Água

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O inverno mais doce de sua vida.

Talvez o mais quente, também.

Najla e Yuliy passaram pelas nevascas e tempestades venerando um ao outro dentro da caverna, onde ele satisfazia os desejos dela, onde ela se entregou de corpo e alma ao Diabo, onde o Diabo se entregou à ela, completamente devoto ao seu amor.

Najla nadou até a superfície da piscina, apoiando-se na borda, os olhos fixos em Yuliy, que estava deitado na cama, olhando para o teto.

Conforme os dias passaram, Najla passou a notar que, diferente dela, Yuliy era mais ativo à noite, se sentia mais forte e disposto ao anoitecer, assim como Najla se sentia mais ativa e disposta ao alvorecer. 

Opostos que se apaixonaram.

-Me diga, habibi... -Najla disse, Yuliy virou o rosto, encontrando os olhos dela. -Onde você aprendeu a fazer todo tipo de comida surgir?

Yuliy sorriu, divertindo-se com a curiosidade dela, se ajeitou na cama, sentou-se ereto, olhos fixos nos dela.

-O Clã da Lua era composto de energia... Bem, da Lua. -Yuliy riu, Najla franziu o cenho. -Eu, como Príncipe da Lua, o herdeiro do reino encantado, sou quem concede desejos. Quando eu era jovem os desejos eram simples e menos complexos, mas conforme eu fui avançando para me tornar mais como meu pai, o Deus das Sombras, abracei sua sombra, minha essência primordial é o escuro, a noite e todos os seres do abismo se curvam à mim. Me tornei o Diabo, apenas por carregar em minha essência a atração, a sedução e o desejo... Não é diferente da sua essência, que carrega desejos, mas diferente de mim, você sustenta estes desejos, eu apenas os realizo

Najla piscou, um pouco chocada com a explicação, Yuliy continuou:

-Sendo assim, eu sei fazer qualquer coisa surgir e se realizar. Você deseja comer? Eu farei um banquete surgir diante de você. Você deseja vestes elegantes? Que tal um novo guarda-roupas? Qualquer coisa que deseja, eu posso realizar. -Yuliy disse, um sorriso presunçoso nos lábios. -Demorei cerca de sessenta anos para aprender a realizar com maestria, desde então, cá estamos.

-Como você... -Najla hesitou, apertando os lábios. -Como você aprendeu e aprimorou seus poderes?

-Meus meios não são absolutos, se quer saber. -Yuliy ficou sério.-Eu passei por muitas provações que sinceramente não gostaria de ver você passar também... E entendo que cada semideus é diferente e aprende da maneira que precisa aprender... No meu caso, eu demorei muito, tudo que é sombrio se desenvolve na escuridão lentamente, mas como a sua essência é de fogo e luz, talvez seja mais rápido para aprimorar-se. Quando eu fiquei sozinho no mundo, passei muitos anos apenas à mercê das circunstâncias, não tinha nenhum propósito ou motivação... -O rosto de Yuliy demonstrava melancolia, uma lembrança assombrosa. -Então, quando este luto se abrandou, me uni a outros clãs, fui acolhido e aprendi através dos meios e costumes deles.

-Como despertou seu poder?

-Foi no deserto, perto do seu antigo reino. -Yuliy sorriu gloriosamente, Najla arregalou os olhos, abriu a boca para perguntar, mas Yuliy respondeu antes: -Eu estava passando um tempo com o povo que restou do seu clã quando meu pai me concedeu o despertar... Mas mesmo desperto, não estou dominando completamente minha essência, para isso acontecer, preciso de você. 

-De mim?

-Minha rainha, nosso amor e nossa paixão é mais antiga do que a própria humanidade. -Yuliy riu da expressão confusa dela. -Antes de Isidora você teve outros nomes, assim como eu também. Somos espíritos, potências muito, muito antigas. Nosso poder se complementa. Eu só estou na totalidade com você e vice-versa.

Dança da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora