Uma Troca Justa

252 13 23
                                    


Najla não dormiu direito, não conseguia manter a mente tranquila e ficava repetindo a curta conversa da noite passada milhares de vezes para tentar encontrar alguma resposta.

"O que você é?"

"Destino"

"Só a alma conhece o destino de tudo."

"Se ele era o Destino, eu preciso encontrar a alma para obter respostas? Não faz sentido." pensou enquanto revirava debaixo dos lençóis. "Por que ele parecia tão surpreso quando eu falei do contrato? Que contrato ele quer comigo?"

Najla encarava a rosa vermelho escarlate que ganhara da criatura naquela noite, podia notar minúsculas partículas de brilho prateadas que emanavam da linda flor, parecia encantada, eterna, Najla deixou-a sobre seu baú, o cheiro inebriante tomava conta de sua tenda.

Estava amanhecendo quando ela resolveu se arrumar para ir até a cidade, algo a dizia que ela deveria trabalhar hoje. 

Antes, foi buscar um pão nas panelas perto dos restos de fogueira da noite passada, sempre tinham sobras do jantar, comeu rapidamente em silêncio e voltou para a barraca. Soltou a trança em seus cabelos, pintou os olhos com Kohl, pintou os lábios de vermelho escarlate, colocou um vestido azul escuro elegante que deixava seus ombros nus, amarrou uma bainha de couro na cintura e escondeu um punhal, sempre andava com armas,  se enfeitou com adornos de moedas douradas, cobriu a bainha com um cinto de moedas que tilintavam ao andar, se perfumou, colocou as botas de couro e cobriu-se com uma capa cor de vinho. Pegou sua bolsa e colocou um par de sandálias dentro, uma pequena garrafa de vinho branco, um cálice de cobre, sua bolsinha de moedas, um lenço, sua toalha e suas cartas de tarot. 

Com certeza chamaria muita atenção e a intenção era realmente essa. 

Saiu da barraca e seguiu para a carroça. 

Algumas pessoas já estavam de pé efetuando suas tarefas no acampamento: alguns cuidavam e alimentavam os cavalos, outros estendiam roupas, uns traziam água em baldes, outros estavam reparando alguns de seus instrumentos de trabalho, outros testando novas ferramentas, alguns foram apanhar lenha... Cada um estava se dedicando aos seus deveres. 

Najla saiu em direção à carroça para pegar sua maleta e viu que Samira já estava acordada.

-Vou trabalhar hoje. -Najla disse ao chegar na carroça. 

-Bom dia pra você também. -Samira disse, num tom sarcástico. -Não dormiu bem? Warda deu trabalho pelo jeito.

"Antes fosse a Warda." pensou Najla.

-Mafi mushkila. -Najla murmurou. -Volto ao anoitecer.

-Diga isso ao seu cavaleiro, Ayouni. -Samira riu e apontou discretamente para frente. 

Najla franziu o cenho e se virou para procurar o que quer que Samira estivesse tentando mostrar. 

Leo estava parado encostado em uma árvore, tragava fumo calmamente, olhando para o longe, perdido em pensamentos. 

-Belos olhos, aliás. -Samira comentou enquanto pegava a maleta de Najla no fundo da carroça e entregava a ela. 

Najla pegou a maleta sem olhar para Samira e foi em direção a Leo, Najla fingiu passos pesados para que ele pudesse ouví-la se aproximar e realmente funcionou. Leo virou-se para ver quem estava chegando e avistou a mulher estonteante se aproximando. 

-Bonjour, madame. 

Os olhos de Leo estavam perdidos em Najla, não podia acreditar que ela era real. Ele deu um último trago em seu cigarro e jogou a bituca fora. 

Dança da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora