A Mulher de Ouro

64 9 1
                                    

Najla acordou em uma cama, se espreguiçou lentamente, olhou ao redor, estava num quarto familiar, era seu quarto na pousada. Ela se ergueu na cama, se sentando, piscou algumas vezes, esfregou a nuca, confusa.

-Mas o quê? -Najla sussurrou, grogue de sono. 

A luz pálida da manhã entrava pela janela, ela se levantou lentamente, caminhou cautelosa até o espelho da penteadeira, estava como sempre esteve, se virou, tirando o cabelo do caminho, olhando para suas costas, a tatuagem de serpente sobre sua marca de nascença ainda estava lá, semicerrou os olhos, algo não estava certo. 

-Foi... Tudo um sonho?

-Nana, já está de pé? Está na hora de se despedir. -A voz de sinos soou na porta. 

Najla se virou rapidamente para a porta, correu até ela, escancarando-a com força, encontrando os olhos negros como a noite de Layla, ela encarou Najla, confusa. 

-O que aconteceu, Nana? 

Nos braços de Layla, a pequena menina de poucos meses de vida, cabelos castanhos, olhos castanhos, pele de bronze como Layla, balbuciava entusiasmada, abriu um sorriso, os minúsculos dentes de leite ainda nascendo. 

Najla arregalou os olhos, prendeu a respiração. 

-Ela está agitada esta manhã, já mamou... -Layla sorriu para a pequena menina. -Acho que ela entendeu você ontem, quando disse que a levaria para brincar na praça... Ela é muito inteligente. 

Najla ergueu as mãos trêmulas para segurar a criança, Layla a entregou imediatamente, a criança balbuciava alegremente nos braços de Najla, Najla tentou segurar o choro. 

-Você está bem? -Layla sussurrou. -Está pálida...

-Foi tudo um sonho... -Najla sussurrou, abraçando a criança com cuidado, o cheiro de sua pele era aconchegante. 

-Sonho? -Layla franziu o cenho. 

Najla olhou para ela. 

-Eu tive um sonho muito longo e horrível... -Najla sussurrou. -Sonhei que você e os outros...

-Não teve enjôos essa manhã? -Layla a interrompeu. 

Najla paralisou, olhando para baixo, o volume discreto estava ali em seu ventre. 

-Isso é bom, com o tempo os enjôos passam. 

Najla encarou Layla, algo não estava certo. 

Se foi um sonho, não havia como ela estar grávida, o massacre não havia acontecido, a pousada não havia sido incendiada, não tinha fugido para as cavernas com Yuliy, não teria se casado, não teria conhecido Shankar, não teria ido à cachoeira e concebido a criança ali... 

-Onde está Yuliy? -Najla olhou para a mão, o anel cintilava ali.  

-Seu marido não está aqui. -A voz de Layla distorceu, assumindo um tom grave, monstruoso, Najla estremeceu, encarando Layla, aos poucos a pousada foi ficando escura, a criança nos braços de Najla estava cinzenta, ela encarou a menina, estava morta nos braços de Najla. 

Najla segurou um grito em sua garganta, a escuridão a tomou completamente, a neve surgindo sob seus pés, as árvores secas, ela estava na floresta de Hoia novamente. 

Najla deixou o corpo da criança cair no chão, o mesmo se tornando pó. A respiração de Najla estava acelerada, o coração martelava freneticamente. Ouviu o grito que assombrava seus sonhos, o grito de Layla antes de morrer, Najla instintivamente correu em direção ao grito, se deparando com a cena, a cena que ela não viu por ter estado inconsciente quando aconteceu, a cena do caçador degolando Layla a sangue frio. 

Dança da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora