Capítulo 12 - Fugir

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- Aqui é da polícia em que posso ajudar?

- Oi, eu tô no apartamento 102 no 15° andar na avenida principal. Um cara invadiu meu apartamento e eu atirei nele.

De repente eu não sabia como a minha vida pacata tinha se transformado naquele inferno todo. Minha cabeça estava a ponto de explodir e eu só queria dormir e não acordar mais. Eu estava absorta em meus pensamentos quando Antoni tocou meu braço com uma xícara de café nas mãos.

- Trouxe pra você.

- Obrigada! 

Eu peguei o café e não conseguia parar de pensar na cena passada. Quando Julian caiu no chão sangrando, eu não conseguia parar de tremer e chorar. Eu estava arrasada e totalmente desconectada de mim mesma.
Como que eu, uma garota comum fui me meter num problema tão grande ? Como eu iria fazer daqui pra frente?

- Ei, você tá bem? Fica calma.  - Antoni me abraçou de lado.   - Você não matou ninguém, ele está sendo avaliado e você dose defendeu. Relaxa a arma é minha eu vou assumir toda culpa.

- Você não pode fazer isso. Eu atirei, eu sou a culpada.

- Não, você não é. Ele invadiu nosso apartamento, ele tá maluco atrás de você. Foi legítima defesa, Anne.

- Isso o delegado vai dizer.

- Você tá muito tensa, eu sei. Mas eu preciso agradecer. Você salvou minha vida, obrigada.

- Eu tinha que fazer alguma coisa, eu entrei em desespero. Espero que ele não morra.

- Se ele morrer azar o dele.

- Mas eu vou me tornar assassina.

- Legítima defesa. Você é a vítima.

Eu sei que Antoni estava tentando me consolar mas eu precisava convencer o delgado da minha inocência, isso sim.

Ao chegar na sala do delegado, eu sentei e comecei a explicar tudo do começo. Desde quando conheci Julian até o momento do tiro. Ele ouviu com atenção, viu todos os boletins que eu já havia aberto contra ele e entendeu a situação.
Ele designou um policial pra ficar na porta do quarto de Julian enquanto ele se recuperava no hospital e obrigou o Antoni a pagar uma multa por ter a arma em casa sem permissão. Foi mais brando do que eu achei que seria. Ele entendeu a situação de estresse em que eu estava e que aquela seria a única solução no momento.
Julian seria preso após sua recuperação e teria que fazer tratamento psiquiátrico, ele com certeza não estava bem mentalmente e precisava muito de ajuda.
Apesar de tudo que o Julian havia feito a mim, eu sentia pena dele. Julian não era um cara ruim, ele não teve amor na sua vida. A mãe dele morreu quando ele ainda era muito pequeno e uma madrasta foi posta em seu lugar, só que ela não lhe dava amor nem ao menos lhe tratava como filho. Já o pai só se importava com o trabalho, não dava a menor atenção a ele. Julian basicamente se criou sozinho, conheceu o sexo muito cedo e acabou se envolvendo com bebidas, festas clandestinas e até coisas mais pesadas.
Por um lado eu entendia esse apego todo a mim em tão pouco tempo, eu o ouvia, eu prestava atenção nele. Cuidávamos um do outro e quando terminamos ele sentiu falta de tudo isso que até o momento só havia tido comigo. Quando eu contei tudo isso ao Antoni ele entendeu em partes o comportamento psicótico dele, mas sabia que não era totalmente justificável para tudo. Eu também concordava mas agora as coisas pareciam que iam se resolver.. será?

**

Acordei no hospital, meu braço doía e estava escuro. Olhei pros lados não havia ninguém comigo, então comecei a lembrar dos últimos acontecimentos. Anne havia atirado em mim quando entrei no seu apartamento e briguei com seu namorado. Eu não consigo aceitar o fim do nosso namoro, foi muito de repente e eu sinto a falta dela. Eu não consigo suportar, não consigo dormir, eu penso nela o tempo todo. Se ela me desse uma chance eu provaria que mudei, mas a Anne não me escuta e eu sei que a culpa é desse cara, ele mudou a cabeça dela.
A Anne, a minha Anne é doce e gentil, ela sabe que eu nunca a machucaria. Ela é uma garota incrível e eu quero ter ela de volta.
Senti algo apertando meu pulso esquerdo e era uma algema. Eu estava preso? Sério? Eu precisava sair daquele hospital mas eu sentia muita dor. Acho que perdi muito sangue porque também estou tonto.

- Oi... Tem alguém aí??

Uma enfermeira apareceu seguida de um policial.

- Enfermeira eu preciso ir no banheiro.

- Faça no penico.  - Disse o policial cruzando os braços.

- Eu não consigo, eu estou preso nessa cama. Solta a algema pra eu ir no banheiro.

- Tá me achando com cara de idiota? Faça aí ou então não faça.

Respirei fundo e pensei rapidamente no que fazer. Olhei pra enfermeira e pedi um pouco de água, quando ela saiu pra buscar eu virei pro policial.

- Seguinte, eu tenho diploma, eu nunca fui preso e tenho direitos. Eu preciso falar com meu pai, preciso falar com meu advogado e preciso ir no banheiro. Você sabe que é um direito meu fazer uma ligação.

Apelei pra minha melhor cara de atuação, eu sabia que precisava ser persuasivo ou nunca sairia dali ou pior sairia direto pra cadeia, mas eu sei um pouco de leis e sei que ele não pode me negar uma ligação.
Apesar da cara amarrada o policial abriu minha algema.

- Você tem um minuto.

- Obrigada.

Fui até o banheiro e lá dentro eu precisava pensar muito bem no que fazer. Eu vi que havia uma varanda no meu quarto, talvez eu conseguisse sair por ali, mas precisaria que o polícia saísse do meu quarto. Sai do banheiro e olhei pra varanda, não era tão alto, acho que estavamos no segundo andar. Daria pra pular, voltei pra cama e fiz a minha ligação pro meu advogado. Em seguida liguei por meu pai que pra variar não atendeu mais deixei recado assim mesmo.
Pedi pra não recolocar as algemas, meus pulsos estavam inchados e não conseguiria ficar sem sentir dor ou incômodo.
Depois que a enfermeira trouxe minha água ele deixou a porta encostada, acho que me subestimaram demais. Esperei uns minutos pra garantir que minguem iria entrar, fui até a varanda e tinha uma pequena tela, foi fácil de cortar, assim o fiz e me pendurei no parapeito, consegui descer sem muitas dificuldades apesar de sentir dor no braço. Sai correndo pelos fundos do hospital sem que me vissem, eu precisava ser rápido e pensar muito bem nos meus próximos passos pois seriam decisivos pra mim.

**

- Alô?

- Anne ? Aqui é o delegado responsável pelo seu caso, sinto informar mais Julian sumiu.

- O QUE ?? COMO ASSIM SUMIU?

- Ele fugiu pela janela, acredito que num descuido.

- Meu Deus e agora?

- Estamos procurando ele.

- Oque aconteceu amor?  - Disse Antoni ao ver minha cara de espanto.

- Julian fugiu do hospital.

- Sério, agora eu mesmo mato ele. Basta ele se aproximar de você.

Olhei pra Antoni e pela primeira vez concordei com essa história, talvez esse fosse o único modo de me livrar de Julian, ou ele ainda teria salvação?

*CONTINUA*

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