Sombras do Amanhã

𒀽 Capítulo Sete: Última Tentativa 𖣚

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Completamente disposto. Foi assim que acordei no dia seguinte. As horas de sono me caíram bem, e estava mais que preparado para enfrentar outra viagem no tempo.

Nem me dei ao trabalho de sair do quarto; tudo estava bastante silencioso, um ótimo dia para uma "viagem". Não demorou para que adicionasse o tempo exato no relógio, sentindo que esta seria minha grande vitória. Eu iria viajar pela última vez e enfim salvar quem tanto precisava de mim.

Cliquei no botão vermelho, sentindo a agora tão típica sensação de deslocamento. Em poucos segundos, senão menos, já estava no local desejado, ansioso para pôr um fim em minha dor.

As coisas estavam mesmo diferentes quando cheguei. Ao invés de acontecer o que imaginei - ou o que aconteceu no passado -, Shadow estava sentado calmamente em uma espécie de banco, ao lado de Amy, que parecia aflita. Olhando em volta, tive certeza que estávamos na nave, onde deveríamos mesmo estar.

Os olhos de Shadow foram de encontro aos meus, e um enorme sorriso tomou forma em seu rosto. Levantou-se, agarrando meu braço alegremente.

— É você — sussurrou, sem tirar a feição animada do olhar.

— Como sabe? — sussurrei de volta.

Shadow fez sinal para nos afastarmos, e segui com ele para um canto vazio da nave.

— Eu aprendi a reconhecer os dois tipos de Sonic que convivo. — Uma risada escapou de seus lábios, mas permaneci confuso. — Você não me olha como ele. Ele não parece sentir afeição por mim como você, apenas ódio ou rancor.

E a ficha me caiu: o Sonic daquele tempo não o amava como eu, apesar de tudo. Isso era algo do Sonic que eu sou, não do meu eu passado. Era engraçado pensar que, mesmo que tudo tenha mudado, o antigo eu continuasse desprezando Shadow.

Éramos a mesma pessoa, mas quase como dois seres completamente distintos.

— Vai acontecer de novo, não vai? — Só de pensar, já sentia meu estômago revirar, e olhei-o em súplica. — Você não pode sair, não pode tentar salvar o mundo mais uma vez. É isso que vai te matar! E eu preciso de você vivo. Por favor, Shadow, não vai!

O silêncio ficou presente, Shadow parecendo absorver minhas palavras naquele período de tempo. Então, ele respondeu brevemente:

— Não vou morrer por isso.

— É claro que vai! — insisto, agarrando seus ombros e o forçando a olhar fundo em meus olhos. — Por mim, não vai. Eu preciso de você. Não tem como você sair vivo depois daquilo.

— E se eu sair? — desafiou-me. Simplista, neguei com a cabeça. Enfim notando que não desistiria tão fácil, suspirou pesado. — Certo. Eu vou e você também vai. Vamos salvar o mundo e sair juntos e vivos daquela. Ok?

— Não. Você não vai. Eu vou fazer isso sozinho. Não posso perder você. Preciso garantir que fique bem.

Shadow retruca algo baixo, tirando meus braços de seus ombros e refazendo o ato em mim.

— Se é perigoso para mim, é perigoso para você. Então vamos os dois. Vamos dar as mãos e ficar assim até o fim. Você vai sentir se eu soltar sua mão, e enquanto estivermos assim, você saberá que estou vivo. Pode ser?

Hesito, aceitando após pensar muito sobre. Os riscos ainda eram grandes, mas ele tinha razão em dizer que eu sentiria sua mão se soltar da minha se ocorresse.

Confiante, deu-me um leve beijo nos lábios, me desestabilizando outra vez com aquele simples gesto. Quando o olhei com as pupilas dilatadas, deu de ombros como se não fosse nada e saiu, dizendo antes:

— Eu queria fazer isso faz tempo.

Minhas pernas bambearam, e tive de me segurar na parede para não cair. Aquela, com certeza, era minha versão favorita de Shadow.

— Shadow! Sonic! — berrou Tails da sala de controle. — É agora ou nunca!

Novamente, meu estômago embrulhou. Era a hora da verdade. A hora que, no passado, acabou comigo. Mas eu faria de tudo para que não se repetisse.

Como prometido, Shadow e eu permanecemos o tempo inteiro de mãos dadas, e esse ato me fez ter esperanças que nunca imaginei ter, assim como foi possível sentir a minha força aumentar.

Shadow era forte. Eu era forte. No outro tempo, fomos capazes de salvar a Terra porque unimos nossos poderes. Mas neste tempo, as coisas pareciam diferentes, e agora, de mãos dadas com meu ouriço, eu soube o que faltava: não deveríamos ter apenas unido nossas forças, como deveríamos ter nos unido. Se tivéssemos tentado aquilo juntos, nada teria sido capaz de nos afastar.

E foi crendo nesse pensamento que uma explosão ocorreu, e tudo aconteceu em um piscar de olhos. Senti-me zonzo por um instante, e quando voltei a mim, sabia que havia dado certo. O espaço estava silencioso, e a Terra, salva.

— Nós conseguimos! — gritei, ansioso. — Nós salvamos o mundo juntos!

E foi aí que eu senti. A mão de Shadow não estava mais enlaçada à minha. Olhei em volta desesperado, mas sem sinal do mais escuro. A única coisa visível para mim agora era a nave em minha frente.

Chris batia no vidro, sua voz distante clamando por mim. Senti-me em um déjà-vu, voltando àquele momento passado em que perdi Shadow.

O momento que aconteceu de novo.

Meu mundo despencou como da última vez e, se eu não estivesse flutuando pela gravidade, já teria caído contra o chão.

Assim como da última vez, eu o perdi.

Assim como da última vez, nós nos perdemos.

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