𒀽 Capítulo Um: Dores de um Passado não tão Distante 𖣚

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𒀭 ׅ ֹ 𖤐 𒈝 𖤐 ֹ ׅ 𒀭

Meu mundo nunca chegou a ser tão mau, no entanto, nunca chegou a ser uma utopia; sempre tive do que me orgulhar, do que me gabar, sendo capaz de assimilar o que é e o que não é para alguém como eu. Eu nunca sequer pensei que algo me seria negado, assim como soube meus verdadeiros sentimentos sobre tudo e todos. Meus sentidos fortes afirmavam a quem eu teria uma relação mais profunda, alguma coisa que cresceria mais do que com outrem. Mas, a partir do momento que meus olhos voltaram a captar a escuridão espacial e nada vi senão aquilo, meu coração despencou e flutuou na gravidade em minha frente, como um fantasma invisível, incapaz de tocar ou alcançar, não importa quão perto estejamos. Desejei gritar, clamar por seu nome, mas minha voz se negava a sair, mesmo no som mais baixo e rouco. Rodopiei pelo local diversas vezes, o peito ardendo em chamas com a ideia de perdê-lo. Em momento algum eu o avistei, nem vi um mínimo resquício de onde poderia estar. Era devastadora a dor que me possuía.

Eu simplesmente soube, a partir de então, que eu havia, sim, o perdido para sempre. E percebi que havia algo entre nós, mesmo que quase inexistente e invisível, só quando deixei de ver sua silhueta ao meu lado, brilhando em um tom amarelado pelo poder das Esmeraldas do Caos unidas, tão belo quanto qualquer estrela já vista no vasto universo.

Com este pensamento, desatei a chorar, encolhendo-me de maneira desajeitada, ainda flutuando pelo espaço sideral. Não importei-me da ausência das Esmeraldas, ignorando todo seu significado e valor, a única importância sendo ele e seu sumiço repentino. Teria ele realmente perecido diante a mim? Abandonado-me daquela maneira?

Meu choro silencioso foi interrompido por um grito à distância, obrigando-me a volver àquela direção, assistindo um garoto desesperado de dentro da nave que antes estava, acenando com a mão freneticamente, chamando por meu nome. Chris.

Na esperança de vê-lo novamente e descobrir que seu sumiço se tratava apenas de uma mera brincadeira, avaliei minha volta mais uma vez, devastando-me ao confirmar minhas dúvidas: ele não estava lá, e talvez, nunca mais fosse estar.

𒀭 ׅ ֹ 𖤐 𒈝 𖤐 ֹ ׅ 𒀭

Uma voz doce tirou-me de meus devaneios torturantes, assim como uma pequena e delicada mão em meu ombro. Levantando os lumes na direção de onde vinham, avistei uma ouriça cor-de-rosa preocupada, um pequeno bico formado em seus lábios. Todos os presentes do lugar estavam com a mesma expressão, demonstrando curiosidade eminente em tudo aquilo que me magoava, mas que, para eles, não era nada de seu saber.

- O que aconteceu com você? Fazem dois dias que você está aqui, no mesmo lugar, do mesmo jeito, e ainda sem comer! - continuou a garota assim que ganhou minha atenção. Como resposta, dei um simples dar de ombros, fingindo desinteresse em qualquer outra interrupção.

- Você não parece o mesmo - sussurrou Chris, recostado na parede, os braços cruzados sobre o peito. - Não sai, não vai pro telhado... Está tudo bem?

Deixei escapar uma risada irônica, me forçando a levantar de cima da almofada arroxeada. Mesmo com as pernas dormentes, estiquei o corpo até sentir todos os ossos estralarem, num sinal de que estava mais do que pronto para fugir dali imediatamente.

- Lindamente bem. - Dito isto, atravessei a casa em milésimos de segundos, parando a corrida somente ao chegar em um local relaxado e sossegado, em que eu estaria, sem sombra de dúvidas, sozinho.

Sentei-me sobre o mar de flores, suas pétalas delicadas acariciando-me as pernas e braços assim que atiro meu corpo contra elas. Meus olhos se prenderam ao céu azul, o coração palpitando acelerado quando os acontecimentos passados voltam à minha mente, referentes a anteontem. Lembrar que foi lá, naquele mesmo lugar escuro e sombrio, que ele partiu dava-me uma dor excruciante, como se uma parte de mim houvesse de ir.

Estiquei minha mão para o azul, a palma aberta. Lentamente, fechei os olhos, imaginando brevemente como deveria ser fazer isso com ele, sentir seus espinhos e sua pelagem contra meus dedos. Com um suspiro, fiz um punho, trazendo-o até meu peito, onde o abri novamente, num ato doloroso. Eu o toquei, o peguei e o deixei em meu coração para sempre.

𒀭 ׅ ֹ 𖤐 𒈝 𖤐 ֹ ׅ 𒀭

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