Capítulo 6 - Diferenças

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* O capítulo a seguir contém violência, racismo e palavras de baixo calão. Não apoiamos nenhum tipo de violência. Racismo é crime, denuncie!*

Eram 9:40 da manhã. Eu entrava na faculdade com os livros nas mãos como todo dia, mas eu não era a mesma. Eu ostentava um sorriso de canto a canto, estava muito feliz com meu namoro mas aquilo não duraria.

- Vagabunda!

Alguém gritou nas minhas costas, continuei andando pois não achei que fosse comigo. Não havia motivo pra aquilo.

- Falei com você sua macaca.

Foi quando entendi que era comigo. Me virei devagar já ouvindo uns sussurros e sorrisos. Olhei pra Sheila que era branca, cabelos loiros e provavelmente se sentia superior a mim

- Do que você me chamou?

- De macaca, vagabunda, ordinária. Quer que eu continue?

- Com que direito você fala isso?

- E com que direito você beija o namorado das outras ?

- Eu não beijei namorado de ninguém. -Falei indignada com tal acusação.

- Beijou o Julian eu vi.

Pude ouvir cada pessoa sussurrando baixinho coisas sobre mim, olhei pros lados e voltei a encarar a Sheila.

- Julian é meu namorado, estamos juntos.

- Você só pode ser maluca. Julian nunca namoraria uma empregada como você. Você sabe quem ele é? Claro que não, você acabou de sair da floresta. O Julian é filho do dono da faculdade, ele é muito rico, você acha mesmo que se envolveria com uma morta de fome quando tem a mim? Somos de mundos iguais, de classes iguais e você não é nada. É só uma negrinha favelada recém saída do subúrbio.

- Olha aqui, você não vai me ofender mais. -Falei com o choro preso na garganta. Já havia passado por situações de racismo mas aquilo já passava de todos os limites.

- Oque está acontecendo aqui? - O reitor entrava em cena como um fio de esperança.

- A empregada tava beijando o namorado da Sheila.  - disse o Rick sem conter o riso.  - Deixa elas se pegarem reitor, eu quero ver sangue.

- Ninguém vai se pegar aqui, ainda mais por um motivo tão bobo.

- Eu não beijei namorado de ninguém aqui, estamos juntos, eu e o Julian. - Eu realmente me segurava pra não chorar.

- E desde quando você e ele estão juntos? - Disse Sheila num tom provocativo.

- Já tem uns 2 meses.

- 2 meses? - Ela deu uma gargalhada alta e seca.  - Então avisa pro seu namorado que vocês estão namorando, porque ele estava na minha casa semana passada. Dormimos juntos.

Fiquei totalmente sem chão com aquela notícia, não poderia ser verdade. Julian não faria aquilo comigo.

- Mentira! Julian está comigo. Você é uma grande mentirosa. - Eu respirava fundo pra suportar tudo aquilo.

Sheila se aproximou maliciosamente de mim, como uma cobra do deserto quando quer dar o bote. Veio com um sorriso sínico e falou perto do meu ouvido em voz baixa.

- Digamos que realmente, você e Julian estejam juntos. Porque vocês nunca são vistos aqui na faculdade? Julian nunca está com você, nunca está do seu lado aqui. Eu acho que alguém tem vergonha do "Relacionamento" de vocês, querida.

Ouvir aquelas palavras foi como tomar um soco no estômago. Porque ela tinha razão. Julian nunca ficava do meu lado em público, nosso namoro de certa forma era super escondido. Ele me levava pra casa, ficávamos juntos mas ele não ficava comigo em qualquer lugar com muitas pessoas. Sempre dava desculpas, sempre se saia. Porque? Eu não tinha resposta pra aquela pergunta. Eu tinha Medo, muito medo da verdade.

- O que está acontecendo?  - A voz de Julian soou atrás de mim como um sino.

Rick se aproximou rindo como se estivesse vendo o melhor show de  Stand Up da vida.

- Cara, você tava escondendo o jogo esse tempo todo? Eu sabia que você era safado mais isso já é doença.

- Do que você tá falando? - Julian ainda estava perdido, ele me olhava e olhava ao redor tentando entender.

- Essa empregava tá dizendo que é sua namorada. Eu vi vocês se beijando.

O rosto de Julian mudou, pude ver sua pele empalidecendo mais do que já era. Julian ficou parado, não conseguia dizer nada.
Sheila se aproximou dele ficando do lado oposto ao do Rick.

- Julian, é verdade oque essa negrinha diz?

Eu olhei pra Julian, eu esperava que ele me defendesse, que dissesse algo a nosso favor. Ele havia dito que me amava na noite passada, ele estava em minha cama, havíamos compartilhado um momento único e íntimo meu. Mas a verdade doeu mais que um tiro no meu peito.

- Não. Eu não sei do que ela tá falando. - Julian abaixou a cabeça e continuou negando.

Não pude conter as Lágrimas que caiam sem misericórdia dos meus olhos.

- Como assim não? Como você pode dizer que é mentira? Julian.. estávamos juntos ontem. - falei num último ato de desespero, tentando fazer ele cair em si.

Dessa vez uma voz mais grossa que a do reitor ecoou por todo local, era o pai de Julian. Ele entrava e ouviu meu lamento bem na hora. Ele também queria saber sobre as aventuras de Julian, afinal ele era o filho do dono.

- É verdade Julian? Você está namorando essa moça?

- Não pai. Eu não conheço ela.

Senti meu mundo desmoronar, minha cabeça girava e parecia que ia explodir.
Aquele não era o cara que eu conheci no café, o que me disse que me amava, o que fizera juras de amor.
Eu estava totalmente arrasada e decepcionada num nível que nem conseguia explicar.

- Escute menina, você não é a primeira que tenta se aproveitar do meu filho. Julian, tem um futuro incrível. Ele vai me substituir em breve nas minhas empresas e eu não quero que ele perca tempo com bobagens e namoros inventados. Não confunda uma noite de prazer com namoro. Meu filho tem pretendentes a altura, não se envolveria com uma pessoa inferior.

As palavras do pai de Julian deram o xeque-mate no meu coração. Eu não falei mais nada, Julian já havia me matado por dentro. Eu dei uma última olhada pra ele e ele me retribuiu o olhar, ele estava vazio, não vi nenhum significado nele. Ele sempre teve olhos brilhantes mas naquele momento ele era como um morto vivo.
Sai dali aos prantos, foi o pior dia da minha vida. O homem que eu amava me jogou aos chacais, me deixou ser humilhada e ainda pior, me humilhou junto com eles.
Eu só queria sumir, morrer, nunca mais pisar naquela faculdade.

Julian havia me matado, ele feriu meu coração.

*CONTINUA*

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