Capítulo 10 - Sombras

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Fazia uma semana desde que havia falado com Julian naquele parque, não o vi mais depois do nosso encontro. Pensei muito no que ele havia me contado sobre seu pai e todas as vezes que lembrava das suas palavras meu estômago revirava. Como em pleno 2022 ainda exista pessoas como ele? É inaceitável Julian ser conivente com isso.
Decidi seguir minha vida e esquecer esse pedaço ruim da história, seria melhor pra mim no entanto não seria tão fácil assim.
Eu ajudava Antoni com a contabilidade da loja dele, ele tinha uma loja de ferramentas e material de construção no centro da cidade e eu trabalhava em casa mesmo, mandava as notas fiscais, fazia o fechamento do balanço, pagamentos, tudo era comigo. Eu adorava esse trabalho além de ser em casa eu não tinha chefe então era perfeito.

Quando Antoni saiu na manhã daquela segunda feira chuvosa, eu permaneci na cama, o clima estava ótimo pra dormir mais um pouco e assim o fiz. Continue deitada, meio sonolenta e entre um cochilo e outro vi uma sombra de pé na porta, tomei um susto e olhei melhor. A sombra havia sumido.
Olhei em volta e não vi mais nada.

- Nossa. Que susto, melhor levantar de vez.

Levantei, tomei um banho quente, vesti meu agasalho já que lá fora fazia uns 8 graus apenas,  preparei um xícara de café e fui pra frente do computador. De repente tive uma sensação estranha, de que estava sendo observada. Levantei os olhos da tela e não vi ninguém. A casa estava silenciosa e quieta, eu estava sozinha e aquela sensação de Pânico foi tomando conta de mim.
Tranquei tudo e fui pro quarto, fechei a porta e fiquei debaixo das cobertas, com o notebook nas pernas fazendo meu trabalho.
Uns 20 minutos depois, ouvi uma pancada vinda do andar de baixo. Dei um pulo da cama e corri até a porta, achei que algum bandido havia invadido a casa porém mais nenhum outro barulho soou.
Abri a porta devagar e pude ouvir uma respiração rápida e curta, pode parecer loucura mas eu sabia que aquela respiração era de Julian.

- Oi? Tem alguém aí?

Mesmo com medo me aproximei do corrimão da escada, olhei pra baixo e não vi ninguém. Olhei em direção a cozinha e pude ver uma sombra passando. Coloquei a mão na boca e corri de volta pro quarto, liguei desesperada pra Antoni.

- Amor.. me ajuda.

- Oque foi?

- Tem alguém aqui em casa, eu não sei quem é mais tá aqui na cozinha.

Rapidamente Antoni correu pra casa enquanto eu chamava a polícia. Permaneci trancada no quarto até que pude ouvir a voz de Antoni vindo do piso inferior.

- Anne? Amor? Cadê você?

Abri a porta e corri até ele o abraçando.

- Eu estava tão assustada.

- onde ele estava?

- Na cozinha.

Antoni foi até lá mas tudo estava no seu devido lugar, não havia nada nem um rastro de que alguém havia estado alô além de mim.

- Tem certeza que foi aqui?

- Tenho sim. Eu ouvi um barulho alto eu olhei da escada e vi uma sombra passando.

- Então vamos esperar a polícia.

Eu abracei Antoni tão forte, meu coração estava quase saindo pela boca. Quando a polícia chegou, fez uma busca e também não encontrou nada, fizeram algumas perguntas bestas como "Você ingeriu bebida alcoólica?" Ou " Você estava sobre efeito de algum remédio ou entorpecente?".
A polícia tem essa mania de chamar um negro de mentiroso, alcoólatra ou drogado. Mas eu não estava em nenhum dessas situações, eu estava assustada e com medo do que havia acontecido mas para a polícia estava tudo em ordem. 
Pedi pra Antoni ficar em casa comigo o resto do dia e ele o fez. A noite reforçamos as trancas das portas e janelas, nada mais poderia entrar na casa.
Por volta das 22:30 decidimos ir dormir, eu estava deitada com a cabeça virada pra porta, acordei e olhei pro relógio ao meu lado, marcava 1:45 da manhã, virei meu rosto pra cima em direção ao teto e foi quando senti uma respiração quente em cima de mim. Eu achei que era Antoni então permaneci naquela mesma posição por mais uns segundos.
Senti um toque suave nos meus lábios e os dedos deslizando sobre meu pescoço, de repente senti um aperto, abri os olhos e uma sombra negra apertava meu pescoço com tanta força que eu não conseguia respirar ou gritar. Tentei empurrar mais ele ou aquilo era forte demais, comecei a me debater e num impulso consegui empurrar aquela coisa de cima de mim dando um grito alto seguido por um choro continuo.

Antoni acordou assustado, acendeu a luz do abajur e me olhou com os olhos arregalados.

- Amor? Oque foi?

- Ele tá aqui.  - Falei em prantos.

Antoni prontamente correu e acendeu a luz do quarto, mas nada havia ali além de nós dois.

- Amor não tem ninguém Aqui.  - Antoni olhou em baixo da cama, no banheiro, no corredor. Não havia ninguém, como aquilo era possível?

- Eu juro, ele tava aqui.

- Talvez você tenha sonhado.

- Isso não é foi sonho.  - Virei o pescoço pra que Antoni visse a marca nele, ele olhou abismado.

- Minha nossa. Eu vou chamar a polícia.  - E mais uma vez Antoni foi chamar a polícia, eles chegaram cerca de 30 minutos depois.

Mas uma vez a polícia procurou e não viu nada , nada foi encontrado e nada foi visto.
Começaram a achar estranho essa suposta sombra e decidiram fazer várias perguntas a Antoni. Não sei se estavam desconfiados dele ou de mim. Mas o interrogaram por uns 20 minutos, fizeram várias perguntas e depois foram embora sem nenhum resultado.

Eu passei o resto da noite em claro, não conseguia mais dormir. Antoni tentou me levar pro quarto, mas eu me recusei, fiquei na sala, com todas as luzes acesas. Estava apavorada, minha garganta doía muito, meu pescoço queimava, eu chorava e chorava de medo e de insegurança.
Passamos a noite na sala, ele não quis sair do meu lado, tinha medo que algo acontecesse.

No dia seguinte, logo pela manhã, fui comprar um alarme e instalamos câmeras do lado de fora e de dentro da casa, era o único modo de saber oque estava acontecendo comigo. Antoni passou a amanhã instalando os equipamentos e a tarde precisou ir na loja.
Eu fiquei em casa, estava com o coração na boca e muito apavorada, mas estava confiando nos equipamentos de segurança. Como havia passado a noite no sofá sem dormir acabei ficando muito cansada. Fechei os olhos por alguns segundos e apaguei.

Sem perceber nenhum movimento estranho, nenhum alarme foi disparado. Mas alguma coisa estava ali, comigo, naquela sala. Um voz se aproximou de mim e sussurrou no meu ouvido. Abri os olhos e pude ver, ele estava ali.

*CONTINUA*

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