Capítulo 22

105 16 2
                                    


Camila

Balanço minha cabeça, tentando desalojar a névoa que tem nublado meus pensamentos o dia todo. Já se passaram dias desde que Lauren deixou minha montanha (desde que ela foi roubada de mim).

Desde que ela partiu.

Tenho que ficar me lembrando de que ela foi de boa vontade. Que ela está de volta onde ela pertence. Tenho meu tesouro de volta. A troca está completa e nós duas podemos continuar com nossas vidas...

Então, por que me sinto tão mal? É como se cada movimento que faço consumisse mais energia do que o anterior. Eu não me transformei de volta da minha forma de dragão desde que ela saiu. Tenho usado minhas escamas como uma espécie de proteção do fato de que meu ninho está vazio agora, de que ela não estará esperando em minha cama com um sorriso, usando uma das minhas blusas como um vestido muito curto.

Eu gemo, agitando minhas asas enquanto dou um passo em direção à borda. A lua está brilhante esta noite. Talvez eu possa caçar para sair desse humor estranho.

Minhas asas se abrem enquanto salto da saliência e me levo mais alto no céu. Primeiro, eu circulo minha montanha por hábito, certificando-me de que nada está errado nas rochas e árvores que revestem minha casa. De vez em quando, um humano particularmente corajoso vaga por aqui, pensando que pode caçar em minha floresta.

Mas sou a única caçadora aqui.

Algo dispara para a direita abaixo de mim e eu abro minhas asas, trazendo meu corpo vertical para interromper meu voo enquanto examino o solo mais uma vez.

Um veado.

Rapidamente, eu corro para baixo para proteger a criatura. Será um bom jantar. Se não posso realizar mais nada esta noite, posso fazer isso. Deslizo sobre a criatura, me preparando para agarrá-la com minhas garras, mas minha visão fica embaçada.

Balanço minha cabeça, tentando me endireitar. O mundo nada ao meu redor, inclinando-se em ângulos estranhos e de repente, estou olhando para as estrelas.

— Camila.

Uma voz gutural rosna nas proximidades. O som de asas de couro batendo fez meus dentes ficarem tensos, mas ainda não consigo reunir forças para me mover.

— Me deixe em paz, Juul.

— Vi você cair do céu.

Ela suspira, seu rosto verde brilhante entrando em foco enquanto ela bloqueia o céu noturno acima de mim.

— Obrigada por notar.

Eu assobio, lentamente rolando sobre meus pés. Sacudo a sujeira de minhas asas, minha cauda chicoteando atrás de mim com a minha agitação, mas minha cabeça nada novamente, meus passos vacilam.

— Deuses

Ela murmura, aproximando-se de mim. Relutantemente, eu me inclino sobre o velho dragão e solto uma baforada de fumaça.

— É a doença do tesouro, não é?

Juul balança a cabeça e o movimento me deixa tonta.

— Você perdeu algo, criança. Verifique o seu tesouro.

Engulo o fogo na minha garganta. Não posso chorar dessa forma, então há aquela pequena vitória, pelo menos. Eu não tinha considerado a chance de que a névoa que turvava meus pensamentos pudesse ser a doença do tesouro. Que porra de irônico que, ao tentar me proteger, de alguma forma consegui cair em suas garras... através da vantagem.

Ela foi feita para ser uma vantagem.

Mas a verdade da questão era muito mais complicada do que isso. De alguma forma, meu Tesourinho realmente se tornou meu tesouro. Bufei um pequeno arranjo de chamas e balancei minha cabeça.

— O que perdi é algo que jamais poderei possuir de verdade.

Suspiro, mesmo enquanto meu estômago se contorce com a verdade nessas palavras.

— Volte para sua família, Camila. Talvez possamos ajudar.

Os olhos azuis brilhantes de Juul se fixaram em mim. Com um grunhido, me afasto da velha dragão e termino de sacudir a sujeira do meu corpo.

— Você apoiou Aeronel e Anaka quando eles massacraram minha família. Todos vocês sabiam o que aconteceu e ninguém fez porra nenhuma.

Eu estalo.

— Você quer me ajudar? Você não me ajudou na época. Você não os ajudou!

Eu rujo, o fogo enchendo meu peito enquanto a memória de sua traição toma conta, como se fosse ontem.

— Todos cometemos erros

Sussurra Juul.

— Nossa espécie tem sorte de viver o suficiente para consertá-los, às vezes.

A velha dragão me lança um longo olhar, seus olhos cheios de tristeza antes de voar.

Fico lá por um momento, olhando para o céu enquanto minha madrinha voa ao longe. Não é a primeira vez que mando Juul embora com o fôlego de vingança.

Mas pode ser a última... uma voz sussurra no fundo da minha mente.

Rujo minha raiva para o céu, chamas disparando de meus lábios em um fluxo contínuo. E quando fico sem fôlego para respirar o fogo, inalo e faço de novo.

Minhas chamas poderiam alcançar aquela lua que me zomba tão feliz, se eu tentar com força suficiente. Respiro fundo novamente e jogo chamas no ar da noite até que não haja mais fogo em meu peito, até que minhas escamas diminuam e eu me ajoelho no topo da minha montanha, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

— O que eu fiz?

Sussurro para ninguém enquanto enterro meu rosto em minhas mãos.

— Como eu fiz isso comigo mesma?

Mas ninguém me responde. A lua e as estrelas não vão compartilhar seus segredos com criaturas como um dragão doente do coração. 

Estimada (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora