhar no rosto dele para saber que deveria existir um ponto de interrogação gigante nele. Ouvi as engrenagens do cérebro dele rodando, fazendo crec, crec.

- O que é carbonila?

Um riso baixo escapou, não pude segurar. Clevenot era atleta, e mais que isso, artista. Eu amava quando ele passava a noite lá em casa, na sacada do segundo andar, pintando o céu. Ele disse que algum dia vai fazer uma pintura minha.

Eu, numa tela? Bom, se a pintura fosse feita por ele, as chances de ficarem boas eram maiores. Porque eu, nunca me imaginei sendo a musa de inspiração de alguém.

- Romeu e Julieta querem compartilhar algo com a classe? - Droga. A professora, vulgo ditadora, nos ouviu. Culpa do Clevenot, ele não sabe o que é falar baixo. Grita feito uma gralha.

Laurie não era velha, essa mulher não devia ter nem quarenta anos, mas era a loira tingida mais amarga que já conheci na vida. Todas as vezes que Soph falava que queria pintar o cabelo, eu dizia que ela poderia acabar igual a nossa professora. Sozinha, amargurada e atrapalhando a vida dos outros.

Bem, era impossível isso acontecer porque estávamos falando da Sophie Moreau, a garota de cabelo castanho médio popular, inteligente, rica, e bonita. Se esse fosse o fim dela, qual haveria de ser o meu?

Tentamos ficar em silêncio o resto da aula, mas Trevor tinha dificuldade nos exercícios, e eu tentei ajudá-lo. O máximo que pude. Mas ai, Laurie me trocou de lugar. Colocou Simon onde eu estava e eu fui parar no fundão, sentada no meio de pessoas que eu mal trocava bom dia, e ele lá na frente. Quase na cara da professora.

Eu só sentava tão na beira do quadro por causa das vistas, há anos convivia com a miopia, logo colocaria lentes de contato e meu problema seria resolvido. Mas até então, eu teria que sentar o mais próximo possível para conseguir ver as letras. Já que óculos não adiantava nada.

Ah, e Trevor, ele sentava na frente só para me fazer companhia. Não era o lugar que ele gostava de sentar, pelo menos não nessa aula, ele costumava sentar aqui no fundo com os emos dorminhocos. Não que ele fosse emo, apenas dorminhoco.

Quando a aula acabou, para a alegria de todas as pessoas lúcidas - se é que restava alguma ainda -, Clevenot colocou a mochila dele nas costas e veio para o fundo da sala, me esperar guardar minhas coisas. Simon o acompanhou.

Eles eram muito amigos. Viviam juntos para todos os lados, por causa do time de vôlei, inclusive, fiquei sabendo que Simon poderia ganhar uma bolsa na faculdade de Medicina por causa do esporte! Nossa, fiquei tão feliz pelo meu amigo. Ele merecia demais essa oportunidade.

- Vocês dois têm que parar de falar na aula, qualquer hora ela coloca vocês pra fora de sala.

- Ela é chata! - Reclamei. - Não explica a matéria direito, enche a gente de atividade, e acha que todo mundo vai aprender assim?

- Eu vou reprovar nela. - Trevor disse em um suspiro.

- Não vai não! Eu vou ajudar você.

- Com química? - Sophie chegou na conversa. Me perguntou e falei que sim. Nem que eu virasse a noite em claro com ele, mas Clevenot iria saber pelo menos o que é um aldeído. - Boa sorte operando esse milagre.

You're My Universe - Trevor ClevenotOnde histórias criam vida. Descubra agora