Infelicidade

654 45 15
                                    


Todos os casais têm seus altos e baixos, conhecem e reconhecem as qualidades e defeitos dos seus parceiros, ou parceiras. A convivência diária ajuda no equilíbrio emocional, não deixando a saudade machucar seus pobres corações. O toque sacia o anseio por calor da pessoa amada. Os filhos planejados (ou ao menos desejados), dão alegria a qualquer lar, criam uma união familiar (mesmo não cultivada) e fazem os pais terem algum senso de responsabilidade (às vezes não).

Mas calma aí! Os casais não iniciam quando moram juntos.

Começa nos olhares discretos, nos flertes desajeitados, nas juras de amor e promessas feitas sob a luz da lua e ao pôr do sol.

Na juventude de seus corações ainda não machucados pelo abençoado e maldito... amor.

Em algum momento em um relacionamento, você provavelmente vai reparar nos prós e contras. Vai se perguntar coisas do tipo:

Como vim parar aqui?

Isso está dando certo?

Se não, por que ainda estou aqui?

Eu ainda amo ela(e)?

E era exatamente essa última frase que se repetia na cabeça de Yeh Shuhua Soo, enquanto a mesma bebia uma taça de vinho, na esperança de ficar acordada até a chegada de sua esposa. Essa que estava mais que atrasada, pela milésima vez em menos de três meses, para o jantar em família marcado para toda sexta-feira da semana.

Era uma tradição na casa que as duas haviam criado antes mesmo de terem os dois frutos de uma relação amorosa e estável, até aquele momento. A pequena Riwon de 3 aninhos possuía o mesmo olhar, a voz delicada e o jeito desastrado da mãe taiwanesa, já a doce Yoon de 6 anos possuía a aura, criatividade, e o jeito extremamente brincalhão da mãe coreana. Ambas geradas por Shuhua que sempre quis saber a sensação de dar a luz à uma vida e zelar com todo o amor que cabia em seu peito. Isso com total participação de Soojin, que acompanhou a mulher em cada passo que dava e participou diretamente da gravidez já que seus óvulos foram usados para gerar as duas crianças, então, biologicamente e judicialmente é tão mãe das duas garotas quanto a esposa.

Porém nada disso parecia mais importar, Soojin não ligava mais para a esposa, chegava tarde, esquecia de compromissos com a família e quando tinha folga de seu trabalho de produtora e compositora, se trancafiava no estúdio de sua própria casa. As duas garotas ainda não notavam a diferença no ambiente porque a coreana podia falhar como companheira, mas nunca como mãe. Sempre interagia com as meninas no café da manhã ou quando as levava para a escola, arrancando gargalhadas gostosas das pequeninas.

A conclusão era que Soojin era uma ótima mãe, entretanto estava errando constantemente como esposa, isso há quase um ano, regado de brigas onde as duas acabavam se exaltando e a mais velha pedindo desculpa, mas nunca prometendo mudar seu comportamento.

E a única solução era o divorcio! Deixando bem claro que tudo isso (os dois últimos parágrafos) são palavras da própria Shuhua, que se preparava mentalmente para desfazer o que passou mais de 8 anos para construir.

Mas será que as queixas dela não são apenas confusões causadas pela falta de comunicação, e não pela falta de amor?

No momento em que escuta a porta do estúdio abrir, e a imagem de uma coreana aparentemente cansada aparecer, ela respira fundo para iniciar uma das conversas mais importantes de sua vida.

POV SOOJIN

— Procurei você no quarto e não estava... – Falei distraidamente enquanto deixava a bolsa em algum lugar. – Está bebendo tão tarde, aconteceu alguma coisa?

Já Te Amei?Onde histórias criam vida. Descubra agora