capítulo 8 - Antoni

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É incrível como o tempo passa, como decisões idiotas tornam-se ainda mais idiotas com o passar do tempo.
Depois daquele confronto com Anne voltei ao café outras vezes, ela não me atendeu. Até o dia que eu voltei e ela não trabalhava mais lá. Ninguém soube dizer pra onde ela havia ido, ou talvez ela só tenha deixado claro que não queria que eu soubesse. O fato é que Anne sumiu.
E todos os dias eu acordava com aquele sabor amargo na boca, o sabor que se sente quando você se acovarda diante de uma situação ruim, sobre algo que você poderia ter evitado e não fez nada.
Quando você se omite diante de uma mentira, você se torna cúmplice. Eu não conseguia me perdoar.

O tempo foi passando, Anne não apareceu mais na faculdade. Eu não achei que sentiria tanto a falta dela como senti esses meses. Doeu, eu parecia um fantasma, eu não me aproximei de Sheila ou de qualquer outra garota. As vezes, eu ia até o café tentar achar alguma informação mas não consegui, ninguém dizia nada.

Mas a vida, realmente é incrível. Uma vez eu  vi uma frase que dizia assim.
Nada é destino, tudo é coincidência. Se você acha que não, dê uma oportunidade a você e verá que tudo é uma questão de estar na hora e no lugar certos.
E foi numa coincidência dessas que eu entrei com meu pai e minha madrasta num restaurante perto do trabalho do meu pai, confesso que não queria ir mas assim que entrei dei de cara com ela. Anne estava sentada em uma das mesas, perto da janela. Tão linda, sorridente. Parecia uma princesa. Eu sentei perto do meu pai e da minha madrasta e fiquei lá admirando Anne.
Eu havia decidido ir falar com ela, quando um cara se aproximou da mesa e a beijou. Ele beijou ela, beijou minha Anne.
Dei um soco na mesa de ódio.

- Julian.. oque é isso? - Meu pai perguntou com o susto.

- Nada pai, não é nada.  - tentei conter a raiva e os olhares.

Eles estavam felizes. Estavam se beijando. Como assim? Eu passei meses sofrendo e ela estava com outro. Como ela pode? Eu estava muito irritado. Eu tinha que falar com ela.

**

Depois que Julian foi na cafeteria, eu não queria mais vê-lo. Eu chorei muito, por dias. Me sentia péssima. Tranquei a faculdade pra  não perder o semestre. Todas as vezes que Julian aparecia no café eu me escondia, eu não queria ouvi-lo, ele era um covarde, eu não queria saber de nada dele.
Um dia voltando pra casa já um pouco tarde dois caras me abordaram na rua e me roubaram. Eu corri mas eles me alcançaram e quando iam me bater um homem me defendeu. Ele me levou até em casa e foi muito gentil comigo. Depois desse dia, todos os dias ele me levava pra casa, até o dia em que confessou estar apaixonado por mim. Eu não quis dar uma chance no começo, eu tinha medo. Mas ele me mostrou que o amor tem seu lado bom, seu lado generoso. Então começamos a namorar. No começo foi difícil, ele era branco como Julian e o medo daquilo se repetir me atingiu como uma flecha. Mas Antoni era diferente, ele era um cara muito bom. Tinha seu próprio negócio e era muito gentil comigo.
Um dia perguntou se eu queria morar com ele, eu aceitei e fomos morar juntos, eu saí do café naquele dia. Ele disse que nós teríamos um futuro juntos.
Eu amava estar com ele. Então nesse dia, fomos ao seu restaurante favorito, Antoni me chamava sempre pra ir lá e nesse dia, justo nesse dia fomos.
Eu estava feliz e sorrindo era um dia perfeito, até que eu olho pro lado e lá está ele, me encarando como um fantasma.
Julian me olhava como um ar meio sinistro, parecia chateado comigo.  Tentei ignorar, não queria que Antoni percebesse mesmo assim ele notou que eu estava nervosa.

- Tá tudo bem amor? Você parece tensa.

- Eu tô bem, só tô um pouco cansada.

- Quer ir pra casa?

- Não. Hoje vamos nos divertir aqui como você quer. - alisei a mão de Antoni tentando ignorar a existência de Julian.

Seguimos o jantar e eu tentei ao máximo parecer normal. Antoni não percebeu mais nada, pagamos a conta e me levantei indo em direção a porta.
Quando Antoni foi pegar o carro, senti uma mão me puxando pro canto do restaurante

- Você tá maluco?

- Eu não acredito que é você.  - Julian parecia alucinado em me ver. Me deu um abraço apertado e suspirou.  - Graças a Deus achei você. Eu te procurei tanto. Eu preciso me desculpa Anne.

- Isso tá no passado Julian, esqueça. Viva o presente.

- Eu não posso. Eu percebi, só depois que você foi embora que eu não tenho presente nem futuro sem você.

Eu arregalei os olhos e procurei por Antoni, eu sabia que ele iria se irritar se visse o Julian aqui comigo. Eu já havia contado sobre o meu passado com ele e só de contar Antoni prometeu dar uma surra no Julian se o visse algum dia. Eu nunca me importei porque achei que não encontraria mais com Julian, mas ali estava ele na minha frente. Eu não sabia o que fazer.

- Julian, por favor. Não faça isso, eu tô com outra pessoa agora.

- Não posso negar que eu amo você.

- Julian.. - Vejo o Antoni vindo, respiro fundo.  - Tudo bem, vamos conversar. Eu te ligo.

- Eu vou esperar.

Quando Julian se foi, pude respirar aliviada. Fui até Antoni e fomos pra casa.
Eu tinha que falar com Julian, meu passado voltou mais cedo que eu poderia esperar.

*CONTINUA*

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